Bloco da cantora Aline Calixto se destacou por espaço reservado especialmente para cadeirantes durante o desfile

Nem a chuva espantou a multidão que se aglomerava em torno do trio elétrico do Bloco da Calixto. “Não atrapalha não, até porque é meu primeiro Carnaval em BH”, diz Yan Oliveira, de 21 anos. O rapaz, que veio de Contagem para pular a folia na capital mineira, explica que a escolha tem a ver com uma relação de pertencimento. “Sempre passei em praia, mas esse ano quis valorizar Minas”, diz ele.

Com a passagem da chuva, o trio elétrico começou a fazer seu percurso pela avenida Getúlio Vargas, na Savassi, na tarde do sábado (25). Centenas de milhares de foliões pularam ao ritmo do samba com um quê de axé do bloco. O fôlego dos foliões, aliás, não é pequeno. “Vim do Então, Brilha”, diz Myllena Lage, de 20 anos, que desde a manhã está na concentração do bloco.

E no Carnaval de Belo Horizonte, também tem quem venha de longe. É o caso da foliona Alice Oliveira, que saiu de Lavras, no Sul de Minas, para celebrar a festa na capital. De ornamentos com as cores do arco-íris, inclusive nos cílios, ela explicou que quis homenagear a diversidade.

Para Aline Calixto, única artista a colocar seu bloco na rua deixando seu nome em foco, Alice não podia estar em lugar melhor. O tema do desfile da sambista é justamente o amor, a diversidade e o respeito. A campanha contra o assédio, que traz a taxativa frase “Não é não” como lema, foi também encampado por ela. “Vamos celebrar, vamos beijar, mas com respeito, porque não é não”, diz Calixto, que desfilou pelo quinto ano e esperava nada menos que 150 mil foliões.

No bloco, do lado de dentro dos cordões de isolamento, bem pertinho do trio elétrico, pessoas com deficiência tiveram prioridade para curtir a folia. É que a cantora, desde o ano passado, faz questão de uma folia "verdadeiramente democrática e diversa", afirma Aline, que cantou e dançou o amor no trio elétrico.

Logo ali, bem pertinho, o pequeno João Francisco curtia o desfile em sua cadeira de rodas. Seu pai, Carlos Wagner, de 41 anos, elogia a iniciativa da cantora, em vista de oferecer maior acessibilidade para os foliões. “Para Aline, essa preocupação não é algo novo. Na roda de samba que ela organiza, o bar tem esse cuidado, com banheiros e entrada adaptados”, lembra.

Se Wagner classifica a ação como algo louvável, também sustenta que muito ainda deve ser feito. “Eu acho que ainda é uma novidade... Teve ano passado e este, mas não tem em todos os blocos”, sustenta, dando destaque para o Todo Mundo Cabe no Mundo, que desfila neste domingo (26). “É um bloco que nasce com esse propósito de fazer o Carnaval uma festa, cada vez mais, para todos. E agora que essa porta foi aberta, os cadeirantes têm que ocupar as ruas!”, diz Wagner, lamentando que no cortejo ainda fosse tímida a adesão destes foliões.