247 - O geógrafo e professor Elias Jabbour alertou, em publicação feita neste sábado (19) na rede X, para o que classificou como uma ofensiva coordenada do imperialismo internacional contra o Brasil, com o objetivo de desestabilizar o governo Lula. 

“Vão dobrar a aposta. Ao que tudo indica a chantagem contra o país não irá parar”, escreveu. Segundo ele, o cenário revela uma “declaração de guerra” que configura uma ameaça inédita à soberania nacional e deve ser interpretada como uma tentativa de mudança de regime no país.

“A declaração de guerra é para valer, o que significa uma ameaça inédita ao nosso país”, prosseguiu Jabbour. “O imperialismo busca criar uma situação de regime change no Brasil”, afirmou o professor, que defendeu que a política nacional deve incorporar novas ferramentas diante dos desafios colocados: “A própria dinâmica política brasileira deve mudar com a incorporação de outros elementos e gramática”.

As declarações foram feitas após o novo secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o holandês Mark Rutte, ameaçar impor sanções secundárias a países que mantêm relações comerciais com a Rússia, entre eles o Brasil, a China e a Índia — todos integrantes do Brics. No mesmo momento, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos EUA a partir de agosto.

 O Itamaraty reagiu com firmeza às ameaças. Em entrevista ao programa Estúdio I, da GloboNews, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, classificou a fala de Rutte como “totalmente descabida” e rejeitou qualquer diálogo com a aliança militar ocidental. “Dialogar com a Otan, não. Nós não fazemos parte. A Otan, é preciso que fique claro: é uma organização militar. O Brasil não é parte nem os outros dois países que o secretário-geral mencionou”, disse o chanceler.

Vieira também ironizou o desconhecimento do novo comandante da aliança: “Talvez ele esteja mal-informado, não saiba que é uma organização militar, não tem alcance comercial. Sobretudo porque, se for assim, países membros da Otan que são membros da União Europeia — e que comerciam com a Rússia e compram grandes quantidades de petróleo e de gás — teriam que ser também sancionados”.

Diplomatas ouvidos de forma reservada reforçaram que o Brasil apenas reconhece sanções com respaldo do Conselho de Segurança da ONU. Eles consideram que a Otan não tem autoridade para definir com quem o país pode manter relações comerciais e avaliaram inicialmente que o caso não mereceria sequer resposta, por considerar a declaração "fora de propósito".

A nova tarifa anunciada por Donald Trump se soma às tensões. O presidente norte-americano alegou, falsamente, que os EUA estariam em desvantagem na balança comercial com o Brasil. Na realidade, dados oficiais mostram que os americanos exportam mais para o Brasil do que importam, o que contraria o argumento usado por Trump para justificar a taxação.

 Questionado sobre a possibilidade de coordenação entre a Otan e Washington, Mauro Vieira desconversou, mas sublinhou a fala de Rutte: “A declaração foi tão descabida que deve ter partido voluntariamente do secretário-geral da Otan”.

A percepção de Jabbour é de que a pressão não irá cessar e deve se intensificar nos próximos meses. “Precisamos tirar consequências dessa situação todos os dias. A cada fato novo, não somente uma resposta. Mas também reflexões”, escreveu. 

Ele também destacou o papel do presidente Lula neste momento: “Lula emerge como o homem capaz de liderar o país nesse momento de grandes testes e provações. A pressão e a luta serão gigantescas e precisamos estar prontos”.