Composta por filmes de diversas partes do Brasil, a 5ª Mostra Cinema dos Quilombos será realizada entre esta quarta (15) e domingo (19), no cinema do Sesc Palladium, levando para as telas a cultura rural e urbana dos remanescentes de quilombos que resistiram à escravidão e seguem organizados para manter seus territórios e suas tradições. As sessões são diárias, sempre às 19h30, seguidas de conversas com diretores, membros da equipe, curadores e pesquisadores.

Para o curador Diego Silva Souza, o cinema quilombola proporciona a possibilidade de mergulhar na história viva de nosso país e conhecer realidades diferentes, muitas vezes inacessíveis por outros meios. "Pensar uma curadoria formada inteiramente por filmes quilombola demonstra a força da produção dessas comunidades. São cinemas que amplificam o alcance das lutas, saberes e festividades quilombola, expressando o devido prestígio a mestras e mestres que estão espalhados pelo país inteiro”, afirma.

Já na avaliação da produtora Iakima Delamare, esta edição celebra a riqueza e a diversidade das culturas quilombolas, oferecendo um espaço para que suas histórias, tradições e lutas sejam reconhecidas e valorizadas. "Esse trabalho é fundamental para a preservação e a promoção das narrativas quilombolas, permitindo que suas vozes ecoem e sejam ouvidas amplamente. Ao proporcionar visibilidade a essas produções, a mostra não apenas fortalece a identidade cultural quilombola, mas também contribui para a educação e a conscientização da sociedade sobre a importância da inclusão e do respeito às diversas heranças culturais do Brasil", pontua.

Coordenador do projeto, Cardes Monção destaca que a mostra integra o projeto Cinema dos Quilombos, que realiza oficinas audiovisuais, mantém aberto em fluxo contínuo o chamado para filmes e se prepara para lançar o primeiro volume do livro sobre cinema quilombola. “Aproveitamos para convocar autores e autoras para submeterem artigos, entrevistas e outros formatos de textos para o segundo livro. O chamado encontra-se disponível no site da mostra", destaca.

Programação
O documentário “Terra de Mulheres” (Rio Pomba – MG), de Oriane Descout, abre a mostra. A montagem conta a história das agricultoras Rosa e Fátima, que lutam diariamente para preservar a cultura local. Elas têm filhas da geração de Oriane, jovem cineasta francesa radicada em Minas Gerais. Acompanhadas por Thais, estudante de agroecologia, elas procuram conhecer melhor os desafios que enfrentam.

Na sequência, será exibido o curta “Marta Kalunga” (Cavalcante – GO), de Lucinete Morais, Marta Kalunga e Thaynara Rezende. No filme, conduzidos pelo corpo/território de Marta, vamos de encontro com sua história, sua busca pela valorização da memória e preservação da cultura Kalunga, entremeadas por seu tear e dança da Sussa. Após a sessão haverá conversa com Maria de Fátima, do Quilombo dos Coelhos (“Terra de Mulheres”) e Marta Kalunga.

Já na quinta-feira (16), a mostra exibe quatro filmes e, após a sessão, acontecerá um bate-papo com Adilson Batista (“Camorim”), Ada Pereira (“Quilombo Sapatú”), Cristina Pereira dos Santos e Juliana Gomes do Nascimento (ambas do Quilombo do Linharinho).

A sessão começa com a projeção do documentário carioca “Camorim”, de Renan Barbosa Brandão, que narra a história do quilombo urbano homônimo localizado próximo à Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. O filme é construído a partir do olhar de quatro quilombolas que revelam seus desejos, memórias e descobertas importantes sobre o local em que vivem e resistem. Já o documentário “Do Quilombo pra Favela - Alimento para a resistência negra” (São Paulo – SP), de Manoela Meyer e Roberto Almeida, conta a história de uma cooperativa de agricultores quilombolas que uniu esforços para minimizar o impacto da pandemia da Covid-19.

Por geração de renda e segurança alimentar, eles elaboraram um plano emergencial para distribuir em comunidades vulneráveis alimentos orgânicos produzidos em suas roças tradicionais, que mantêm a Mata Atlântica em pé. Assim, quilombo e favela, que pareciam distantes, tornaram-se parceiros de lutas semelhantes.

O filme “Sonhos” (Conceição da Barra – ES), realizado por moradores do Quilombo de Linharinho e equipe do Instituto Marlin Azul - IMA, aborda questões relacionadas à premonição e à expressão do inconsciente. Na comunidade de Linharinho, um grupo de mulheres e crianças compartilhou e recriou os seus sonhos em imagens e sons. O documentário foi realizado a partir de uma oficina do projeto Cinequilombola do IMA. Por sua vez, o filme “Comadres” (Conceição da Barra – ES), de Cristina Pereira dos Santos e Juliana Gomes do Nascimento, filmado no quilombo doLinharinho, aborda a história de duas netas que interpretam uma cena de despedida vivida por suas avós. O filme também é realizado a partir de oficina do projeto Cine Quilombola do IMA.

No dia 17 de janeiro, acontece a exibição do documentário “Mátria Amada Kalunga” (Goiás - GO), de Lak Shamra e Thassio Freire. Após a calamidade pública da enchente do Rio Paranã, em 2022, 27 mulheres da etnia Kalunga, em Goiás, compartilham suas origens e seus cotidianos atuais. Após a sessão haverá conversa com Marta Kalunga.

No sábado, dia 18 de janeiro, acontece uma sessão com acessibilidade em Libras e que exibirá dois filmes, sendo um deles o documentário “Tita” (Quilombo do Açude – MG), de Danilo Candombe, que retrata a vida e o legado de Maria Gregório Ventura, que completa 100 anos de idade. Dona Tita é moradora do Quilombo Morro do Santo Antônio, em Itabira, Minas Gerais. Assim, o documentário mergulha na história de Maria Gregório Ventura, destacando sua contribuição para a preservação das tradições quilombolas. 

Na sequência, o curta “Casca de Baobá” (Quissamã – RJ), de Mariana Luiza, narra a história de Maria, uma jovem negra nascida em um quilombo no interior do estado, cotista na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sua mãe, Francisca, leva a vida cortando cana nas proximidades do quilombo. As duas trocam mensagens para matar a saudade e refletir sobre o fim de uma era econômica-social. Após a sessão haverá conversa com Danilo Candombe (“Quilombo do Açude”) e Mariana Luiza (“Casca de Baobá”).

No último dia da mostra, serão exibidos os documentários “Nicolinas” (Mariana – MG), de Thathiele Monic Estevao e Uriel Silva, que aborda a vida das mulheres do Quilombo Vila Santa Efigênia, no interior de Minas, e como a dança mudou suas vidas após fundarem juntas o Grupo de Dança Quilombola Nicolinas; e “Dandaras: A Força da Mulher Quilombola” (Mariana – MG), de Ana Carolina Fernandes, curta que tem como objetivo  apresentar as trajetórias e o engajamento de mulheres quilombolas que atuam como lideranças políticas de suas comunidades e do movimento quilombola como um todo. Após a sessão acontecerá conversa com Margareth (Quilombo dos Arturos), Sandra Maria da Silva (Quilombo Carrapatos da Tabatinga) e representantes do filme “Nicolinas”.

SERVIÇO

5ª Mostra Cinema dos Quilombos

Quando. De quarta (15) a domingo (19), às 19h30

Onde. Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1046 / Av. Augusto Lima, 420, Centro_

Quanto. Gratuito. Os ingressos podem ser reservados tanto pelo Sympla pelo link quanto retirados na bilheteria 30 minutos antes da sessão. Caso os ingressos no Sympla estejam esgotados, a orientação é procurar a bilheteria do Sesc Palladium para retirada.

Sessões, datas e links do Sympla:

15/01 - https://bileto.sympla.com.br/event/102189

16/01 - https://bileto.sympla.com.br/event/102190

17/01 - https://bileto.sympla.com.br/event/102191

18/01: https://bileto.sympla.com.br/event/102192

19/01: https://bileto.sympla.com.br/event/102188