Desde o início do Doutores da Alegria, médicos besteirologistas transformam vidas nas alas pediátricas de hospitais da capital pernambucana
Em 2003, uma trupe de palhaços iniciava um projeto muito especial em hospitais públicos do Recife. Com os rostos pintados, roupas coloridas, apetrechos pendurados pelo corpo e muita animação, os Doutores da Alegria vêm há 15 anos utilizando a arte da palhaçaria para divertir pacientes da ala pediátrica. Mais que divertimento, os encontros com os doutores palhaços representam - para as crianças e suas famílias - momentos de apoio, amor e sensibilidade.
“De todo o tratamento, essa é sempre o momento mais especial. Às vezes estamos tristes e desanimados, mas eles chegam e mudam tudo ao nosso redor”. Essa é a impressão que a dona de casa Edna Lúcia da Silva tem do Doutores: multiplicadores de alegria. Há um ano, ela acompanha o filho, Davi dos Santos, de 4 anos, durante os longos períodos de tratamento no Imip. Mãe e filho moram na cidade de Lagoa Grande, no Sertão pernambucano, distante aproximadamente 650 km do Recife. Segundo ela, nos poucos dias que estão em casa, o menino não esquece dos médicos palhaços. “Ele diz ‘mãe, vamos no hospital? eu não quero ficar internado, mas estou com saudades deles’. Isso representa a força do trabalho deles”, acrescenta.
No Recife, os Doutores frequentam semanalmente o Hospital da Restauração (HR), o Hospital Barão de Lucena, o Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip) e o Hospital Universitário Oswaldo Cruz. Nos corredores e ambulatórios dessas unidades, os médicos besteirologistas saem espalhando mensagens de entusiasmo e alegria. “O olhar do palhaço é uma coisa sem fronteiras e no hospital, lidando com pessoas em situação de vulnerabilidade, a gente aprende a dar muito mais valor às coisas simples. Nosso trabalho é feito a partir do olhar para o próximo. Mesmo com toda a maquiagem, atrás da máscara respira um ator”, conta o ator e músico Eduardo Filho, que há 12 anos interpreta o doutor Dud Grud.
Os doutores palhaços trabalham em duplas e frequentam duas vezes por semana os hospitais parceiros. Para fazer parte do projeto, eles devem ter formação em teatro e passar por seleções. Afinal, apesar de engraçado para o público, o trabalho requer uma preparação que vai além do figurino. “Na enfermaria, a gente não sabe o que vai acontecer. Podemos até imaginar, mas é sempre uma surpresa. Precisamos estar preparados”, pontua Marcelino Dias, intérprete do doutor Micolino. Ator e gestor cultural, ele integra a equipe dos Doutores desde o início do projeto no Recife.
Formada em teatro, Ana Flávia Costa sempre admirou o trabalho da ONG. Agora, que entrou para o grupo conta com a ajuda do filho para construir sua personagem, a doutora Nana Banana. “Meu filho mais velho, de 5 anos, me ajuda a montar a personagem. Ele separa alguns brinquedos e coloca na minha bolsa. Mesmo pequeno, já entende que eu sou palhaça e sabe que venho para os hospitais”, conta.
E não é só entre as crianças e as famílias que os médicos palhaços fazem sucesso. Para os profissionais de saúde, os besteirologistas já fazem parte da equipe hospitalar. “A atuação deles ajuda na aceitação do tratamento, na forma como as crianças lidam com a situação, em tudo. São essenciais para a gente”, afirma a pediatra do Imip, Daniela Saraiva.
Comemoração
Para comemorar tantos anos desse projeto de dedicação amor na capital pernambucana, o grupo realizará neste domingo a 5ª edição do Bobociclismo, o passeio de bicicleta mais bobo do mundo e a exposição fotográfica Doutores da Alegria Recife | 15 anos – A máscara do palhaço inserida no ambiente hospitalar.
A concentração do Bobociclismo terá início às 8h30, no Parque da Jaqueira. De lá, às 9h30, os participantes seguem por vias da Zona Norte e da área central do Recife até chegarem na Rua da Aurora, onde é finalizado o percurso.
Durante a tarde, das 13h às 17h, a exposição fotográfica que retrata os 15 anos da trupe na capital pernambucana estará aberta ao público na Avenida Rio Branco, no bairro do Recife. A curadoria é da fotógrafa e professora Renata Victor. Após a visitação no domingo, as fotografias serão expostas nos hospitais onde os Doutores atuam.
O Doutores da Alegria foi fundado no Brasil há 27 anos por Wellington Nogueira. Além do Recife, os Doutores atuam em São Paulo e no Rio de Janeiro. A associação não tem fins lucrativos e é mantida por doações, que cobrem os salários dos palhaços, os custos com figurino, oficinas de formação e a expansão das atividades.