Um dos maiores clássicos do cinema brasileiro completa hoje exatamente 60 anos de sua estreia em território nacional. Dirigido por Glauber Rocha (1939-1981), expoente do mais célebre movimento cinematográfico da história do país (o Cinema Novo), Deus e o diabo na terra do sol foi exibido pela primeira vez no Festival de Cannes, competindo pela Palma de Ouro, e estreou oficialmente em 10 de julho de 1964, dando início a uma carreira de repercussão internacional que foi a do diretor baiano, aqui apenas no seu segundo longa-metragem.

Protagonizado por Othon Bastos e Yoná Magalhães, o filme conta a história do sertanejo Manoel e da sua esposa Rosa, que levam uma vida de seca e sofrimento, mas com a esperança de conseguir uma partilha do gado com o coronel para poder, assim, comprar uma pequena terra para morar. No trajeto para fazer a divisão, porém, parte dos animais morre e o coronel se recusa a dar qualquer coisa a Manoel, que o mata com um facão e foge com a mulher mato adentro.

Escrito pelo próprio Glauber, Deus e o diabo na terra do sol possui as principais características que marcaram a estética do Cinema Novo e influenciou várias produções posteriores, em especial pela chamada 'Estética da Fome', defendida pelo próprio cineasta em manifesto de 1965. A obra e os demais projetos dele encarnavam essa crueza do Sertão - transmitida pelos cenários reais, câmeras na mão e profunda liberdade artística para romper com convenções narrativas - rejeitando a abordagem limpa e polida do cinema estrangeiro e da visão exótica diante daquela dura realidade.

Professor e doutor em Estudos Cinematográficos e Audiovisuais pela Université Paris 3, especializado na obra de Glauber Rocha, Alexandre Figueirôa destaca ao Viver a relevância histórica do longa para a cinematografia nacional. "O filme representou uma ruptura com uma certa esquematização que havia em torno da temática do cangaço. Os filmes de cangaceiro até então tinham sempre uma conotação de faroeste, que buscava um 'bem e mal' definidos, mas Glauber capta que existe uma contradição nesse tema, já que o cangaceiro é tão mocinho quanto bandido, e joga isso tudo no Deus e o diabo, que pega elementos do imaginário do sertão nordestino e traz para a tela de maneira ao mesmo tempo muito regional mas também universal. A repercussão que o filme teve na Europa, principalmente, foi de muita fascinação por parte dos críticos. É até hoje um dos maiores marcos do cinema brasileiro", afirma.
 
Deus e o diabo na terra do sol está disponível no catálogo do GloboPlay.