Em meio aos incontáveis becos que dão acesso às vielas da comunidade de Roda de Fogo, na Zona Oeste do Recife, uma cena se destaca a cada noite. No chão de cimento batido, Stheffany Rafaela da Silva, de 11 anos, voluntariamente dá aulas de reforço escolar a outras crianças. Às vezes sem mais que um lápis na mão e um olhar atento, 15 meninos e meninas se reúnem diariamente para aprender com a garota.
As aulas começaram no ano passado como uma brincadeira, quando uma amiga da comunidade decidiu brincar de “escolinha”, dando a Stheffany a primeira experiência como professora. Pouco tempo depois, a amiga mudou-se da comunidade e, assim, coube a Stheffany o papel de transformar os becos e os quase inexistentes recursos em sala de aula.
“Dou aula de todas as matérias, todos os dias. Não escolho apenas um assunto para dar aula. Fazemos sempre todas as que temos nos livros, no tempo que dá. E todo mundo vem, raramente alguém falta. Exceto na sexta-feira”, conta.
Apesar de não escolher um único tema para lecionar, Stheffany elegeu a matemática como sua disciplina favorita, seja para estudar ou passar para as crianças a quem dá aula. Apesar da pouca idade, ela já tem a certeza da profissão que quer desempenhar no futuro.
“Quero fazer faculdade para ser professora, primeiro, para dar aula de tudo. Depois, só de matemática, porque é o que eu mais gosto”, afirma Stheffany.
A maioria dos estudantes de Stheffany tem menos de dez anos, mas a idade não é barreira para a desenvoltura da pequena professora. A garota chega a ter, inclusive, alunos mais velhos que ela, a exemplo de um de 12 anos, por exemplo.
No colégio onde estudava, a Escola Pintor Lauro Villares, a garota já era conhecida por das aulas nos becos da Roda de Fogo. Por causa disso, Stheffany ganhou uma bolsa em uma escola particular da região, onde começou a estudar no fim de abril deste ano, custeada por uma pessoa que se sensibilizou com a história da pequena professora.
Para incentivar as crianças a irem às aulas, sem muitos recursos, Stheffany pede na comunidade doces e materiais para cozinhar, com a mãe, guloseimas e oferecer aos estudantes. Sustentando a casa com o dinheiro do Bolsa Família, a mãe de Stheffany, Rafaela da Silva, de 29 anos, vê na filha a realização de seus sonhos. Segundo ela, desde muito nova, a garota demonstra gosto por estudar.
“Ela nunca deu trabalho com relação aos estudos, sempre foi uma menina muito calma, exceto, claro, pelos momentos de estresse, como toda criança tem. Todos os dias, à noite, ela dizia que ia brincar de escolinha. Eu sempre me preocupava para que ela não ficasse na casa dos outros, perturbando”, diz Rafaela.
Durante a semana, são raros os momentos em que o lazer de Stheffany não tem a ver com estudo. Após voltar da escola, ela passa as tardes no Centro Comunitário da Paz (Compaz) Escritor Ariano Suassuna, no bairro do Cordeiro, na Zona Oeste do Recife. No local, ela participa de aulas de dança, natação e da oficina de artesanato “Faça você mesmo”.
“Nos dias de hoje, está tão difícil fazer as crianças quererem estudar. Tenho muito orgulho dela. Eu saí da escola no 9º ano do ensino fundamental e sempre digo a ela que continue com essa sede por estudo. Quero que ela siga em frente e alcance todos os sonhos que tiver”, ressalta a mãe, orgulhosa.