CLIMA

A plataforma mundial que coleta dados ambientais, intitulada CDP, divulgou, na última semana, uma baixa tendência no estudo de vulnerabilidade climática para mapear os riscos de agora e do futuro no Brasil. Ao todo, 244 cidades reportaram à ferramenta os dados. No país, apenas 86, dos mais de cinco mil municípios, enviaram espontaneamente as informações. Isso indica que as cidades não possuem mecanismos de accountability, ou seja, de transparência para sistematizar os dados sobre o assunto.

De acordo com o 6º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), os impactos ambientais no mundo são uma realidade. Com o aumento de 1,1°C na temperatura terrestre, houve a aceleração de mudanças no sistema climático. No Brasil, o problema foi perceptível devido ao aumento de chuvas registrado nos últimos 20 anos. Durante o período, houve 18 mil ocorrências de inundações, enchentes e deslizamentos e mais de seis milhões de desabrigados.

Para Miriam Garcia, diretora associada de engajamento político CDP Latin-American, as cidades e municípios são os primeiros na cadeia de impacto dessas mudanças, mas a maioria não tem noção dessa realidade pela falta de dados. Na plataforma, porém, se observa um crescimento do interesse dos gestores no compartilhamento de dados ano a ano, o que a especialista chama de um "comprometimento implícito em participar da agenda".

"Esse processo de transparência busca gerar novos esforços para mitigar e para fortalecer as ações de adaptação frente às mudanças do clima. Geração de dados transparentes embasam uma tomada de decisão pública baseada em evidências, o que é necessário em um mundo mais imprevisível pelas mudanças do clima. A lógica do reporte e da transparência, acreditamos que gera insights para tomadas de decisão e leva à ações mais ambiciosas para resolver o problema", explicou.

Pontuação

Dentro do Estudo de Vulnerabilidade Climática de 2022, há um sistema de pontuação que elenca as cidades conforme o engajamento em soluções climáticas que apresenta, como por exemplo, se reportam os dados de forma pública ou possuem inventário de quantidade de gases de efeito estufa.

Somente 10% das cidades, a nível mundial, ganhou esse status e a única cidade brasileira que pontua como líder é o Rio de Janeiro. A colocação deve-se à criação de uma rede de 33 estações telemétricas que enviam dados, em tempo real, sobre enchentes e deslizamentos a uma central, o que possibilita antever os problemas. "Das mais de mil cidades, apenas 122 ao redor do mundo é que têm [o status de líder]. No sistema anual de 2022, a única foi o Rio de Janeiro, mas todas podem começar a jornada a partir do momento em que estejam", observa a especialista.

A preocupação governamental anunciada na última semana pela ministra Marina Silva, ajudaria no processo de prevenção, segundo Miriam.

"Cientificamente está provado que algumas cidades estão mais expostas a essas mudanças, sabemos quais são os impactos. Sabemos que entender o que está acontecendo é a primeira parte para se ter uma boa gestão do problema. O CDP tem como premissa o trabalho em conjunto com governos para compartilhar esses dados", relacionou.