O Ambulatório de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, no centro da cidade, criou um projeto para atender meninos e meninas de 10 a 16 anos que tenham depressão, ansiedade ou transtorno obsessivo compulsivo (TOC) piorados ou gerados pelo medo da Covid-19 e do isolamento social.

 
Segundo o fundador e coordenador do ambulatório, Fábio Barbirato, o propósito é enfrentar a quarta onda, referente à possível incidência de doenças mentais. A primeira onda seria a própria pandemia, a segunda o começo dos registros de mortes pela Covid-19 e a terceira os problemas derivados da doença.

O médico disse que em regiões que já retomaram  as atividades,e que passaram por grande contaminação e número de mortes, como Itália e Espanha, há registros de aumento de casos de depressão e ansiedade em crianças e adolescentes.

“Não só piorou, depois do isolamento social, o número de jovens que já estavam deprimidos, mas com sintomas contidos, como os que não tinham e começaram a apresentar. A procura por profissionais de saúde mental aumentou muito no hemisfério norte”, disse Barbirato, em entrevista à Agência Brasil.

Para o psiquiatra, no Hemisfério Sul não será diferente. Antes que os números de casos de depressão subam no Brasil, o projeto vai fazer um trabalho preventivo. “Antes que explodam, a gente vai fazer exatamente isso. O nosso trabalho é fazer uma triagem no nosso ambulatório, porque a pandemia começa a ter uma queda, as pessoas já começam a poder sair e, com isso, surgem preocupações e indagações que os pais têm e de certa forma começam também a transmitir isso para as crianças”, observou.

Fábio Barbirato acrescentou que as próprias crianças e adolescentes também acompanharam o assunto nos diversos tipos de mídias e vivenciaram seus medos, alguns até exagerados e sem base científica. De acordo com ele, a divulgação massiva do isolamento social e as crianças que já têm quadro depressivo ou ansioso podem piorar e, quem não tem, mas há uma predisposição, pode apresentar.

“Aí, de alguma forma, quando se abre isso, é aquele medo e aquele pavor. É aquela coisa do menino que viveu o tempo todo em uma floresta e, de repente, é colocado em plena Nova York ou Paris. Ele ouve o barulho e vê aquelas luzes todas e não sabe nem como se locomover. Uma criança de nove, dez anos trancada dentro de casa ouve que se respirar lá fora vai morrer, quando abre as portas como vai ser isso? Pode criar uma série de angústias”, comparou.


“A vida tem que voltar ao normal em algum momento. A gente não pode criar fantasias de que a vida não vai voltar ao normal nunca mais e a criança terá que ficar o tempo todo dentro de casa.”

O médico demonstrou preocupação com o retorno dos alunos às aulas. Ele recomendou que a volta seja no mais normal possível e sem exageros de informações, além dos cuidados que devem ser tomados quanto a aproximações. “Se fala muito também sem a criança perguntar o porquê. Se a criança perguntar, aí fala. Não pode dividir o copo d'água, não pode dar abraços e beijos. Eu não posso criar uma pandemia do terror com o meu filho e vejo muito pai e mãe assim”, completou.

O psiquiatra disse que o filho dele de 9 anos está tranquilo, apesar de ter visto os pais infectados e a avó internada por causa da covid-19. Ele é hipertenso e sua mulher fez tratamento de câncer, o que os caracterizam em grupos de risco.

“Em momento nenhum criamos medo para ele. A grande questão é como a agente passa para o filho”, disse, destacando que isso não impediu dedizer contar qual era a real situação do quadro clínico da avó.

Serão atendidos 100 crianças e jovens que terão consultas por seis meses. A intenção é que sejam acompanhados por oito anos. “Queremos ver como estarão aos 18 e 24 anos e o quanto esse quadro pandêmico atrapalhou na evolução deles."

Amanhã (6) começam as inscrições, que podem ser feitas pelo telefone (21) 2533-0188 até o dia 31. Depois haverá uma triagem para verificar quem realmente tem quadro de  transtorno ou se é apenas caso de uma questão de angústia passageira.

“Quem pode pagar não vai para lá. Vai lá quem passa necessidade, pessoas das classes C, D e E. Talvez vá pegar a classe média que ficou sem recursos. Muitas pessoas ficaram sem dinheiro nessa fase”, indicou.