Carro do relojoeiro foi abordado nos acessos à favela
Uma falha durante a operação das Forças Armadas na Vila Kennedy, na Zona Oeste do Rio, deixou um morador da comunidade detido por 36 horas. No momento da abordagem, Carlos Alberto Dória Jr, de 26 anos, um relojoeiro, voltava com um amigo de uma festa na madrugada do dia 3 de fevereiro.
De acordo com o jornal 'Folha de S. Paulo', o Exército parou o carro do relojoeiro nos acessos à favela. Carlos e seu amigo foram revistados e seus documentos foram checados. Como não encontraram nada no carro onde estavam, os dois foram liberados em seguida.
No entanto, um outro homem teria chegado ao local e desacatado os militares. Segundo a reportagem, ele apresentava sinais de embriaguez. Os militares, então, usaram spray de pimenta para contê-lo. Neste momento, a nuvem invadiu o veículo onde estava Carlos e seu amigo, que contestaram a ação.
Após o desentendimento, um sargento também usou um spray de pimenta contra eles. O amigo, contudo, conseguiu fugir para o interior da favela e Carlos ficou sozinho no bloqueio das Forças Armadas.
Quando perceberam que o amigo havia fugido, os militares ordenaram que o relojoeiro deitasse com o peito e a cabeça no chão, colocando as mãos para trás. "Eu disse que não tinha necessidade, porque eu já tinha passado pela revista e já tinha sido liberado. O erro foi deles de jogar spray dentro do meu carro sem motivo. Nós apenas desembarcamos e questionamos aquilo", contou Carlos.
Carlos foi preso em flagrante por desobediência. O morador foi levado, dentro de uma caçamba de do Exército, para a Vila Militar, em Deodoro, localizado a 10 km da Vila Kennedy.
Advogados militantes dos direitos humanos e a Defensoria Pública da União foram acionados enquanto Carlos estava detido na instalação militar, que não abarca casos do tipo. O civil precisaria ser transferido a uma delegacia da Polícia Civil, mas isso só aconteceu seis horas mais tarde, às 18h, quando foi levado a uma unidade de Bangu.
Segundo o jornal, Carlos ficou em pequena cela durante a noite. Apesar do crime de desobediência prever uma pena de 15 dias a dois anos de reclusão, o acusado deve ser logo liberado - assim que assinar um termo se comprometendo a comparecer em juízo.
No caso do Código Penal Militar, a pena prevista é de até seis meses, mas não é referente a casos de civis. "Ele não deveria ter ficado nem uma hora detido. Houve excessos claros nessa questão", explicou o defensor público da União Thales Arcoverde.
A liberação de Carlos só ocorreu um pouco antes das 18h, 36 horas depois da prisão. Até lá, o morador ficou três horas na viatura do Exército, junto com um preso por assalto a mão armada e outro homem, detido por agressão doméstica.