O interfone de minha casa foi acionado por duas vezes, quase que sem intervalo entre uma chamada e outra, denotando uma certa ansiedade de quem estava no portão. Era Dona Penha, de Cachoeiro do Itapemirim, nossa vizinha de duas décadas. Ela veio nos trazer uma notícia que entristeceu a nossa tarde de terça-feira, 31 de julho. Tratava-se do falecimento da senhora Affonsina Patto Gomes, ou simplesmente e carinhosamente chamada de Dona Cicinha, que estava com 94 anos de idade. Ela veio a óbito no entardecer do domingo anterior, 29/07, 11 anos após a partida de seu marido, o senhor Sebastião Barroso Gomes. O casal teve seis filhos, sendo três meninas conhecidas como as três Marias – Cristina, Tereza e Antonieta – e três meninos – Eurico, Eduardo e Hermínio – que lhes deram 15 netos e 14 bisnetos.
Dona Cicinha morou no bairro de Santa Tereza durante 55 anos, dos quais 44 foram na Rua Capitão Procópio a partir de Janeiro de 1963 e os outros 11 na Rua Azurita, após o falecimento do Senhor Barroso. Mesmo sabedor da finitude da vida para cada um de nós, não dá para esconder a surpresa e a tristeza que a notícia trouxe para a minha família e os nossos amigos que com ela conviveram. Vieram à mente saudosas lembranças. Grande amiga e o também amigo senhor Barroso com os quais convivemos nos últimos 10 anos em que moraram na Rua Capitão Procópio, mais precisamente de 1997 a 2007. Não é todo dia que temos a graça de encontrar vizinhos tão bons, de fácil convívio e muito solidários. Dona Cicinha e seu marido eram apaixonados torcedores do Galo (Atlético), mas sempre tiveram um ótimo convívio com os torcedores do Coelho (América) como eu e o Carlos, genro deles casado com a primeira Maria, a Cristina. Dona Cicinha adorava música, as plantas muito bem cuidadas de seu jardim, cozinhava muito bem, sempre nos brindou com um delicioso café em sua casa. Nunca deixou de ter um olhar para o lado social e até pouco tempo atrás era uma exímia costureira em seu trabalho voluntário num grupo do Lions Clube.
Eu poderia narrar aqui muito mais coisas sobre ela e o também criativo senhor Barroso, mas o intuito aqui nesse pequeno espaço é registrar e render uma homenagem à dona Cicinha pelo conjunto de sua obra em vida. Ficará sempre a saudade de uma grande mineira que nasceu em Ribeirão Vermelho, veio para Belo Horizonte aos 7 anos para morar na Rua Salinas, no Bairro da Floresta, foi para Tumiritinga após se casar em 1947, voltou a Belo Horizonte em 1958 para morar novamente no Floresta e finalmente chegar a Santa Tereza em 1963, no bairro onde um dia tive a honra de conhecê-la.
Entendo que dona Cicinha apenas partiu antes de nós, mas tornou-se uma reluzente estrela nos céus de Santa Tereza, que nos faz lembrar dela sempre com muitas saudades.