“Esperando Bojangles” não é um filme fácil de interagir. Não por conta de sua história, sobre o relacionamento entre duas pessoas que vivem o seu amor plenamente. Mas por sua atmosfera, que é de onde vem o nosso julgamento a respeito da validade ou não de uma vida que ultrapassa todo tipo de normas.


Georges e Camille (ela adota vários nomes ao longo da narrativa) vivem um mundo à parte, totalmente egocêntrico, em que a alegria deles prevalece sobre as outras coisas. Não é um tipo de felicidade que vá contagiar todos em volta. Muito pelo contrário. Ele se fortalece na mentira e na ausência da realidade.

Logo vemos que é um amor impossível de se levar adiante, porque a sociedade cobra alto desses anarquistas amorosos. Baseada no livro homônimo de Olivier Bourdeaut, a trama cinematográfica não protege o casal o suficiente. Somente a uma atmosfera irreal, onírica ou exagerada poderia isentar integralmente os personagens.


O cineasta Régis Roinsard opta por um tom realista, mas que nos permite sentir o gostinho de loucura do casal. É como se colocasse uma lupa constantemente sobre eles, para que o ideário singular de felicidade não ficasse tão distante de nós. Mas não o suficiente para que os isentássemos de qualquer responsabilidade.

O filho de George e Camille nos serve como guia. Ao mesmo em tempo que o garoto se diverte com uma educação especial, em que a imaginação é estimulada (o que, no caso de crianças, é mais fácil de ser digerida) ao som da música “Mr. Bojangles”, cantada por Nina Simone, ele sofre com as opções inconsequentes dos pais.


Além disso, a história não possui um grande vilão que se contraponha às ações hiperrealistas do casal – apenas a velha a sociedade, em seu funcionamento esperado.

Só há outro personagem importante no filme, Lixo, que é com quem vamos nos identificar mais, já que ele admira a audácia da dupla, mas é incapaz de participar dela.


Nesse sentido, “Esperando Bonjagles” chega a ser crítico, nos levando a crer que não nos cabe entender as razões de George e Camille, interpretados com luminosidade por Romain Duris e Virginie Efira. Só eles sabem, num mundo que jamais alcançaremos. O final é forte, duro, mas justificável diante dessas opções que nos são colocadas.