ENTREVISTA
Cantor, escritor e o que se convencionou chamar ultimamente de digital influencer, denominação para aqueles que possuem grande contingente de seguidores em suas mídias sociais. Isto, entretanto, não diz o principal sobre padre Fábio de Melo, um fenômeno de popularidade. Se na aparência, ao primeiro olhar de um desavisado, sua principal atribuição não se adivinha, bastam alguns minutos para perceber a forte marca da religião presente na postura, nas palavras e nos gestos do sacerdote famoso em todo o país. Em visita ao Recife, de Melo conversou com a reportagem do Diario e falou sobre temas como poder público, situação do país, combate à pedofilia e sua atuação nas mídias sociais. Ele participou de dois jantares musicais, promovidas pela Comunidade Católica Obra de Maria, na segunda e terça-feira. Nos dois dias, a comunidade arrecadou R$ 62 mil, mas a expectativa é chegar a R$ 300 mil com a campanha.
Algo o tocou de forma especial nesta tragédia em Moçambique?
Acho que a gente fica naturalmente comovido com o sofrimento do outro. Ele nos invade. É impossível ficar indiferente, mas parece que quando acontece em uma região em que o sofrimento já faz parte da agenda, nós nos sentimos mais motivados a agir com urgência. Algo precisa ser feito porque eles não têm nem o necessário para recomeçar. Se já não tinham para viver, imagina para isto. Quem dera apenas estas duas noites aqui pudessem resolver o problema. Acho que no mundo onde existe tanto ódio, medo, assombro, é importante poder dizer que há brasileiros nestes lugares, que o Brasil está saindo de si pra levar alento espiritual e material.
Acredita que a ação efetiva do poder público no local poderia ter minimizado os efeitos da tragédia?
No caso de Moçambique, há um descrédito muito grande em relação ao que se pode esperar das autoridades, sobretudo porque essa região em que a Obra de Maria ajuda ficou muito esquecida por causa da guerra civil. Então, não há recursos. Fico pensando que nós não podemos esperar tanto dos poderes públicos porque nem sempre eles estão comprometidos com o bem comum. É lamentável, mas uma realidade que precisamos enfrentar. E acredito que a transformação do mundo acontece justamente quando cada cidadão percebe que há um detalhe deste mundo que compete a nós transformarmos. Sempre digo assim: há muito sofrimento no mundo, mas aqueles que Deus me permitiu enxergar, quero cuidar. Se não posso sozinho, quero pelo menos estar unido àqueles que cuidam.
Falando em poder público, como avalia a situação do Brasil, atualmente?
Estamos vivendo um momento de muita conscientização política e peço demais a Deus que este entendimento nos torne unidos e não tão divididos como a gente vê hoje. Parece que estamos entre “nós” e “eles” e acho que não é assim. Precisamos entender que somos um povo necessitado de reconstrução política, social.
O que pensa a respeito do combate incisivo do papa Francisco quanto à questão da pedofilia?
Acho muito positiva essa facilidade de falar do tema. Há mais de 10 anos participo de uma iniciativa que se chama Todos contra a Pedofilia, em que a partir da iniciativa de um procurador do estado de Minas Gerais, iniciou-se a CPI da pedofilia, com um amplo apoio social. Fico muito feliz em saber que estes assuntos, que até então ficavam guardados nas gavetas, hoje estão sendo colocados porque é a partir desta clareza que conseguimos combater e retirar isso do nosso meio.
O senhor recebe críticas por ter certa irreverência nas mídias sociais? E como responde a elas?
Sempre tenho para mim que rede social é lugar de encontro. É ali que eu faço amizades inusitadas e tenho a oportunidade de conversar com pessoas que não passariam na porta da minha igreja. Tenho um modo muito particular de fazer isso, que está intimamente associado ao meu jeito de ser. Eu, graças a Deus, não precisei criar um personagem para as redes sociais. Sou eu mesmo. Um homem que tem muita seriedade no dia a dia, mas que adora a leveza que o humor nos traz.