JUDICIÁRIO 

Desembargadores do Tribunal de Justiça do Tocantins (TJTO) foram alvos de operação deflagrada pela Polícia Federal na manhã desta sexta-feira (23) para um suposto esquema de venda de sentenças e lavagem das propinas. 

Parentes de magistrados, advogados, empresários e procuradores do Estado e chefes de órgãos públicos do Executivo também são alvos de buscas. Foram cumpridos dois mandados de prisão preventiva.

As ordens foram expedidas pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). O relator do caso é o ministro João Otávio de Noronha. Ele também ordenou medidas cautelares como o sequestro e a indisponibilidade de bens, direitos e valores dos envolvidos.

PF prende advogado e filho de desembargador

Um dos presos é Thales André Pereira Maia, filho do desembargador Helvécio de Brito Maia Neto, ex-presidente do TJTO. O outro preso é o advogado Thiago Sulino de Castro, ligado ao gabinete de uma desembargadora. As defesas de ambos disseram que não se manifestariam neste momento.

Além dos mandados de prisão e de buscas e apreensão, o STJ determinou o afastamento do cargo do desembargador Helvécio de Brito Maia Neto, que foi presidente do TJ do Tocantins.

Helvécio Neto também está proibido de acessar ou frequentar o TJTO e suas repartições, inclusive por meio virtual. O STJ ainda o proibiu de entrar em contato com outros investigados. A defesa dele disse que não vai se manifestar.

Há 53 pessoas físicas e jurídicas na lista de investigados. Entre elas, a presidente do TJTO, Etelvina Maria Sampaio Felipe, a vice-presidente, Ângela Maria Ribeiro Prudente, a desembargadora Angela Issa Haonat e o desembargador João Rigo Guimarães, que preside o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-TO).

São citados ainda PF na investigação os juízes José Maria Lima, Marcelo Eliseu Rostirolla, Océio Nobre da Silva e Roniclay Alves de Moraes. 

Armas apreendidas na casa de desembargador

Agentes foram às ruas para cumprir as ordens de prisão e 60 mandados de busca e apreensão nos estados de Tocantins, Minas Gerais, São Paulo e Goiás, além do Distrito Federal. Policiais vasculharam as casas dos investigados, gabinetes do TJTO.

Em um endereço do desembargador João Rigo Guimarães, em Araguaína, no norte do Tocantins, agentes apreenderam armamento, incluindo ao menos duas espingardas. 

A ação foi chamada de operação Máximus. Segundo a PF, o nome da ofensiva faz referência à personagem do filme Gladiador, Máximus, “que lutou contra a corrupção na cúpula do poder no Império Romano”.

Em nota, o TRE do Tocantins disse que não é alvo da ação da PF e "que as unidades da Justiça Eleitoral, como a sede em Palmas (TO) e todas as 33 zonas eleitorais no Estado, mantêm o atendimento nesta data".

Já o TJTO afirmou que "atendeu a Operação Máximus da Polícia Federal e repassou todas as informações necessárias" e que "segue à disposição das autoridades para prestar os esclarecimentos necessários".

Governador é alvo de outra investigação

Na quarta-feira (21), a PF desencadeou outra operação no Tocantins para apurar suposto desvio de dinheiro público por meio da distribuição de cestas básicas durante a pandemia de Covid-19. 

Há a suspeita de direcionamento dos contratos, que foram feitos sem licitação, inclusive com pagamento integral por cestas que nunca foram entregues, beneficiando empresários e agentes públicos – com pagamento de propinas.

Houve apreensão de dinheiro no Palácio Araguaia, sede do executivo estadual, e na casa do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), que é um dos alvos. Na época da compra das cestas, ele era vice-governador do Tocantins. O chefe do executivo era Mauro Carlesse (Agir).

A primeira-dama e secretária extraordinária de participações sociais, Karynne Sotero, e dois filhos de Wanderlei, o deputado estadual Léo Barbosa (Republicanos) e Rérison Castro, diretor superintendente do Sebrae em Tocantins, também estão entre os investigados.

Durante o cumprimento das buscas na casa e no gabinete de Wanderlei, os policiais federais encontraram R$ 67,7 mil em espécie, além de dólares e euros. Ele e seus parentes negam qualquer irregularidade.

A investigação apontou que uma assessora do governador foi responsável por sacar, sozinha, R$ R$ 916 mil. O dinheiro teria sido repassado a ela por empresários que venceram licitações para fornecer os alimentos durante a pandemia. O dinheiro não foi localizado pela polícia.