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O bom humor da equipe – dos protagonistas Fernanda Torres e Selton Mello ao escritor Marcelo Rubens Paiva, autor do livro homônimo que inspira o longa-metragem – estampa o clima de satisfação com o resultado que “Ainda Estou Aqui” vem alcançando mundo afora. Na última semana, foi apresentado na 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para muita gente, o cinema brasileiro conseguiu, enfim, exumar a ditadura com uma obra emocionante, que captura o espectador pelo que há de mais essencial na família de Eunice e Rubens Paiva (pais do autor), com base em um forte sentimento de harmonia – que é dolorosamente roubado pelos anos de chumbo.
Antes de ser questionado sobre o longo tempo fora dos sets, Salles se adianta. “Por que levei 12 anos para fazer um novo longa? Porque não é todo ano que surge um livro como o do Marcelo. O ponto de partida é esse livro luminoso, que não só repassa a memória da família dele, a memória pessoal, mas também a história do Brasil ao longo de várias décadas. Essa superposição entre o pessoal e o coletivo sempre me interessou em cinema. No livro, foi ainda potencializado porque, nesse processo, o Marcelo descobre que a mãe, Eunice, tinha sido a personagem central”, registra o cineasta.
A essas memórias publicadas por Marcelo Rubens Paiva, também se somam as lembranças do diretor, que teve contato muito próximo com aquele núcleo familiar. “Eu tive a sorte de ser amigo, aos 13 anos, de Nalu, a irmã do meio de Marcelo. Tive a oportunidade de conhecer aquela casa, que, aliás, é personagem. Tinha combinado com a Fernanda que não roubaríamos nenhuma frase um do outro, mas vou pedir uma exceção: o filme talvez seja um desejo de tentar reabrir aquela casa e compartilhar com a audiência”, destaca. Nalu, por sinal, é vivida pela mineira Bárbara Luz, filha de Inês Peixoto e Eduardo Moreira, do Grupo Galpão.
Salles sublinha que, num processo como esse, que tem a ver com a decantação da memória e com tantos personagens, não seria factível ter um filme pronto tão rapidamente. “Por isso demorou sete anos. A gente não teria chegado lá sem o talento incrível do Murilo (Hauser) e do Heitor (Lorega), que foram reescrevendo (o roteiro), sempre tentando encontrar a fórmula mais justa para dar honestidade àquele estar no mundo presente nos primeiros 30 minutos de filme. E, a partir daquilo, retratar a ausência do pai, a dor e tudo aquilo que ecoa ao longo do tempo. E, junto a isso, entender as formas de reinvenção de Eunice face àquela tragédia”.
E também, acrescenta Salles, o filme não seria possível se Marcelo Rubens Paiva “não tivesse retroalimentado esse processo todo, nos dando informações e sugerindo coisas o tempo inteiro, dizendo, por exemplo, que tinha diálogo demais. E tinha. Na montagem, a gente cortou muito. A intuição do Marcelo estava quase sempre muito certa”. O trabalho do elenco também é surpreendente. Fernanda Torres está iluminada e, não por acaso, vê seu nome cogitado a uma possível nomeação ao Oscar, repetindo o feito de sua mãe, Fernanda Montenegro, justamente num filme de Salles (“Central do Brasil”), em 1999.
A atriz conta que já havia lido “Ainda Estou Aqui” antes de ser convidada por Salles, porque queria saber o que tinha acontecido com o pai de Marcelo, ex-deputado preso, torturado e assassinado pelos militares, em 1971. “Eu só tinha headlines e era muito além do que poderia imaginar. Quando o Walter me chama, tenho a responsabilidade de viver uma mulher única, que nunca fez questão de ser reconhecida ou aparecer. Ela sai (do papel) de viúva do Rubens Paiva para mãe do Marcelo movendo revoluções de uma maneira sempre digna. Ela teve uma resistência persuasiva”, observa Fernanda.
Sensibilidade à flor da pele
Quando o ator mineiro Selton Mello toma a palavra, ele não consegue segurar a emoção, num choro que contagia a todos. Apesar de sua participação em “Ainda Estou Aqui” ocupar uma parte pequena do filme, ela é muito marcante e determinante para os desdobramentos da história. “Foi uma transformação física grande. Foram 20 kg (a mais de peso corporal), é muita coisa. E depois foi difícil perder, levando quase um ano. Mas tudo bem, o personagem precisava disso, para dar esse caráter de pai. Sempre digo que a missão nessa primeira parte do filme é iluminar, espiritualmente falando, mais do que tecnicamente”.
Para Walter Salles, a família Paiva e tudo o que está no entorno dela estampam o desejo de um país. “Um sonho de país que ainda vigorava, um país lá de trás, com uma nova arquitetura, uma nova música, uma nova poesia, um Cinema Novo... De alguma forma, algo ali foi ceifado. Essa família sempre foi, para mim, o microcosmo de um Brasil que teve roubado um projeto de país possível. Cada membro da equipe estava habitado por essa percepção, não somente de um passado remoto, mas também de um presente. Isso foi nos aproximando daquilo que (Andrei) Tarkovski falava, em que uma obra só começa a existir quando todo mundo está na artéria do filme, com todos focados no mesmo desejo".
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O bom humor da equipe – dos protagonistas Fernanda Torres e Selton Mello ao escritor Marcelo Rubens Paiva, autor do livro homônimo que inspira o longa-metragem – estampa o clima de satisfação com o resultado que “Ainda Estou Aqui” vem alcançando mundo afora. Na última semana, foi apresentado na 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para muita gente, o cinema brasileiro conseguiu, enfim, exumar a ditadura com uma obra emocionante, que captura o espectador pelo que há de mais essencial na família de Eunice e Rubens Paiva (pais do autor), com base em um forte sentimento de harmonia – que é dolorosamente roubado pelos anos de chumbo.
Antes de ser questionado sobre o longo tempo fora dos sets, Salles se adianta. “Por que levei 12 anos para fazer um novo longa? Porque não é todo ano que surge um livro como o do Marcelo. O ponto de partida é esse livro luminoso, que não só repassa a memória da família dele, a memória pessoal, mas também a história do Brasil ao longo de várias décadas. Essa superposição entre o pessoal e o coletivo sempre me interessou em cinema. No livro, foi ainda potencializado porque, nesse processo, o Marcelo descobre que a mãe, Eunice, tinha sido a personagem central”, registra o cineasta.
A essas memórias publicadas por Marcelo Rubens Paiva, também se somam as lembranças do diretor, que teve contato muito próximo com aquele núcleo familiar. “Eu tive a sorte de ser amigo, aos 13 anos, de Nalu, a irmã do meio de Marcelo. Tive a oportunidade de conhecer aquela casa, que, aliás, é personagem. Tinha combinado com a Fernanda que não roubaríamos nenhuma frase um do outro, mas vou pedir uma exceção: o filme talvez seja um desejo de tentar reabrir aquela casa e compartilhar com a audiência”, destaca. Nalu, por sinal, é vivida pela mineira Bárbara Luz, filha de Inês Peixoto e Eduardo Moreira, do Grupo Galpão.
Salles sublinha que, num processo como esse, que tem a ver com a decantação da memória e com tantos personagens, não seria factível ter um filme pronto tão rapidamente. “Por isso demorou sete anos. A gente não teria chegado lá sem o talento incrível do Murilo (Hauser) e do Heitor (Lorega), que foram reescrevendo (o roteiro), sempre tentando encontrar a fórmula mais justa para dar honestidade àquele estar no mundo presente nos primeiros 30 minutos de filme. E, a partir daquilo, retratar a ausência do pai, a dor e tudo aquilo que ecoa ao longo do tempo. E, junto a isso, entender as formas de reinvenção de Eunice face àquela tragédia”.
E também, acrescenta Salles, o filme não seria possível se Marcelo Rubens Paiva “não tivesse retroalimentado esse processo todo, nos dando informações e sugerindo coisas o tempo inteiro, dizendo, por exemplo, que tinha diálogo demais. E tinha. Na montagem, a gente cortou muito. A intuição do Marcelo estava quase sempre muito certa”. O trabalho do elenco também é surpreendente. Fernanda Torres está iluminada e, não por acaso, vê seu nome cogitado a uma possível nomeação ao Oscar, repetindo o feito de sua mãe, Fernanda Montenegro, justamente num filme de Salles (“Central do Brasil”), em 1999.
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Sensibilidade à flor da pele
Quando o ator mineiro Selton Mello toma a palavra, ele não consegue segurar a emoção, num choro que contagia a todos. Apesar de sua participação em “Ainda Estou Aqui” ocupar uma parte pequena do filme, ela é muito marcante e determinante para os desdobramentos da história. “Foi uma transformação física grande. Foram 20 kg (a mais de peso corporal), é muita coisa. E depois foi difícil perder, levando quase um ano. Mas tudo bem, o personagem precisava disso, para dar esse caráter de pai. Sempre digo que a missão nessa primeira parte do filme é iluminar, espiritualmente falando, mais do que tecnicamente”.
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