Baseado na peça homônima, filme “Minha Vida em Marte” acompanha personagem criada por Mônica Martelli
Apesar de trazer os clichês dos consolos que uma mulher busca para esquecer um companheiro – leia-se viagem, balada, compras –, o filme tem salvação à medida em que o desfecho se aproxima. De uma certa forma, a cena em que Fernanda e Tom ficam cara a cara para assinar os papéis do divórcio faz a plateia respirar aliviada: ufa, a vida não é um conto de fadas e ela pode ser suave!
“Minha Vida em Marte”, dirigido por Susana Garcia, irmã de Mônica, tem pontos positivos e negativos em medidas equilibradas e faz o espectador se sentir numa montanha-russa. A trama começa divertida e intimista ao revelar, com verdade e humor, os obstáculos que a rotina coloca no relacionamento de qualquer casal, principalmente quando se tem filhos. Os problemas começam quando as piadas fogem do enredo. Dá para perceber que as situações foram criadas para encaixar as piadas, e não o contrário. Desnecessárias também são as inúmeras participações especiais na trama, como a da cantora Anitta.
Apesar disso, a dupla Mônica Martelli e Paulo Gustavo, que interpreta Aníbal, o melhor amigo de Fernanda, funciona muito bem. A amizade entre os dois também fora da tela é perceptível em muitas ocasiões. Impossível prender o riso quando os amigos pedem uma refeição no serviço de quarto do hotel em que estão hospedados em Nova York. A piada espontânea diverte sem soar forçada. Paulo Gustavo é brilhante em algumas cenas em que solta seu humor ácido.
“Minha Vida em Marte” retrata uma mulher possível, crível. Ela não é feminista, mas tampouco é conservadora. Ao mesmo tempo que mostra suas inseguranças – ela é escrava de redes sociais –, revela também sua fortaleza. Fernanda não levanta bandeiras, não é perfeita nem politicamente correta. Ela é só uma mulher de 45 anos que se recusa a ser infeliz e não se prende a um casamento em crise constante apenas por comodidade ou por medo de ficar sozinha.
Conforme destaca Susana Garcia, trata-se de uma personagem com a qual a produção tem muito cuidado. “Conheço muito bem a Mônica e conheço muito bem a Fernanda, com quem a gente tem muito zelo, porque existe uma identificação grande por parte do público. Trabalho com a Mônica há muitos anos. A gente se complementa e tenta construir da melhor forma possível essa personagem”, diz.
Longa construção entre os palcos e a telona
Mônica Martelli escreveu e montou a peça “Os Homens São de Marte… E É pra Lá que Eu Vou” em 2005 e revolucionou a própria carreira diante do imediato sucesso de público. A peça ficou anos em cartaz até que virou filme, em 2014, também atingindo um público expressivo: 1,8 milhão de espectadores.
Na história autobiográfica, Mônica é Fernanda, uma mulher de quase 40 anos que busca um amor. Na aventura de encontrar o par perfeito, ela tem de lidar com todos os tipos de homem. Ao seu lado está o melhor amigo Aníbal (Paulo Gustavo), e no alvo, o bonitão Tom (Marcos Palmeiras). A peça que virou filme também se transformou em série, no canal GNT. Em 2017, a atriz, roteirista e dramaturga pensou em mostrar como está a vida de casada de Fernanda e estreou a peça “Minha Vida em Marte”, que agora ganhou as telonas.