Kevin Adweko tinha sua chegada prevista em  Belo Horizonte em 2017, para participar de um filme que celebraria a sua amizade de longa data com a cineasta mineira Joana Oliveira. Por esses caminhos tortuosos do destino, a ugandense pôs os pés na capital mineira em 27 de outubro, pouco antes das eleições presidenciais, agora para ver a obra pronta na tela do cinema Belas Artes.


, celebram um encontro ocorrido por acaso numa sala de aula na Alemanha, há 23 anos, e brincam sobre a possibilidade de passar por bloqueios na estrada durante viagem rodoviário rumo ao Rio de Janeiro.
 
A espera para visitar o país natal de Joana valeu a pena. “Experienciei um momento muito especial do Brasil. Senti que era  algo que não acontecia sempre, uma fase importante para existência como país”, assinala Kevin, cujo nome dá título ao filme em cartaz nos cinemas. Em 2017, a situação política no Brasil era bem outra, com Michel Temer ocupando o lugar da afastada Dilma Rousseff.
 
Naquela época, Joana tinha conseguido parte dos recursos para trazer Kevin, mas a amiga tinha saído da Alemanha e voltado para a terra natal. Mais: era mãe de três filhos pequenos, o que tornava inviável a sua vinda para BH. O filme fez o caminho inverso e foi atrás de Kevin na África, num reencontro que não deixa dúvidas sobre a importância de uma grande amizade.
 
“É um filme sobre pessoas totalmente diferentes que, juntas, dividem a vida”, destaca a realizadora, que assinala ainda o lado feminista do longa, “que defende a amizade entre mulheres, algo tão pouco levado para telas”.  O filme está longe de ser um documentário clássico, inserindo elementos ficcionais ao encenar alguns diálogos para a câmera.


Para Kevin, no entanto, o processo “não foi tão diferente de um documentário mais tradicional”, lembrando que as cenas refletiam conversas que já tinham sido feitas ou que, pela personalidade delas, poderiam  acontecer. “Não tive que me transformar em outra pessoa”, frisa. O que não quer dizer que foi mais fácil: “Algumas conversas foram muito difíceis de trazer para a câmera”.


Ela confessa que a sensação de se ver num longa-metragem ainda lhe perturba. “É muito estranho se ver e se ouvir numa tela grande. Mas também é uma ótima maneira de manter uma memória. Nós nunca mais seremos a mesma pessoa de quando gravamos. De um jeito especial, passa a ser uma memória documentada”, analisa.