por Convidado ,
*por Malco Camargos
Uma frase que marcou para sempre o mundo das estratégias das campanhas eleitorais começa a soar cada vez mais alta aqui no Brasil. Em 1992, quando Jorge Bush destacava seus feitos em guerras internacionais e valorizava a soberania conquistada, Bill Clinton aumentava seu favoritismo à medida que os americanos avaliavam a crise econômica, o medo da inflação e a dificuldade de comprar imóveis. Nesse contexto o mote da eleição foi dado por James Carville, responsável pelo marketing na campanha de Clinton – “É a economia, estúpido”.
James Carville foi o criador da frase mas não foi responsável por mostrar o peso da economia na escolha dos eleitores. Diversos autores, em diferentes universidades no mundo, vêm comprovando e refinando a teoria do impacto da percepção da situação econômica sobre a decisão de voto. O cálculo é simples e pode ser resumido em uma única frase – se a economia vai bem o eleitor vota no candidato governista e se a economia vai mal, busca um nome na oposição.
Para falar de economia uma distinção básica deve ser feita – o que podemos entender por macroeconomia e microeconomia. O cenário macroeconômico aborda questões da economia doméstica e internacional com ênfase nas perspectivas de crescimento, política monetária e fiscal – a macroeconomia mensura o desempenho da economia em um país, sua capacidade de produzir crescimento e sua política econômica internacional. Uma área valorizada por economistas e agentes econômicos e, em geral, relevada pelos cidadãos. Já a microeconomia vai ter foco no comportamento e nas escolhas das pessoas na economia e também na relação entre o capital e o trabalho que podem gerar diferenças salariais entre grupos da sociedade (homens e mulheres, brancos e negros, etc…) e as motivações das decisões dos consumidores.
Entre estes dois cenários, o macro e o micro, deve-se considerar também a percepção das pessoas. Nenhum indicador macroeconômico tem peso maior do que a constatação do desempenho econômico a partir da experiência do consumidor/cidadão/eleitor. É na hora de ir ao supermercado, à farmácia ou mesmo ao bar que o cidadão faz sua avaliação da economia; isto somado com a possibilidade ou não de sair para trabalhar e ter uma remuneração digna formam o pensamento econômico que vai moldar o voto do eleitor quando ele estiver em frente à urna. Nesse sentido, em algumas situações, economistas e alguns especialistas valorizam a ação de determinado governo na condução da política econômica, mas os cidadãos não percebem melhoria na sua qualidade de vida e optam por outra alternativa que não a recondução do grupo que governa ao poder.
No Brasil, em 2022, o presidente Bolsonaro vai tentar valorizar seus feitos econômicos: enxugamento da máquina, privatizações, distribuição de dividendos, balança comercial e busca da solidez nas contas públicas. Mas nada disso é mais significativo do que a sensação de que o salário conquistado – quando isso é possível – não dura até o final do mês para a maior parte dos brasileiros e que vários itens básicos não são incluídos na cesta de compras por falta de dinheiro.
Não há retórica econômica que mude a percepção de que Bolsonaro não produziu melhoras na vida dos brasileiros. À revelia do que dizem alguns economistas, nenhum indicador significa mais que a própria experiência diante de uma realidade cada vez mais dura para milhões de brasileiros. Realidade esta que faz com que o eleitor tenha saudade de um tempo em que podia viver bem o presente e sonhar com o futuro – duas coisas que lhe foram tiradas nos últimos tempos.
*Malco Camargos é Doutor em Ciência Política, diretor do Instituto Ver Pesquisa e Estratégia e professor da PUC Minas.