Ação explode porta da frente de presídio para resgatar assaltante Romário Gomes Silveira, vulgo Romarinho. 92 escapam
O relógio ainda não havia chegado à meia noite de segunda-feira quando os primeiros tiros, vindos da mata vizinha, começaram a atingir as torres de guarda da penitenciária de segurança máxima Romeu Gonçalves Abrantes, a PB1, em João Pessoa. O local, que abrigava 681 presos, 21 a mais do que a capacidade máxima, contava no momento com 17 agentes penitenciários e dois policiais militares de plantão. A equipe de segurança respondeu aos disparos, mas teve que recuar e se abrigar ao perceber que o poder de fogo dos criminosos poderia derrubar um avião. Metralhadoras .50, .40, fuzis calibre 762, capazes de perfurar paredes de concreto, e pistolas 9mm de uso restrito das Forças Armadas foram usadas na ação que libertou ao menos 92 presos.
Enquanto um grupo mirava as guaritas do presídio, quatro veículos se aproximaram e fizeram de alvo o alojamento dos guardas e o portão principal. Com os agentes penitenciários e policiais acuados pelo poderio bélico, os criminosos explodiram o portão principal e lateral da PB1. Cerca de 20 homens armados invadiram a penitenciária e se dirigiram diretamente para a cela de número 5 do pavilhão 2. Lá estava Romarinho, apelido do detento Romário Gomes Silveira, 29, notório ladrão de bancos e carros fortes no Estado. "Romarinho foi o primeiro a sair da cela. Ele recebeu um fuzil AK47 e a partir daquele momento comandou a ação. Claramente a ação foi direcionada a esse grupo [do Romarinho]. Esse elemento foi preso duas vezes e será novamente", afirmou o tenente-coronel Sérgio Fonseca, secretário de Administração Penitenciária da Paraíba, em entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira.
De acordo com o policial, “um pequeno grupo [de presos] sabia [do resgate], das facções, mas os outros foram na onda. Tanto é que as imagens [do circuito interno do presídio] mostram que depois que o Romarinho é resgatado eles jogam o alicate no chão e os outros presos que começam a abrir as grades. Uma leva aproveitou a situação”. A Paraíba sofre há anos com conflitos nos presídios e nas ruas envolvendo duas facções nativas, Okaida e Estados Unidos. Não se sabe se Romarinho é afiliado a algum destes grupos ou se atua de forma independente. Para garantir que ele e outros três integrantes do seu bando conseguissem fugir, criminosos armaram um bloqueio na rodovia PB008, que dá acesso à penitenciária. O tenente da Polícia Militar Erivaldo Silva Moneta, 33, estava na Academia de Polícia Civil a poucos quilômetros da ocorrência, e se dirigiu ao local. Foi baleado na cabeça e morreu na manhã desta segunda-feira.
Romarinho ganhou fama em fevereiro deste ano, logo após ser preso durante operação da Polícia Federal por suspeita de participação no assalto ao banco do Shopping Partage, em Campina Grande. Posteriormente foi descoberto que o criminoso estava lotado no gabinete do prefeito Romero Rodrigues (PSDB), com vencimentos de quase 2.000 reais mensais, segundo jornais locais. À época a prefeitura divulgou nota lamentando o ocorrido: “A prefeitura (...) lamenta a acusação de envolvimento do servidor comissionado Romário Gomes Silveira, lotado no Gabinete do Prefeito, no recente assalto à agência da Caixa Econômica Federal. Ao mesmo tempo informa que o citado servidor foi exonerado pelo prefeito”. O assaltante foi solto dias depois após audiência de custódia, para ser preso novamente em agosto pelo Grupo de Operações Especiais sob suspeita de explodir um carro-forte em Lucena, no interior do Estado.
Em entrevista à imprensa local o governador Ricardo Coutinho (PSB) classificou a ação na PB1 de um “ataque de uma organização criminosa, utilizando recursos de terrorismo, utilizando armas que as polícias são proibidas de ter, como é o caso da metralhadora .50”. Ele também criticou a soltura de Romarinho após o episódio do assalto ao banco de Campina Grande.
Até as 11h desta segunda a Secretaria de Administração Penitenciária paraibana informou que 41 presos foram recapturados em ações nas divisas do Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte. Por questões de segurança, escolas municipais e postos de saúde foram fechados “para garantir a segurança de usuários e o bem estar da população”, informou a prefeitura de João Pessoa. A reportagem não conseguiu entrar em contato com a defesa de Romarinho.