Os espectadores puderam conferir obras sensíveis, dramáticas e divertidas
Para além da hegemonia dos filmes de super-heróis, dos blockbusters de outra natureza e da onda (instigante) de filmes de terror, o ano de 2018 produziu uma série de títulos que se elevam no panorama geral. No Brasil e no mundo, os espectadores puderam conferir obras sensíveis, dramáticas, divertidas e, eventualmente, contundentes. Confira a lista dos melhores.
‘Em Chamas’
O cinema coreano traz ao mundo algumas obras intensas e perturbadoras ao apresentar a natureza humana de forma bem crua. “Em Chamas” é um suspense de Lee Chang Dong, baseado na obra de Haruki Murakami, que acompanha o relacionamento entre três amigos: Jong-Soo, Hae-Mi e Ben. O longa mostra o cotidiano e as personalidades de cada um, além da realidade econômica e do ambiente familiar em que cada um cresceu. Dessa forma, ele aproxima o espectador e o leva, assim como os personagens, a experimentar uma sensação de paranoia, desconfianças e incertezas que permeiam o roteiro.
‘Infiltrado na Klan’
Spike Lee volta às suas origens e aborda um tema sério e denso, mas de forma leve, divertida e muito consciente. “Infiltrado na Klan” é um daqueles filmes que faz aflorar os mais diversos sentimentos na plateia. Ele provoca risadas para, no segundo seguinte, nos fazer chorar. Na trama, um policial negro faz contato telefônico com um diretor da Ku Klux Klan, fingindo ser simpatizante do grupo. Quando é convidado para uma reunião da Klan, um policial branco assume sua identidade, e ambos iniciam uma investigação das ações do grupo.
‘Arábia’
“Arábia” é um filme que se passa em Minas, mas contém o mundo inteiro. Dirigido por Affonso Uchôa e João Dumans, o longa começa em Ouro Preto e passa por Contagem, contrastando paisagens rurais com os galpões industriais nas histórias vividas pelos dois protagonistas: André e Cristiano. “Arábia” é ousado na narrativa e na forma e traz duas histórias que se passam em épocas distintas. André é um garoto que tem de lidar com uma rotina familiar nada simples. Quando ele encontra o diário antigo na casa de um metalúrgico, abre espaço para a chegada de um novo protagonista e um novo enredo.
‘A Favorita’
O trio de damas formado por Olivia Colman, Rachel Weisz e Emma Stone está certeiro nessa comédia de costumes do diretor Yórgos Lánthimos. Olivia é a rainha Ana, retratada como uma jovem que adora os privilégios do poder, mas não suporta suas obrigações como chefe da nação. O filme mostra, com humor ácido, as mazelas da corte britânica a partir do relacionamento da rainha com a Duquesa de Marlborough (Weisz), sua conselheira e amante, e a criada novata Abigail (Stone), que chega para bagunçar essa configuração. “A Favorita” junta a graça dos filmes de época e o fascínio da realeza com o peculiar humor britânico.
‘Roma’
O cineasta mexicano Alfonso Cuarón foi buscar na sua infância a inspiração para uma história que reconstrói a formação da sociedade contemporânea no México. Ao focar a vida de uma empregada doméstica e seu trabalho na casa de uma família de classe média, Cuarón repassa os acontecimentos importantes do México nos anos 70. A casa da família é uma réplica da casa em que Cuarón passou sua infância, e Cleo, a protagonista, é inspirada na moça que lá trabalhava. A fotografia do filme é excepcional, e a história é contada sob o olhar sempre atento e o jeito sem pressa de Cleo.
‘O Beijo no Asfalto’
Nelson Rodrigues escreveu peças para o teatro, e muitas delas foram adaptadas para o cinema e para a televisão. No entanto, reproduzir os cenários criados e descritos pelo dramaturgo em suas obras não é tarefa simples. Murilo Benício, em sua estreia como diretor, optou por montar um teatro na tela do cinema para sua leitura de “O Beijo no Asfalto”. Ao documentar os bastidores da criação de seu filme, como a mesa de leitura do roteiro, os ensaios, a preparação de seu elenco – que conta com Fernanda Montenegro, Débora Falabella e Othon Bastos, entre outros –, Benício homenageia os atores e mostra ao espectador um filme no mínimo inusitado.
‘Você Nunca Esteve Realmente Aqui’
Joaquin Phoenix não poderia ter encarnado melhor o protagonista criado pela roteirista e diretora Lynne Ramsay. Num ano em que os filmes de suspense mereceram destaque, “Você Nunca Esteve Realmente Aqui” é um dos grandes representantes do gênero. Lynne apresenta Joe, um matador de aluguel, cruel com suas vítimas. O espectador recebe essa informação ao observar Joe, magistralmente construído por Phoenix, capaz de cobrir algumas fraquezas do roteiro da escocesa. Lynne tem domínio da narrativa, sim, mas há momentos em que o espectador pode até pensar em olhar para o relógio para ver se ainda falta muito para o fim. Porém, Phoenix aparece, e é impossível desgrudar os olhos da tela.
‘Tully’
Após “Juno”, a roteirista Diablo Cody e o diretor Jason Reitman voltam a acertar a parceria com este filme que conta com Charlize Theron como protagonista. Novamente, a dupla traz um filme sem roteiro mirabolante nem trama complexa, mas com situações que fogem do lugar-comum. Apesar da temática forte e séria, dá para perceber que a dupla se diverte ao fazer cinema, e os envolvidos são pop e modernos. Charlize vive Marlo, uma mãe de três crianças pequenas que não aparenta ter na maternidade a realização de sua vida. Quando a babá Tully aparece em sua vida, as duas criam uma relação de sororidade que vai além do apoio com as crianças.