SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - O TJ-GO (Tribunal de Justiça de Goiás) tornou réus sete militares por suspeita de torturar um major durante treinamento do Bope (Batalhão de Operações Especiais), em outubro de 2021, e dizer para a família da vítima que ele estava com covid-19.

A Justiça acolheu denúncia apresentada pelo Ministério Público de Goiás e tornou réus cinco policiais militares e dois coronéis. Os agentes da PM goiana são acusados de torturar o major com varadas, pedaços de madeira e açoites, além de tortura psicológica, durante três dias consecutivos no 12º Curso do Bope, realizado na Base Aérea de Anápolis.

Réus esconderam tortura dos familiares do major. Conforme o MPGO, os militares disseram para a família da vítima que ele estava hospitalizado para tratar uma infecção provocada pelo coronavírus -na época, a pandemia estava no auge no país.


Militares queriam atrapalhar a investigação. De acordo com o Ministério Público, os réus pensavam que a vítima fosse morrer e justificaram a covid para que, em caso de morte, o enterro fosse com caixão lacrado e a família não notasse as marcas de tortura.

Vítima passou mal e foi desligado do curso. Após ser submetido a mais uma sessão de tortura, o major foi atendido por uma equipe médica do Comando de Saúde do centro em que o treinamento era realizado, e foi retirado do curso devido ao seu estado clínico.

Major entrou em coma profundo. Devido à gravidade da violência sofrida, a vítima sofreu lesão neurológica grave, teve ruptura do tecido muscular e foi internada em estado gravíssimo no Hospital de Urgências de Anápolis, em 16 de outubro de 2021. Entretanto, para encobrir o próprio crime, os militares transferiram o major para o Hospital Santa Mônica, em Aparecida de Goiânia, onde o médico que atendeu a vítima no centro de treinamento atuava, em uma tentativa de abafar o caso, conforme a denúncia do Ministério Público.

Família só soube da internação no dia seguinte. De acordo com o MPGO, a esposa da vítima esteve no hospital, mas foi proibida de visitar o marido. Um médico, que é militar e havia atendido o major quando ele passou mal no curso, informou a ela que a vítima estaria com covid e 40% do pulmão comprometido.

Esposa tentou transferir o marido para outro hospital, mas o médico militar tentou intervir. Após insistência da família, a vítima foi transferida para o Hospital Anis Rassi, em Goiânia.

Vítima passou vários dias internado e ficou com sequelas das agressões sofridas. Ele precisa fazer fisioterapia pulmonar e motora, teve 30% de suas funções renais comprometidas, perda de força nos braços e nas pernas, entre outras sequelas.

QUEM SÃO OS RÉUS

Coronel Joneval Gomes de Carvalho Júnior - réu por tentativa de homicídio qualificado e tortura na modalidade de omissão;

Tenente-coronel Marcelo Duarte Veloso - réu por tentativa de homicídio qualificado e tortura na modalidade de omissão;

Coronel David de Araújo Almeida Filho - réu por tentativa de homicídio qualificado e tortura na modalidade de omissão - ele foi o médico que

atendeu a vítima e, segundo o MPGO, tentou evitar transferência para o hospital de escolha da família;

Capitão Jonatan Magalhães Missel - réu por tentativa de homicídio qualificado e tortura;

Sargento Erivelton Pereira da Mata - réu por tortura;

Sargento Rogério Victor Pinto - réu por tortura;

Cabo Leonardo de Oliveira Cerqueira - réu por tortura.

Réus estão proibidos de se aproximar das vítimas e das testemunhas. Justiça de Goiás também proibiu que eles participem de cursos e treinamentos.

Justiça rejeitou pedido para afastar os réus de suas atividades e tenha suas armas recolhidas. O Tribunal disse não haver razão para o afastamento porque, desde a ocorrência do crime em 2021, não há relatos de más condutas dos réus.

Audiência de qualificação do caso deve acontecer em 12 de setembro deste ano. O TJGO determinou, ainda, a formação de um conselho de justiça, composto por militares, para definir a sentença aos réus, em caso de condenação.

PMGO diz que adotou "todos os procedimentos cabíveis" na época em que os fatos ocorreram. O UOL não conseguiu contato com as defesas dos militares denunciados. O espaço segue aberto para manifestação.