Do UOL, em São Paulo
O diretor geral do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), Luiz Eduardo Barata Ferreira, afirmou na noite desta quarta-feira (21) que o apagão que atingiu as regiões Norte e Nordeste na tarde de hoje foi provocado por uma falha em um disjuntor na subestação de Xingu, responsável pelo escoamento da energia gerada pela usina de Belo Monte, no Pará.
"Um disjuntor na subestação de Xingu não funcionou de forma adequada. As razões ainda não sabemos, precisamos averiguar", disse Ferreira em entrevista a jornalistas no Rio de Janeiro.
O diretor geral do ONS afirmou ainda que todos os Estados das regiões Norte e Nordeste foram afetados pelo apagão, com exceção do Acre, Roraima e Rondônia. As regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste, segundo ele, foram pouco afetadas, mas também registraram problemas. "[Nas regiões] Norte e Nordeste a repercussão foi bem mais acentuada. Tivemos praticamente um colapso, um desligamento de todas as cargas dessas duas regiões", disse.
Por volta das 19h, o restabelecimento de energia já atingia cerca de 50% da região Nordeste e praticamente 100% da região Norte, segundo o órgão. As cidades com mais lentidão no processo de religamento de energia eram João Pessoa, Maceió, Salvador, Aracaju e Natal.
Uma "perturbação" na estrutura nacional de produção e transmissão de energia elétrica provocou hoje o desligamento de cerca de 18 mil megawatts --22,5% da carga total do sistema de energia do país, impactando sobretudo no Norte e Nordeste.
"Perturbação" é o mau funcionamento ou desligamento forçado de um ou mais componentes do sistema. Segundo Edmilson Moutinho dos Santos, professor do IEE (Instituto de Energia e Ambiente) da USP (Universidade de São Paulo), uma perturbação pode acontecer por diversos motivos, como pico de carga, descarga elétrica decorrente de tempestade ou mesmo algum defeito em uma unidade de energia importante, o que acarreta um descarregamento em cadeia. "Falar somente em perturbação quer dizer pouco, porque pode dizer qualquer coisa."
Os ministros das Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, e da Casa Civil, Eliseu Padilha, já haviam feito referência a problemas enfrentados em uma linha de transmissão da usina de Belo Monte, no Pará. "Se cai a linha de transmissão, para onde era transmitida a energia, há apagão", disse Padilha.
Cirurgias canceladas e confusão no trânsito
O fim de tarde e início da noite desta quarta-feira (21) foram de caos e transtornos para os moradores das grandes cidades do Norte e Nordeste. Além do trânsito caótico causado pelos semáforos desligados, problemas como falta de água, paralisação de transporte público, suspensão de cirurgias e aulas foram registrados nos locais.
Em Pernambuco, o Hospital das Clínicas precisou suspender as cirurgias por falta de energia. As aulas nos campi da Universidade Federal de Pernambuco no Recife, em Vitória e em Caruaru foram suspensas esta noite. A Universidade Católica de Pernambuco também informou que não terá aulas. O metrô parou de circular e deixou os passageiros sem opção de retorno para casa após o trabalho.
Em Salvador, o metrô ficou parado por mais de três horas. Os trens urbanos também pararam, deixando os pontos de ônibus lotados. O elevador Lacerda foi desligado.
Em Alagoas, a Companhia de Saneamento informou que todas as estações de abastecimento de água foram paralisadas, e lançou um apelo para que a população economize água, visto que o restabelecimento total só ocorre em 48 horas após a volta da energia.
O mesmo problema foi informado pela companhia de água da Paraíba, que alega que o abastecimento foi comprometido e só deve ser totalmente normalizado na sexta. Já Teresina ficará sem fornecimento por tempo indeterminado. De acordo com a Eletrobras Distribuição Piauí, 1,2 milhão de casas no Estado ficaram sem energia elétrica. (Colaborou Carlos Madeiro)