Lançado há 20 anos, “Cidade de Deus” termina com uma atmosfera sombria e pessimista sobre a comunidade na zona oeste do Rio de Janeiro que dá título ao longa, uma das mais importantes obras do cinema brasileiro e mundial, indicado a quatro estatuetas do Oscar.

Já disponível no YouTube, o curta “Buscapé”, a aguardada “continuação” do filme de Fernando Meirelles e Kátia Lund, evoca outros olhares para o conjunto habitacional, retrato da violência urbana que ajudou a criar uma onda de histórias sobre crimes na favela. 

“A grande sacada é trazer a comunidade como uma potência e não como uma carência, como acontecia lá atrás. O curta se propõe a brincar muito com essa coisa da efervescência cultural que a gente está vendo na comunidade”, afirma o diretor Fred Luz.

O realizador assinala que briga pelo poder tinha um papel forte, resultando em imagens de violência. “Aqui é o personagem. Buscapé dá nome à história e é com ele que a gente navega por dentro da comunidade”, compara.

Para quem não se lembra, Buscapé era o fotógrafo amador que acompanhava a ascensão da violência no lugar, comandada por Zé Pequeno. É ele que participa da famosa cena da corrida da galinha, citada no curta-metragem.
Luz pondera que não fazia sentido, em 2022, querer saber onde estaria essa violência em nossos dias. “Nosso papel como comunicador é empurrar para o lado da cultura. Escolhemos o slam como porta-voz”, registra.

O cineasta tinha 18 anos e também recém-ingressado na faculdade de publicidade quando Cidade de Deus estreou. “Eu sempre costumo dizer que umas coisas que me fez vir para a O2 foi o filme, a admiração que tenho pelo trabalho do Fernando e da produtora”.

A O2 levantou o projeto há duas décadas e muitos integrantes daquela equipe retornaram agora, após a produtora aceitar a proposta de uma agência para promover o lançamento de uma marca de telefonia móvel a partir dos personagens do filme.

Para Luz, o primeiro grande exercício foi “saber ouvir, trocar e filtrar as coisas, identificando quais ferramentas precisavam estar presentes no curta” para se criar uma relação com o original “de uma forma muito cristalina e, ao mesmo tempo, trazer algo de novo”. 

“Não poderíamos simplesmente refilmar. Precisava ser um passo adiante”, salienta o cineasta, para quem “Buscapé” está longe de colocar marcas em primeiro plano. “A gente não pode manchar ou atrapalhar todo esse carinho que o Brasil e o mundo tem pelo filme. E a gente foi muito feliz nisso, porque o produto não ‘grita’””, avalia.