Em abril, a morte de Sarah Raíssa Pereira, de 8 anos, depois de participar do "desafio do desodorante", que circulava no TikTok, chocou a internet. Por um tempo, os conteúdos impróprios e perigosos para crianças, escondidos nas redes sociais, esteve em alta. Hoje, outro desafio volta a preocupar pais, escolas e órgãos públicos: o “desafio do desmaio” ou “blackout challenge” (desafio do apagão, em português).
Vídeos de uma criança comprimindo o tórax de um colega, que cai desmaiado segundos depois em um colégio particular de Araxá, no Alto Paranaíba, têm circulado neste mês e trazido a discussão à tona novamente.
A pneumologista Michele Andreata explica como o desafio funciona e o porquê de ser tão perigoso: “Essa brincadeira consiste em apertar o tórax, colocando uma pressão para restringir a respiração com o objetivo de provocar uma sensação de desmaio ou até mesmo de euforia. O que muitos não sabem é que essa prática pode causar consequências graves e irreversíveis”, orienta.
Ela cita dois problemas de saúde que podem acometer os pequenos em decorrência dessa “brincadeira” : a asfixia e a parada respiratória. Essa asfixia e a perda de consciência, segundo a médica, podem levar a consequências mais graves.
“Por causa da falta de oxigenação no cérebro pode haver lesões cerebrais, convulsões e até mesmo sequelas neurológicas e, por fim, a morte súbita. O tórax, além de abrigar os pulmões e o coração, é uma estrutura vital para a respiração”, finaliza.
Ministério Público alerta
O Ministério Público (MPMG) publicou, nessa quarta-feira (25/6), um alerta aos pais e escolas sobre a nova moda entre crianças e adolescentes. A Rádio do MP também relembrou o caso de Sara, em Ceilândia, no Distrito Federal. “Ela foi uma das 56 mortes que aconteceram no Brasil nos últimos 10 anos por causa dos desafios virtuais”.
A promotora Giovana Carone, coordenadora de Defesa da Saúde do Ministério Público de Minas Gerais, chamou a atenção de pais e responsáveis. “Se aproximem de seus filhos, porque isso pode acarretar problemas graves à saúde, para o desenvolvimento saudável de adolescentes e de crianças”, diz.
Carone ressaltou que o Ministério da Justiça, só no ano passado, registrou 1.067 operações conjuntas com as polícias civis, que ajudaram a desarticular quadrilhas que circulavam vídeos e imagens de crianças e adolescentes.
Graciely Almeida, promotora e coordenadora da área de defesa de crianças e adolescentes do MPMG, disse que os pais podem ser responsabilizados pelos atos das crianças na internet. “Os pais, eles respondem civilmente pelos danos que os filhos causarem a terceiros, de acordo com o Código Civil. Se um adolescente, se uma criança ou adolescente, por meio de sua conduta, incentiva outro a participar desses desafios de internet, ocasionando dano, os pais podem sim ser responsabilizados”, explica.
O perigo das telas
Foi-se o tempo em que dentro de casa, no quarto, a criançada estava protegida de qualquer perigo. Nas telas, pequenos e adolescentes podem cair em grandes armadilhas. O médico pediatra Frederico Hanaoka é um dos fundadores da clínica pediátrica Pequenos Grandes, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e faz uma ressalva sobre esse tipo de tela.
“A sociedade brasileira de pediatria recomenda os seguintes limites: menores de 2 anos, evitar totalmente o uso de telas mesmo que passivamente; entre 2 e 5 anos, no máximo 1 hora por dia, sempre com supervisão; entre 6 e 10 até 2 horas por dia, mas com supervisão e equilíbrio com outras atividades; entre 11 e 18 anos, limite de 2 a 3 horas, evitando o uso noturno e durante as refeições. Mas, mais do que tempo, o foco é o conteúdo e principalmente o acompanhamento dos pais”, explica.
Apesar da maioria das plataformas estabelecerem idade mínima de 13 anos para começar a ser usuário nas mídias, ele ressalta. “Além da idade, o mais importante é avaliar se a criança tem maturidade emocional para lidar com esse universo e se os pais estão juntos nesse processo. Entrar cedo demais pode expor os pequenos a coisas que eles ainda não têm preparo para enfrentar”, finaliza.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice