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A coordenação do Observatório do Clima, rede que reúne cerca de 50 organizações não governamentais do País em prol de ações contra as mudanças climáticas, reagiu às insinuações feitas nesta quarta-feira (21) pelo presidente da República, Jair Bolsonaro - de que ONGs estariam envolvidas com as queimadas da Amazônia - e afirmou que o recorde de focos de incêndio observados neste ano é apenas "o sintoma mais visível da antipolítica ambiental do governo de Jair Bolsonaro".
Em nota divulgada à imprensa, a coordenação do Observatório do Clima pontuou que as ações do governo federal contribuíram para o aumento do desmatamento na região e que "o fogo reflete a irresponsabilidade do presidente com o bioma que é patrimônio de todos os brasileiros, com a saúde da população amazônida e com o clima do planeta, cujas alterações alimentam a destruição da floresta e são por ela alimentadas, num círculo vicioso".
O número de queimadas em todo o Brasil neste ano já é o mais alto dos últimos sete anos, conforme mostrou o jornal O Estado de S. Paulo na segunda-feira (19). Desde 1.º de janeiro até a terça-feira (20) foram contabilizados 74.155 focos, alta de 84% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com o Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que contabiliza esses dados desde 2013.
Um pouco mais da metade (52,6%) desses focos vem ocorrendo na Amazônia, com o Mato Grosso na liderança. As queimadas já superam em 8% o recorde de 2016, um ano de extrema seca, que tinha registrado 68.484 focos no mesmo intervalo de tempo.
Considerando apenas o bioma Amazônia, eram 39.033 focos de calor até o dia 20 - alta de 140% em relação ao ano passado e de 70% em relação à média dos três anos anteriores. "Dois Estados criticamente atingidos, Rondônia e Acre, registram emergência de saúde devido à poluição do ar. A pluma de fumaça atingiu a cidade de São Paulo e várias outras no Centro-Sul do país", escreve a coordenação da organização.
A carta lembra nota técnica divulgada nesta terça-feira pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), que revelou que a estiagem observada neste ano na região não explica o problema, mas sim a alta no desmatamento. "Neste ano, o bioma Amazônia viu menos dias consecutivos sem chuva do que a média entre 2016 e 2018: menos de 20 contra mais de 30, respectivamente. A análise de dados do Ipam para o bioma Amazônia mostra que o fator que melhor explica o aumento nos focos de calor é o desmatamento. Os dez municípios mais desmatados em 2019 são também os dez que mais queimaram na região", pontua.
"Desde que assumiram, Bolsonaro e (Ricardo) Salles têm se dedicado a desmontar as estruturas de governança ambiental e os órgãos de fiscalização. Extinguiram o órgão responsável pelos planos de controle do desmatamento na Amazônia e no Cerrado, sem ter até hoje apresentado nenhum plano alternativo contra a destruição; cortaram um quarto dos recursos do Ibama; deixaram 8 de 9 superintendências regionais do órgão acéfalas até hoje, o que inibe operações de fiscalização; e desmobilizaram o Grupo Especial de Fiscalização, a unidade de elite do Ibama, que não foi a campo na Amazônia ainda neste ano", continua a organização. "Também sinalizaram a falta de interesse em combater o desmatamento e prover alternativas econômicas sustentáveis para a região ao suspender o Fundo Amazônia, que banca esse tipo de atividade. Ao mesmo tempo, empoderam criminosos ambientais, sinalizando, por exemplo, a abertura das terras indígenas à exploração e a tolerância com a impunidade. Alguns governos estaduais também ajudaram a acender o pavio, ao reduzir a participação de suas PMs nas operações de fiscalização ou sinalizar que desmatadores não seriam punidos."
Declarações de Bolsonaro
Pela manhã, ao comentar os dados de aumentos de queimada, Bolsonaro fez insinuações, sem mostrar nenhuma prova, de que organizações afetadas por suspensão de repasses do Fundo Amazônia, poderiam estar por trás das queimadas.
"O crime existe, e isso aí nós temos que fazer o possível para que esse crime não aumente, mas nós tiramos dinheiro de ONGs. Dos repasses de fora, 40% ia para ONGs. Não tem mais. Acabamos também com o repasse de dinheiro público. De forma que esse pessoal está sentindo a falta do dinheiro", disse Bolsonaro, referindo-se à suspensão de repasses, por parte do governo, de recursos do Fundo Amazônia para projetos de combate ao desmatamento. "Pode estar havendo, não estou afirmando, ação criminosa desses 'ongueiros' para exatamente chamar a atenção contra a minha pessoa, contra o governo do Brasil. Essa é a guerra que nós enfrentamos", continuou.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, viaja para o Mato Grosso nesta quarta, 21, justamente para falar sobre as queimadas. Ele vai dar uma entrevista coletiva no fim da tarde no Centro Integrado de Operações Especiais no Aeroporto de Cuiabá, junto com o governador do Estado, Mauro Mendes.
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A coordenação do Observatório do Clima, rede que reúne cerca de 50 organizações não governamentais do País em prol de ações contra as mudanças climáticas, reagiu às insinuações feitas nesta quarta-feira (21) pelo presidente da República, Jair Bolsonaro - de que ONGs estariam envolvidas com as queimadas da Amazônia - e afirmou que o recorde de focos de incêndio observados neste ano é apenas "o sintoma mais visível da antipolítica ambiental do governo de Jair Bolsonaro".
Em nota divulgada à imprensa, a coordenação do Observatório do Clima pontuou que as ações do governo federal contribuíram para o aumento do desmatamento na região e que "o fogo reflete a irresponsabilidade do presidente com o bioma que é patrimônio de todos os brasileiros, com a saúde da população amazônida e com o clima do planeta, cujas alterações alimentam a destruição da floresta e são por ela alimentadas, num círculo vicioso".
O número de queimadas em todo o Brasil neste ano já é o mais alto dos últimos sete anos, conforme mostrou o jornal O Estado de S. Paulo na segunda-feira (19). Desde 1.º de janeiro até a terça-feira (20) foram contabilizados 74.155 focos, alta de 84% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com o Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que contabiliza esses dados desde 2013.
Um pouco mais da metade (52,6%) desses focos vem ocorrendo na Amazônia, com o Mato Grosso na liderança. As queimadas já superam em 8% o recorde de 2016, um ano de extrema seca, que tinha registrado 68.484 focos no mesmo intervalo de tempo.
Considerando apenas o bioma Amazônia, eram 39.033 focos de calor até o dia 20 - alta de 140% em relação ao ano passado e de 70% em relação à média dos três anos anteriores. "Dois Estados criticamente atingidos, Rondônia e Acre, registram emergência de saúde devido à poluição do ar. A pluma de fumaça atingiu a cidade de São Paulo e várias outras no Centro-Sul do país", escreve a coordenação da organização.
A carta lembra nota técnica divulgada nesta terça-feira pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), que revelou que a estiagem observada neste ano na região não explica o problema, mas sim a alta no desmatamento. "Neste ano, o bioma Amazônia viu menos dias consecutivos sem chuva do que a média entre 2016 e 2018: menos de 20 contra mais de 30, respectivamente. A análise de dados do Ipam para o bioma Amazônia mostra que o fator que melhor explica o aumento nos focos de calor é o desmatamento. Os dez municípios mais desmatados em 2019 são também os dez que mais queimaram na região", pontua.
"Desde que assumiram, Bolsonaro e (Ricardo) Salles têm se dedicado a desmontar as estruturas de governança ambiental e os órgãos de fiscalização. Extinguiram o órgão responsável pelos planos de controle do desmatamento na Amazônia e no Cerrado, sem ter até hoje apresentado nenhum plano alternativo contra a destruição; cortaram um quarto dos recursos do Ibama; deixaram 8 de 9 superintendências regionais do órgão acéfalas até hoje, o que inibe operações de fiscalização; e desmobilizaram o Grupo Especial de Fiscalização, a unidade de elite do Ibama, que não foi a campo na Amazônia ainda neste ano", continua a organização. "Também sinalizaram a falta de interesse em combater o desmatamento e prover alternativas econômicas sustentáveis para a região ao suspender o Fundo Amazônia, que banca esse tipo de atividade. Ao mesmo tempo, empoderam criminosos ambientais, sinalizando, por exemplo, a abertura das terras indígenas à exploração e a tolerância com a impunidade. Alguns governos estaduais também ajudaram a acender o pavio, ao reduzir a participação de suas PMs nas operações de fiscalização ou sinalizar que desmatadores não seriam punidos."
Declarações de Bolsonaro
Pela manhã, ao comentar os dados de aumentos de queimada, Bolsonaro fez insinuações, sem mostrar nenhuma prova, de que organizações afetadas por suspensão de repasses do Fundo Amazônia, poderiam estar por trás das queimadas.
"O crime existe, e isso aí nós temos que fazer o possível para que esse crime não aumente, mas nós tiramos dinheiro de ONGs. Dos repasses de fora, 40% ia para ONGs. Não tem mais. Acabamos também com o repasse de dinheiro público. De forma que esse pessoal está sentindo a falta do dinheiro", disse Bolsonaro, referindo-se à suspensão de repasses, por parte do governo, de recursos do Fundo Amazônia para projetos de combate ao desmatamento. "Pode estar havendo, não estou afirmando, ação criminosa desses 'ongueiros' para exatamente chamar a atenção contra a minha pessoa, contra o governo do Brasil. Essa é a guerra que nós enfrentamos", continuou.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, viaja para o Mato Grosso nesta quarta, 21, justamente para falar sobre as queimadas. Ele vai dar uma entrevista coletiva no fim da tarde no Centro Integrado de Operações Especiais no Aeroporto de Cuiabá, junto com o governador do Estado, Mauro Mendes.