Brasil247 - Planta popularmente identificada com aspectos negativos, como o de matar neurônios e de ser porta de entrada para drogas mais pesadas, a maconha vem sendo vista de outro ângulo. No Brasil, ela passou recentemente a ser entendida e consumida como remédio por uma parcela da população. Essa virada de reputação não acontece apenas aqui: é um fenômeno global. Em 2014, o reconhecimento de suas propriedades medicinais ganhou novo fôlego no país, graças à popularização do canabidiol, um de seus compostos, e deu origem a uma indústria pujante. A reportagem é do Valor Econômico
Atualmente, cerca de 30 países já têm leis para garantir o acesso a produtos feitos de cânabis para tratar dezenas de doenças. Estima-se que, em 2023, o mercado de medicamentos feitos com a droga valerá US$ 40 bilhões. Segundo estudo das consultorias New Frontier e Green Hub, o Brasil tem cerca de 3,4 milhões de pacientes que poderiam ser beneficiados por essas terapias, que movimentariam cerca de US$ 1,4 bilhão por ano. Mas, com apenas 3.182 pessoas usando remédios à base da planta legalmente em dezembro de 2018, o país ainda engatinha no desenvolvimento desse mercado.
Nos EUA
A indústria do cânhamo é uma das que mais crescem nos EUA. Com 1,8 mil hectares de área cultivada, o Colorado é líder na produção de uma das mais badaladas commodities agrícolas do país. O faturamento com a produção de extrato bruto de canabidiol derivado de cânhamo foi de US$ 290 milhões em 2017, segundo a publicação "Hemp Industry Daily", e deve chegar a US$ 1,65 bilhão em 2021 - crescimento de 500% em quatro anos. No total, dez Estados já cultivam cânhamo e outros sete preparam legislações sobre o tema. O interesse na commodity é tão grande que em dezembro o Congresso americano aprovou uma medida para legalizar o cultivo da variedade de cânabis em nível federal, pondo fim a uma proibição de 81 anos.
No Brasil
Sob pressão de pacientes, a Anvisa começou a conceder autorizações de importação em caráter excepcional, e o Conselho Federal de Medicina publicou resolução autorizando a prescrição do produto por neurologistas e psiquiatras. No início de 2015, a agência criou regulamentação específica para a importação de produtos à base de cânabis. Ela oficializava o regime de exceção e aumentava o prazo de validade da autorização. Mas, até hoje, importar é a única forma de conseguir o produto legalmente no país. O processo precisa ser individual, mediante um pré-cadastro, e autorizado pelo presidente da vigilância sanitária.