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string(7872) "SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Com o aumento de casos de violência doméstica durante a pandemia de Covid-19, a Polícia Militar de São Paulo começou a implementar nesta semana a Patrulha Maria da Penha, que atende pessoas que já sofreram violência e possuem medida protetiva.
O objetivo do programa é dar suporte à vítima e garantir que o agressor cumpra a determinação judicial. A patrulha é formada por ao menos dois policiais, sendo sempre uma mulher, e fornece atendimento integrado com a Polícia Civil e serviços de assistência social, psicólogos e centros de referência da mulher.
O número de denúncias de violência doméstica aumentou em 255% no último ano. A violência contra a mulher puxou a alta, com um crescimento de cerca de 555%. Os cálculos foram realizados a partir de dados do Disque Denúncia (181) da Secretaria de Segurança Pública de SP, obtidos pela reportagem.
O levantamento comparou o primeiro ano de pandemia no estado com o mesmo período do ano anterior, partindo do início da quarentena decretada pelo governo João Doria (PSDB).
Com a implementação do programa, os batalhões da PM devem estabelecer contato com o Judiciário local para terem acesso às medidas protetivas e iniciarem as patrulhas.
Com os nomes em mãos, os policiais visitam as vítimas, dão instruções e agendam o próximo encontro, se necessário. Além do 190, elas são apresentadas ao aplicativo SOS Mulher, que possui um botão de pânico que gera uma ocorrência automática caso o agressor se aproxime.
Apesar de o programa ter sido institucionalizado agora, a tenente-coronel Eunice Rosa Godinho, comandante do 14º Batalhão de Osasco e uma das responsáveis pelo treinamento dos policiais, diz que as práticas estabelecidas sempre fizeram parte da PM de SP, pois todos os policiais são capacitados para atender este tipo de ocorrência. Com a patrulha, alguns agentes irão se especializar.
"O comandante vai identificar aqueles policiais que têm esse perfil mais acolhedor, mais de diálogo, de orientação, de prevenção para que ele atue nesse atendimento", disse, se referindo principalmente aqueles que atuam na Ronda Escolar e no Proerd (Programa Educacional de Resistência às Drogas).
Outra frente do projeto consiste em palestras educacionais para que a mulher consiga identificar que vive dentro de um ciclo de violência.
"Existem mulheres que nascem, crescem e morrem vivendo em um ambiente de violência doméstica e nunca buscam ajuda. Muitas vezes ela não se identifica como vítima de violência porque ela viu isso dentro da família desde muito pequena e acha que é normal."
Na capital, o número de chamados de viaturas por violência doméstica aumentou em 37,6% no ano passado. No interior, este número foi ainda maior, em 44,4%. Na região metropolitana de SP, à exceção da capital, o crescimento foi de 43%. O número de viaturas acionadas aumentou em 42% em todo o estado.
Para a tenente-coronel Godinho, é uma questão lógica. "Se a violência acontece dentro de casa, no momento em que a maioria das pessoas está instada a ficar em casa por conta de uma pandemia, é quase uma regra de três que essa violência aumente."
O isolamento social fez com que os episódios de violência doméstica vividos pela professora F.F., 39, se agravassem. Há pelo menos 15 anos ela vivia em contexto de violência. Conseguiu sair de casa em fevereiro deste ano.
Em quarentena com a família, era vigiada durante o teletrabalho e não tinha permissão para usar o celular sem que o ex-marido soubesse com quem estava falando. A tela do computador precisava estar sempre à altura dos olhos dele.
As ameaças eram constantes. Diversas vezes ele imitou uma arma com as mãos, mirou em sua cabeça e fez movimentos como se estivesse atirando. Quando cozinhavam juntos, ele pegava as melhores facas, apontava em sua direção e fazia o barulho de facadas. E avisava: "Olha como são afiadas, cortam tudo".
No banheiro, a observava no banho. Durante a noite, a observava dormindo. Se ele quisesse ter relações, ela tinha que corresponder porque ele pagava as contas da casa. "Ele chegava perto de mim e eu ficava em pânico", conta F.
Professora do Ensino Fundamental, ao menos metade de seu salário era para a casa. A pedido dele fez empréstimos, se afundou em dívidas e entrou diversas vezes no rotativo do cartão de crédito.
"Parecia que ele queria que eu me enrolasse mais e mais, porque quanto mais enrolada eu ficava mais difícil seria para eu sair do lado dele."
Hoje na casa da mãe, ainda enfrenta ameaças. Diariamente o ex-marido faz rondas em frente ao imóvel.
Ele envia mensagens para o filho buscando informações sobre a mãe. Tenta colocá-lo contra ela e a acusa de alienação parental. O filho, por sua vez, não quer mais ter contato com o pai.
O número de denúncias de violência contra crianças em SP dobrou durante a pandemia. Desde o início da quarentena no estado houve aumento de 109,5% nos casos. No caso de violência contra idosos, o crescimento foi de 59%.
Rita De Cássia D'Ambrosio, 56, fundadora e presidente da Casa Help, um espaço de acolhimento para mulheres vítimas de violência e seus filhos, conhece poucos casos em que apenas a mulher sofreu violência.
"Grande parte desse ciclo sempre atinge mães e filhos. É raro um caso que não atinge a família", conta.
Durante a pandemia, viu explodir a procura por sua instituição. Em 2020, aumentou em 70% o número de abrigados no local. Neste ano, o crescimento está em 57%. Não consegue calcular o número de casos que não conseguiu atender.
"Tenho uma média de 16 novas solicitações por dia. Recebo aquelas que estão mais machucadas fisicamente e que não possuem nenhum parente por perto."
Sua experiência de quase 15 anos trabalhando com o tema mostrou para Rita que dificuldades financeiras na família geram violência. "A falta de emprego e de fontes de renda durante a pandemia foram fatores que influenciaram no aumento da violência doméstica", disse.
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Rita De Cássia D'Ambrosio, 56, fundadora e presidente da Casa Help, um espaço de acolhimento para mulheres vítimas de violência e seus filhos, conhece poucos casos em que apenas a mulher sofreu violência.
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