Metade dos casos mundiais de Covid-19 estão na América: do Canadá à Argentina, registram-se cerca de 220.000 mortes e mais de quatro milhões de contágios. E é neste lado do mundo que pontificam os campeões de casos, Estados Unidos e Brasil. Ninguém tem a menor dúvida de que o Brasil concorre à medalha de ouro na Olimpíada da morte pela Covid-19. Um título que não dignifica ninguém, tanto é que o único país na frente, os EUA, quer passar a dianteira, que detém atualmente, para cá. Não por acaso, o presidente Trump voltou a dizer, neste fim de semana, que o Brasil não controla a doença.

E o que o Brasil tem em grande quantidade, além de população e infecções pelo coronavírus? Acertou quem disse desigualdade social, quesito na qual carregamos a medalha de prata, perdendo apenas para o Catar. É aqui, neste país de alguns absurdamente ricos, outros abonados e milhões de pobres, que uma tragédia como a pandemia encontra as condições ideais para espalhar seu rastro destruidor.

Os altos índices de informalidade fazem da quarentena um luxo ao qual poucos têm acesso. As dificuldades de se manter o isolamento social são óbvias e incluem assentamentos informais sem serviços de saúde e favelas onde as pessoas dormem amontoadas; a necessidade de sair para trabalhar de milhões de pessoas que vivem com o que ganham por dia, além da precariedade do transporte que aglomera a população trabalhadora.

No Brasil, se implantou a quarentena possível em um contexto tão desigual e, mesmo assim, ela é até agora a mais longa e com piores impactos na economia no mundo. Neste contexto, o surto de coronavírus promete caminhar desimpedido. Afinal não temos coordenação central para gerenciar e garantir o atendimento – aliás, nem titular no cargo de ministro da saúde o país tem. Faltam testes que dimensionem o alcance da pandemia; transparência e confiabilidade dos dados e responsabilidade das autoridades, divididas entre negacionistas e populistas, com espaço para uma velha mazela brasileira: muita corrupção.