Um dos primeiros blocos de rua de Belo Horizonte, o Samba Queixinho promete fazer “um grande carnaval, como sempre”. Criado em 2009 por um grupo de amigos que decidiu curtir o feriado na capital mineira em vez de viajar, o bloco “pé na rua” comemora seu 16º carnaval neste ano e com uma grande homenagem: a escritora belo-horizontina Carla Madeira, que participou dos primeiros desfiles do Queixinho e confirmou presença neste ano.

Marcado pela força da bateria, o bloco sempre promoveu ritmos brasileiros através de instrumentos como repiques, surdos, tamborins, caixas e chocalhos. Quem comanda o repertório, cheio de ritmos afro-brasileiros, samba e suas vertentes é o músico e jornalista Gustavo Caetano, fundador do Samba Queixinho. Segundo Caetano, o bloco começou com cerca de 10 pessoas, o que era bastante para a época, mas cresceu tanto que hoje ultrapassa os 150 integrantes.

Com alegria e a expectativa lá em cima, o bloco desfila no domingo de carnaval (2/3), com saída da Casa Fiat, na Praça da Liberdade, às 13h30. Neste ano, os organizadores foram surpreendidos pela falta de patrocínio, implicando a ausência do trio elétrico. Mesmo considerando estranha a falta de investimento e sem tempo de arrecadar valores consideráveis em um vaquinha, Gustavo acredita na força do Queixinho.

“Não será ofuscado pela falta de patrocínio. Será um desfile na raça, com todo o amor do mundo. Será um grande desfile, focado no trabalho de um ano que a gente faz”, diz o mestre da bateria. É ele que fica responsável pelas oficinas de percussão ao longo do ano, de olho na descoberta de novos ritmistas para o bloco, além de contribuir na formação de músicos para o carnaval de maneira permanente.

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Gustavo Caetano garante que a raça do Samba Queixinho não será ofuscada pela falta de patrocínio: "Será um desfile com todo o amor do mundo" / Leandro Couri/EM/D.A Press

Bateristas são os protagonistas

De acordo com o jornalista, em BH, o bloco é pioneiro nas aulas de percussão. A cada término do carnaval, os integrantes tiram um tempo para descanso e, um mês depois, retornam aos ensaios. Gustavo oferece oficinas e aulas particulares para pessoas interessadas em aprender a tocar os instrumentos de percussão e até disponibiliza os seus, a princípio, para a pessoa conhecer e descobrir com qual sente mais afinidade. Para ele, é o instrumento que escolhe a pessoa.

“Em 2009, havia dois blocos pequenos na cidade, mas nenhum tinha essa intenção de ensinar as pessoas a formar uma bateria de bloco, já com um mestre de bateria na frente para ensinar as pessoas a tocar. A gente foi o primeiro”, relembra. Na época, o músico teve a ideia e saiu na Praça Tiradentes oferecendo aulas, pois acredita que o lema do bloco é que “quem não tem samba no pé, pode cantar”.

Depois de tantos anos e tanta dedicação, Gustavo enxerga os bateristas como os protagonistas do Queixinho. Sem eles, não seria possível andar na rua por seis horas diretas. Com um público fiel, mas que cresce a cada ano, o mestre de bateria convida todos a participar do desfile, que tem sido preparado desde março de 2024. “Quando o carnaval acaba, não é o término do carnaval. É o começo do próximo”, conta Gustavo.

“Uma expectativa imensa, apesar de estranhamente não termos conseguido nenhum investimento para o desfile. São 16 anos de bloco. A bateria está se preparando há um ano para dar o melhor. Tivemos um hiato durante um tempo no carnaval de BH e nosso objetivo é sempre fincar o pé e fazer um grande carnaval para a cidade”, diz.

Tributo a Carla Madeira

Conhecido por homenagear grupos culturais, o Samba do Queixinho homenageará a escritora Carla Madeira. Nascida na capital mineira, a autora do best-seller “Tudo É Rio” e outros livros de sucesso ama carnaval. Na juventude, aproveitava a folia no interior, em cidades como Diamantina e Divinópolis, mas acompanhou o surgimento do bloco belo-horizontino. Agora, Carla retorna ao desfile como homenageada.

“Todo ano o bloco homenageia algum grupo cultural. Neste ano, será a escritora Carla Madeira. Ela, atualmente, é uma das maiores escritoras do Brasil e tem uma ligação com o Queixinho, pois ela tocou dois anos na bateria. Ela curtiu (a homenagem) e vai participar”, disse o fundador do bloco.

Em entrevista ao Estado de Minas, a escritora relembrou o início do bloco e a surpresa e alegria sentidas quando recebeu a notícia da homenagem. De acordo com ela, os integrantes do bloco são “primorosos”, além de tocarem muito bem e serem comprometidos. Ela explicou que antes tocava tamborim e agora está tentando acompanhar os encontros do bloco.

“Já estou recebendo tanta coisa boa, tanta energia bacana. Nos ensaios fui extremamente bem recebida pelo grupo. Com entusiasmo. Acho incrível colocar a literatura no centro. As pessoas fizeram colares com a capa do livro. É um carnaval pé na rua, feito na garra e na alegria”, disse.

Questionada sobre a inserção da literatura no carnaval, Carla contou que acredita que o carnaval não é apenas entretenimento, mas um evento artístico. “Não é atoa que chama samba-enredo. O carnaval conta história, é linguagem, é expressão. É colocar todo um simbólico pra fora. Tem muito a ver com a literatura. Da palavra e da expressão. Carnaval é uma expressão popular, um coletivo poderoso, uma busca por alegria e por encontro”, reflete.

 

*Estagiária sob supervisão da editora Vera Schmitz