A economia brasileira enfrenta uma crise de longo prazo desde 1990, que resultou em desindustrialização e baixo crescimento, e uma crise econômica desde 2014 definida por uma crise fiscal, uma forte recessão e uma recuperação muito lenta.
Qual a causa fundamental dessa dupla crise? No longo prazo, é a armadilha dos juros altos e do câmbio sobreapreciado, que inviabiliza o investimento na indústria. No curto prazo, é a crise fiscal que impede que o governo realize uma política fiscal expansionista de caráter contracíclico e ampliar o investimento público. O pano de fundo dessas duas crises é o populismo fiscal – é o Estado gastar irresponsavelmente mais do que arrecada e incorrer em déficit público elevado; e o populismo cambial – é o estados-nação (o Brasil, seu setor público e seu setor privado) gastar mais do que arrecada e incorrer em déficit em conta-corrente.
Esta é a visão novo-desenvolvimentista, de centro-esquerda, que defendo. A solução é o ajuste fiscal, cortando a despesa corrente do Estado, não o investimento público; é baixar os juros; é administrar a taxa de câmbio impedindo que ela se aprecie; é aumentar a rentabilidade da indústria, tornando-a competitiva; é fazer a reforma da previdência, aumentar os impostos, e estimular o investimento público e privado na infraestrutura. Essa é uma política que exige sacrifício dos trabalhadores e principalmente dos rentistas, que resistem à baixa dos juros, e não querem nem ouvir falar em depreciação do real.
A perspectiva dos liberais ou da direita é muito diferente. Para eles existem apenas dois problemas – o populismo fiscal e os salários altos demais (que “não cabem no PIB”). A proposta é reduzir os salários através do ajuste fiscal que corte indiscriminadamente despesa corrente e investimento, é diminuir os direitos trabalhistas dos trabalhadores, e diminuir as despesas sociais do Estado; é manter a taxa de juros elevada e a taxa de câmbio apreciada.
A perspectiva liberal ou neoliberal é de luta de classes de cima para baixo. Os custos do ajuste ficam apenas para os assalariados. Não se mexe nos juros nem no câmbio; os rendimentos dos rentistas ficam, assim, plenamente preservados.
Hoje, as elites brasileiras, inclusive as industriais, estão dominadas por essa perspectiva. Por essa visão das coisas que está em plena crise nos países ricos, onde a ordem neoliberal está ameaçada pelo populismo de direita. Elas não hesitaram em apoiar um golpe parlamentar; e agora parecem estar dispostas a apoiar até um candidato fascista para impedir que um candidato de centro-esquerda seja eleito. Não é surpreendente que rentistas e financistas ajam assim; eles não têm compromisso com a nação e seu povo. É, porém, muito triste ver também empresários embarcando nessa luta de classes neoliberal que manterá a economia brasileira semiestagnada e a população cada vez mais indignada.