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Os ônibus deixaram de ser uma opção de deslocamento para mais da metade dos brasileiros (56,9%) que utilizavam o veículo no Brasil. Menos de um terço da população (32,1%) continua com demanda cativa para o meio de transporte. Pouco conforto, falta de flexibilidade de horários e rotas, além do elevado tempo de deslocamento, são as principais explicações para o “abandono” dos coletivos. Os dados compõem a pesquisa CNT Mobilidade da População Urbana, divulgada na manhã desta quarta-feira (7/8).
O levantamento mostrou que, nos últimos sete anos, os deslocamentos realizados no transporte coletivo tiveram participação reduzida em 18,1 pontos percentuais. Os ônibus continuam sendo o principal meio de transporte usado no país, com representatividade de 30,9% dos deslocamentos, mas, em 2017, essa taxa era de 45,2%. Já o carro próprio, que é a segunda opção mais usada no país, subiu de 22,2% para 29,6% no mesmo período. A utilização de motos dobrou ao passar de 5,1% para 10,9%. Na média geral, o carro próprio foi a primeira opção entre aqueles que afirmaram ter substituído os ônibus, seguido por andar a pé, serviços de aplicativos, moto própria e bicicleta.
“Esses números são resultado de uma série de fatores que marcam uma crise aguda do transporte coletivo, acelerada pela pandemia. A dinâmica urbana da população tem mudado, e falta flexibilidade dos ônibus em atenderem à mudança. O transporte ainda opera em uma lógica de jornada de trabalho do século 20. No horário de pico, é insustentável”, pondera o especialista em mobilidade urbana, André Veloso.
Conforme o pesquisador, o problema dos ônibus é um ciclo vicioso, em que, quanto menos usuários, maior o preço da tarifa. Mas, se a passagem aumenta, mais pessoas abandonam os coletivos. “É um modelo de financiamento de perda de usuários e perda de receita do sistema. A tarifa simboliza uma melhora na qualidade que não tem acontecido. Deveria tornar o transporte mais rápido, com faixas exclusivas, mais confortável, com frota, mas acaba apenas suprindo um abandono”, continua ele, que integra o movimento Tarifa Zero.
O resultado foi uma alta no número de pessoas com propriedade de veículos particulares em todas as classes sociais. Comparando com 2017, último ano que a pesquisa havia sido feita até então, a quantidade de carros por residência, na classe A, passou de 1,91 para 2,15 veículos. Na B, foi de 1,02 para 1,26, por exemplo. Na classe A, 98,2% das pessoas possuem carro. Na B, 91,7%; na C, 47,2%; nas D e E, 7,4%. A média geral é de 51,8% das pessoas com carros e 20,8% com motos.
Se o preço da tarifa foi apontado como um dos motivos da substituição do uso de ônibus para parte dos usuários (11,8%), a troca também não é muito vantajosa. O carro próprio foi elencado pela pesquisa CNT como o segundo transporte mais caro, causando um custo diário de cerca de R$ 29, atrás apenas do táxi (R$ 45,69). Nas avenidas, a realidade é um congestionamento em horários de pico comparável ao da cidade de São Paulo.
“Belo Horizonte tem uma frota de veículos enorme, de mais carros que habitantes. Isso é péssimo para a mobilidade urbana tanto em congestionamento quanto em sustentabilidade. Nesse caso, as faixas exclusivas aos ônibus podem, ao mesmo tempo, agilizar o tempo no trânsito para os usuários e servir como atrativo para que os motoristas deixem os carros em casa e optem pelos coletivos. Mas precisa ser política pública”, afirma o especialista Veloso.
As pessoas das classes D e E são as que menos têm veículos próprios e também são as que têm tempo de deslocamentos mais longos. “Quanto mais baixa a classe social das pessoas, maior é o tempo gasto em viagens. As classes D/E têm o seu tempo de deslocamento 10 minutos maior em relação à classe A. Como são os meios coletivos de transporte, principalmente o ônibus, aqueles mais utilizados pelas classes C e D/E, os dados comprovam que as políticas de mobilidade urbana carecem de medidas e infraestruturas de priorização da circulação do transporte público”, analisam os pesquisadores no levantamento.
A maior parte dos deslocamentos de ônibus (80%) são realizados por usuários das classes C, D e E. “Isso revela a importância do transporte público coletivo como um meio de deslocamento acessível às classes sociais com menor poder aquisitivo e reforça a necessidade da implementação de medidas voltadas para o provimento de infraestrutura, com foco na melhoria da eficiência da prestação do serviço e para a promoção da modicidade tarifária”, diz a pesquisa.
São também os integrantes das classes D e E os que relataram ter menos deslocamentos semanais. A pesquisa da CNT mapeou quantos brasileiros de cada grupo social precisam se deslocar todos os dias. Na classe A, 72,1% afirmaram sair diariamente. Já nas classes D e E, o percentual cai para 47,3%.
O maior uso de veículos particulares tem impacto direto no meio ambiente. Os carros emitem 66,5% do gás carbônico gerado em função de deslocamento nos centros urbanos. Os ônibus geram 15,7%, mesmo sendo a principal opção de transporte usado atualmente. "Não existe uma solução única, precisa ser um conjunto de ações de mobilidade urbana e gestão de transporte público. No caso de Belo Horizonte, a ampliação do metrô é urgente, além do incentivo de outros coletivos, como o ônibus suplementar, que só vem perdendo frota. Os moradores precisam de mais alternativas além do veículo individual", analisa André Veloso.
A reportagem demandou a BHTrans, a Secretaria de Estado de Infraestrutura, Mobilidade e Parcerias (Seinfra) e o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH) sobre os problemas apontados nos ônibus e as iniciativas de melhora e aguarda retorno. A matéria será atualizada com as respostas.
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O levantamento mostrou que, nos últimos sete anos, os deslocamentos realizados no transporte coletivo tiveram participação reduzida em 18,1 pontos percentuais. Os ônibus continuam sendo o principal meio de transporte usado no país, com representatividade de 30,9% dos deslocamentos, mas, em 2017, essa taxa era de 45,2%. Já o carro próprio, que é a segunda opção mais usada no país, subiu de 22,2% para 29,6% no mesmo período. A utilização de motos dobrou ao passar de 5,1% para 10,9%. Na média geral, o carro próprio foi a primeira opção entre aqueles que afirmaram ter substituído os ônibus, seguido por andar a pé, serviços de aplicativos, moto própria e bicicleta.
“Esses números são resultado de uma série de fatores que marcam uma crise aguda do transporte coletivo, acelerada pela pandemia. A dinâmica urbana da população tem mudado, e falta flexibilidade dos ônibus em atenderem à mudança. O transporte ainda opera em uma lógica de jornada de trabalho do século 20. No horário de pico, é insustentável”, pondera o especialista em mobilidade urbana, André Veloso.
Conforme o pesquisador, o problema dos ônibus é um ciclo vicioso, em que, quanto menos usuários, maior o preço da tarifa. Mas, se a passagem aumenta, mais pessoas abandonam os coletivos. “É um modelo de financiamento de perda de usuários e perda de receita do sistema. A tarifa simboliza uma melhora na qualidade que não tem acontecido. Deveria tornar o transporte mais rápido, com faixas exclusivas, mais confortável, com frota, mas acaba apenas suprindo um abandono”, continua ele, que integra o movimento Tarifa Zero.
O resultado foi uma alta no número de pessoas com propriedade de veículos particulares em todas as classes sociais. Comparando com 2017, último ano que a pesquisa havia sido feita até então, a quantidade de carros por residência, na classe A, passou de 1,91 para 2,15 veículos. Na B, foi de 1,02 para 1,26, por exemplo. Na classe A, 98,2% das pessoas possuem carro. Na B, 91,7%; na C, 47,2%; nas D e E, 7,4%. A média geral é de 51,8% das pessoas com carros e 20,8% com motos.
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“Belo Horizonte tem uma frota de veículos enorme, de mais carros que habitantes. Isso é péssimo para a mobilidade urbana tanto em congestionamento quanto em sustentabilidade. Nesse caso, as faixas exclusivas aos ônibus podem, ao mesmo tempo, agilizar o tempo no trânsito para os usuários e servir como atrativo para que os motoristas deixem os carros em casa e optem pelos coletivos. Mas precisa ser política pública”, afirma o especialista Veloso.
As pessoas das classes D e E são as que menos têm veículos próprios e também são as que têm tempo de deslocamentos mais longos. “Quanto mais baixa a classe social das pessoas, maior é o tempo gasto em viagens. As classes D/E têm o seu tempo de deslocamento 10 minutos maior em relação à classe A. Como são os meios coletivos de transporte, principalmente o ônibus, aqueles mais utilizados pelas classes C e D/E, os dados comprovam que as políticas de mobilidade urbana carecem de medidas e infraestruturas de priorização da circulação do transporte público”, analisam os pesquisadores no levantamento.
A maior parte dos deslocamentos de ônibus (80%) são realizados por usuários das classes C, D e E. “Isso revela a importância do transporte público coletivo como um meio de deslocamento acessível às classes sociais com menor poder aquisitivo e reforça a necessidade da implementação de medidas voltadas para o provimento de infraestrutura, com foco na melhoria da eficiência da prestação do serviço e para a promoção da modicidade tarifária”, diz a pesquisa.
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A reportagem demandou a BHTrans, a Secretaria de Estado de Infraestrutura, Mobilidade e Parcerias (Seinfra) e o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH) sobre os problemas apontados nos ônibus e as iniciativas de melhora e aguarda retorno. A matéria será atualizada com as respostas.