NATUREZA


Após pressões de investidores internacionais e empresas brasileiras, um grupo formado por ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central do Brasil se une nessa terça-feira (14) às reivindicações por uma retomada da economia no pós-pandemia atenta às mudanças climáticas e pelo fim do desmatamento na Amazônia e no Cerrado.


"O momento é de sofrimento e angústia para todos. A perda de emprego e renda é uma realidade que aprofundará a desigualdade social. Os efeitos de longo-prazo da pandemia serão severos, inclusive devido ao contexto fiscal ainda mais desafiador", afirmam os signatários da carta. "Mas a crise também abre a oportunidade de convergirmos em torno de uma agenda que nos possibilite retomar as atividades econômicas e, simultaneamente, construir uma economia mais resiliente ao lidar com os riscos climáticos e suas implicações para o Brasil."


Conforme os ex-ministros, os custos de descuidar de eventos climáticos poderão ser bem maiores do que os da atual pandemia. "O governo tem um papel essencial em alinhar incentivos e expectativas, criando um ambiente favorável à ação sustentável do setor privado e do mercado", alertam.


Entre as sugestões listadas pelo grupo, estão o fim de subsídios para combustíveis fósseis; zerar o desmatamento na Amazônia e no Cerrado; expandir investimentos sustentáveis e impulsionar a pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias.


"O prejuízo do desmatamento tem levado diversos parceiros comerciais importantes e investidores estrangeiros no Brasil a expressarem veementemente seu descontentamento e preocupação, que certamente se traduzirão em menores fluxos de comércio e investimentos no país", alertam os economistas.


Assinam a carta, lançada oficialmente nesta terça, Alexandre Tombini, Armínio Fraga, Eduardo Guardia, Fernando Henrique Cardoso, Gustavo Krause, Gustavo Loyola, Henrique Meirelles, Ilan Goldfajn, Joaquim Levy, Luiz Carlos Bresser-Pereira, Maílson da Nóbrega, Marcílio Marques Moreira, Nelson Barbosa, Pedro Malan, Pérsio Arida, Rubens Ricupero e Zélia Cardoso de Mello.


Assim, o grupo reúne responsáveis pelas políticas econômica e monetária do país que vão do governo José Sarney a Dilma Rousseff, passando por Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.


Iniciativas semelhantes já foram feitas por ex-ministros da Saúde e ex-ministros do Meio Ambiente de gestões passadas, buscando mostrar que há uma grande convergência de diferentes partes do espectro da política brasileira contra os atuais rumos da gestão de Jair Bolsonaro (sem partido).


Na segunda-feira (13), o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a afirmar que as preocupações ambientais de outros países com relação ao Brasil estão ligadas a agendas protecionistas.


"Nós pedimos compreensão à comunidade mundial. Muita gente se esconde atrás de políticas protecionistas para seus próprios recursos naturais, sua agricultura, condenando o Brasil. Há interesses protecionistas condenando o Brasil, em vez de ajudando o Brasil", afirmou em videoconferência promovida pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).


Em junho, a Amazônia teve mais uma alta de desmatamento em relação ao ano anterior, sendo o maior registro desde 2016. Foi o 14º mês seguido de aumento de desmate no bioma.


Também na segunda-feira, o governo demitiu a coordenadora-geral de Observação da Terra do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), estrutura responsável pelos sistemas de monitoramento de desmatamento na Amazônia.