AGLOMERAÇÕES DE FIM DE ANO

 
Pessoas que descumpriram as recomendações de distanciamento social e acabaram participando de aglomerações em praias ou festas clandestinas na virada do ano ainda podem ajudar a mitigar o impacto dessas ações. A principal estratégia a ser iniciada imediatamente é entrar em isolamento social pelo período de 14 dias, o que ajudaria a impedir o avanço do contágio.

A medida é recomendável especialmente neste momento em que várias cidades apresentam aumento no número de casos. Em Minas Gerais, por exemplo, o mês de dezembro registrou recordes sucessivos de casos de Covid-19. A média móvel de novos casos da Covid no Brasil está acima dos 35 mil diagnósticos por dia.

“A recomendação dos 14 dias é por conta do tempo de incubação, desenvolvimento de sintomas e resolução natural da doença, caso ela não se agrave. A pessoa pode também, durante esses 14 dias, ter o vírus e não desenvolver sintomas, mas ainda ser um agente de disseminação da doença. Por isso é essencial o distanciamento”, explica o pesquisador Julio de Carvalho Ponce, doutor em epidemiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

O receio dos especialistas é que o número de casos continue nessa tendência de alta, já que diversas cenas de aglomeração foram registradas nos últimos dias do ano. O reflexo desse comportamento deve começar a aparecer nos boletins epidemiológicos já no início deste primeiro mês de 2021. “Tivemos aglomerações no Natal e o número de casos pode ter sofrido um aumento próximo ao Ano Novo. No entanto, como sabemos que para fins de semana e feriados há um atraso na notificação e no ritmo de liberação de resultados pelos laboratórios, esses números ainda não começaram a aparecer”, acredita o pesquisador.

O que os especialistas se esforçam seguidamente em explicar é que qualquer aglomeração acaba servindo de ingrediente potencial para o aumento de casos, cujo desdobramento inequívoco é a elevação no número de mortes. Em um cenário mais pessimista, o comportamento de desleixo com relação à transmissão do vírus pode até dobrar o número de vítimas fatais no Brasil nas próximas semanas, na avaliação de Ponce. “Fazendo uma conta rápida, se agora temos algo em torno de 35 mil casos novos por dia, e supusermos que as pessoas aumentaram esse contato por 5 dias, mas logo se cuidaram, podemos ter pela frente dias com 70 mil casos diários”, calcula.

Nessa perspectiva, os balanços de mortes atuais seriam dobrados, alcançando cerca de 1.400 vítimas fatais por dia. Mesmo a hipótese mais conservadora não é nada agradável: caso o número de infectados passe dos 35 mil por dia para 45 mil, significaria adicionar mais 200 mortes diárias. Nos dados atuais constam 35.743 casos como a média móvel de novos diagnósticos nos últimos 7 dias, enquanto a média móvel de mortes é de 704 vidas perdidas a cada dia.