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“Estamos vivendo um momento histórico. Desde o Cinema Novo, a produção nacional não tinha tanta exposição e representatividade internacional como agora”, afirma a coordenadora das mostras de cinema de Tiradentes, Ouro Preto e Belo Horizonte, Raquel Hallak.
Para a produtora, a fase frutífera da produção nacional é resultado de 20 anos ininterruptos de investimentos e descentralização de políticas públicas no setor audiovisual. A presença de “Democracia em Vertigem” no Oscar é comemorada por ela. “Só vejo com bons olhos. Não só para o filme em si, mas para a produção nacional”, diz Hallak.
O documentarista Silvio Tendler também vê a presença do filme da mineira Petra Costa na premiação como um reflexo da efervescente produção atual brasileira. Ele diz que estar entre os cinco selecionados para o Oscar já é uma vitória muito importante para o Brasil. “Fico muito feliz, me sinto representado”, ele comenta.
O realizador destaca outro ponto positivo: o fato de ser um filme de não ficção. Tendler diz que, por parte do cinema brasileiro, sempre houve pouco interesse em participar de competições de documentários.
“Essa é uma batalha pessoal da Petra, no sentido de se colocar no circuito internacional”, ressalta. Sobre a possibilidade de “Democracia em Vertigem” conquistar a estatueta pela primeira vez na história cinematográfica brasileira, o diretor é direto: “Só não tem chance quem não concorre. Se partirmos do princípio que essas premiações são um jogo de cartas marcadas, não vamos concorrer a nada”.
Internacional
O jornalista e crítico de cinema Marcelo Miranda pondera acerca da presença do documentário no Oscar. Para ele, a Academia não está muito interessada no cinema brasileiro, “assim como não está em nenhum outro que não seja falado em língua inglesa”, salvo exceções, ou fenômenos, segundo Miranda, como “Roma” e “Parasita”.
Entretanto, ele também acredita que a presença do documentário na premiação seja o retrato de um momento representado pela recente produção no país e, sobretudo, o que ela despertou nos grandes mercados do cinema.
“Vi uma internacionalização muito intensa do cinema brasileiro nos últimos anos”, diz. “Enxergo a indicação como uma continuidade de um bom momento do audiovisual nacional”, finaliza o crítico.
Política cultural: cenário incerto é contraste
Se a indicação de “Democracia em Vertigem” é um dos indicativos do potencial cinematográfico que há no Brasil, ela chega em um momento em que pairam dúvidas sobre o setor da cultura no país, agora capitaneado pela atriz Regina Duarte. A produtora Raquel Hallak está temerosa quanto ao futuro na área audiovisual brasileira.
Segundo ela, o ano de 2019 foi bastante caótico para a produção nacional, uma indústria que gera cerca de 300 mil empregos no país, e há um cenário incerto de descontinuidade das políticas culturais que vinham sendo aplicadas nos anos anteriores. “A classe tem que se unir e procurar nossos representantes nos municípios, no Estado e no âmbito federal”, diz Raquel.
Para o documentarista Silvio Tendler, é fundamental que o audiovisual brasileiro esteja representado por “Democracia em Vertigem” no Oscar. Isso, segundo ele, deve ser visto como uma possibilidade de fortalecimento da produção nacional em um momento que ele classifica como delicado. “A arte e a cultura brasileira nunca estiveram tão garroteadas quanto agora. Nem na época da ditadura era assim”, diz o diretor de “Jango”, exitosa produção de 1984.
O jornalista e crítico de cinema Marcelo Miranda acredita que o audiovisual brasileiro enfrenta obstáculos que não condizem com o reconhecimento internacional dos novos tempos. “A ironia é que nosso cinema está sendo paralisado e atacado dentro do próprio país”, observa. (BM)
Brasil no Oscar: algumas histórias
O primeiro longa nacional a ser indicado ao Oscar foi “O Pagador de Promessas”, de Anselmo Duarte, em 1963, na categoria melhor filme estrangeiro. "O Quatrilho", em 1996, “Central do Brasil”, em 199, também representou o país nessa categoria. Pela atuação, Fernanda Montenegro concorreu à estatueta de Melhor Atriz. Já “Cidade de Deus”, em 2004, brigou pelo prêmio em quatro frentes: melhor diretor, melhor roteiro adaptado, melhor edição e melhor fotografia. (BM)
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“Estamos vivendo um momento histórico. Desde o Cinema Novo, a produção nacional não tinha tanta exposição e representatividade internacional como agora”, afirma a coordenadora das mostras de cinema de Tiradentes, Ouro Preto e Belo Horizonte, Raquel Hallak.
Para a produtora, a fase frutífera da produção nacional é resultado de 20 anos ininterruptos de investimentos e descentralização de políticas públicas no setor audiovisual. A presença de “Democracia em Vertigem” no Oscar é comemorada por ela. “Só vejo com bons olhos. Não só para o filme em si, mas para a produção nacional”, diz Hallak.
O documentarista Silvio Tendler também vê a presença do filme da mineira Petra Costa na premiação como um reflexo da efervescente produção atual brasileira. Ele diz que estar entre os cinco selecionados para o Oscar já é uma vitória muito importante para o Brasil. “Fico muito feliz, me sinto representado”, ele comenta.
O realizador destaca outro ponto positivo: o fato de ser um filme de não ficção. Tendler diz que, por parte do cinema brasileiro, sempre houve pouco interesse em participar de competições de documentários.
“Essa é uma batalha pessoal da Petra, no sentido de se colocar no circuito internacional”, ressalta. Sobre a possibilidade de “Democracia em Vertigem” conquistar a estatueta pela primeira vez na história cinematográfica brasileira, o diretor é direto: “Só não tem chance quem não concorre. Se partirmos do princípio que essas premiações são um jogo de cartas marcadas, não vamos concorrer a nada”.
Internacional
O jornalista e crítico de cinema Marcelo Miranda pondera acerca da presença do documentário no Oscar. Para ele, a Academia não está muito interessada no cinema brasileiro, “assim como não está em nenhum outro que não seja falado em língua inglesa”, salvo exceções, ou fenômenos, segundo Miranda, como “Roma” e “Parasita”.
Entretanto, ele também acredita que a presença do documentário na premiação seja o retrato de um momento representado pela recente produção no país e, sobretudo, o que ela despertou nos grandes mercados do cinema.
“Vi uma internacionalização muito intensa do cinema brasileiro nos últimos anos”, diz. “Enxergo a indicação como uma continuidade de um bom momento do audiovisual nacional”, finaliza o crítico.
Política cultural: cenário incerto é contraste
Se a indicação de “Democracia em Vertigem” é um dos indicativos do potencial cinematográfico que há no Brasil, ela chega em um momento em que pairam dúvidas sobre o setor da cultura no país, agora capitaneado pela atriz Regina Duarte. A produtora Raquel Hallak está temerosa quanto ao futuro na área audiovisual brasileira.
Segundo ela, o ano de 2019 foi bastante caótico para a produção nacional, uma indústria que gera cerca de 300 mil empregos no país, e há um cenário incerto de descontinuidade das políticas culturais que vinham sendo aplicadas nos anos anteriores. “A classe tem que se unir e procurar nossos representantes nos municípios, no Estado e no âmbito federal”, diz Raquel.
Para o documentarista Silvio Tendler, é fundamental que o audiovisual brasileiro esteja representado por “Democracia em Vertigem” no Oscar. Isso, segundo ele, deve ser visto como uma possibilidade de fortalecimento da produção nacional em um momento que ele classifica como delicado. “A arte e a cultura brasileira nunca estiveram tão garroteadas quanto agora. Nem na época da ditadura era assim”, diz o diretor de “Jango”, exitosa produção de 1984.
O jornalista e crítico de cinema Marcelo Miranda acredita que o audiovisual brasileiro enfrenta obstáculos que não condizem com o reconhecimento internacional dos novos tempos. “A ironia é que nosso cinema está sendo paralisado e atacado dentro do próprio país”, observa. (BM)
Brasil no Oscar: algumas histórias
O primeiro longa nacional a ser indicado ao Oscar foi “O Pagador de Promessas”, de Anselmo Duarte, em 1963, na categoria melhor filme estrangeiro. "O Quatrilho", em 1996, “Central do Brasil”, em 199, também representou o país nessa categoria. Pela atuação, Fernanda Montenegro concorreu à estatueta de Melhor Atriz. Já “Cidade de Deus”, em 2004, brigou pelo prêmio em quatro frentes: melhor diretor, melhor roteiro adaptado, melhor edição e melhor fotografia. (BM)