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É o caso da secretária executiva Aline Rodrigues, 31. Ao F5, da Folha de S.Paulo, ela contou que mora sozinha desde os 25 anos. Logo que se mudou para o apartamento de dois quartos no bairro do Butantã (zona oeste de São Paulo), tinha apenas um cactus na janela, presente da mãe. Hoje, tem mais de 100 plantas espalhadas pela casa.
Ela diz que começou a tomar gosto quando, no final de 2019, resolveu investir na decoração do espaço. Mas passou a se dedicar com mais intensidade durante a quarentena. "A gente começou a olhar mais a nossa casa, não tinha opção", avalia. "Eu cumpri o isolamento direitinho, só saí de casa em outubro. Então comecei a comprar as plantas por telefone, mandava mensagem para a vendedora e perguntava o que tinha chegado."
"Eu já gostava muito de natureza, mas o que descobri foi uma forma de me distrair", explica. "Sou muito sensível, no começo da pandemia eu não podia nem ver telejornal porque começava a chorar. Cuidar das minhas plantas me trouxe uma paz, foi como se eu estivesse fazendo uma terapia."
Hoje, além da sala, as plantas também dão o tom de um quarto em que Aline colocou uma rede e pufes. Ela diz que usa a "varanda indoor" para ler e pensar na vida, em meio a espécies como jiboias, marantas, costelas de adão e espadas de são jorge.
"Elas me dão muito trabalho, levo pelo menos uma hora e meia se for regar todas", conta. No começo, ela chegou a fazer uma planilha com o tipo de rega e iluminação que cada planta precisava. Quando foi ganhando confiança, passou a fazer isso na base do "feeling".
E mesmo dando um pouco de trabalho, ela diz que a satisfação é maior. "Eu aprendo muito com elas, principalmente sobre o tempo das coisas, só de observar o crescimento, quando nasce uma folha nova ou quando vejo elas desabrochando", compartilha.
EM FAMÍLIA
A servidora municipal Mariana Dias Novaes, 37, também passou a se interessar mais pelo assunto nos últimos tempos. Trabalhando de casa por causa da pandemia, ela diz que não tinha uma experiência positiva com o cultivo de plantas. "Logo que casei, tive algumas e matei todas", lamentou.
Em 2019, ela reformou a casa, que fica no Burgo Paulista (zona oeste de São Paulo), e ganhou uma floreira de cimento. Foi quando a curiosidade pelo assunto começou.
Ela decidiu, então, plantar um pé de cajá-manga, fruto que a fazia lembrar-se do pai, morto em agosto daquele ano. "Contei para a vendedora que queria fazer essa homenagem e ela disse que ia me mandar a muda mais linda que tinha", lembra. "Só que a encomenda ficou 20 dias nos Correios e, quando chegou, mesmo com todo o cuidado na embalagem, só tinha uma haste. Eu cuidei e hoje está dando frutos."
"Sempre fui muito próxima do meu pai, então cuidar das plantas me ajudou a superar esse luto, a não cair na depressão", garante. Hoje, ela tem outras frutíferas, como manga e limão. "Depois que você começa, não para mais", afirma. "Se torna um vício."
Ela também tem uma horta com cenoura e alho plantados em caixas de isopor e vasos com couve-flor e morangos. Estes últimos, são os preferidos de Domênica, 10, filha de Mariana. "Ela participa de todo o processo", conta a mãe. "Eu acho importante porque ela não tem uma alimentação tão saudável quanto eu gostaria. A minha intenção é ir despertando essa curiosidade."
"Uma vez, ela plantou um pé de feijão na escola, mas ficou frustrada porque não cresceu", lembra Mariana. "Aqui, ela plantou no vaso e deu certo. A gente colheu, não chegou a dar 1 kg, claro, mas aquele pouquinho que deu nós cozinhamos e ela ficou superempolgada."
Mariana diz que aprendeu tudo o que sabe em cursos e tutoriais na internet. "Não é difícil, mas tem que ter disposição e paciência, porque cada planta tem uma especificidade", avalia.
O resultado ela diz ser compensador. "Sempre fui uma pessoa ansiosa, e com as plantas não se pode ser, elas têm que ter o tempo dela", explica. "Há muito tempo não tenho mais crises de ansiedade. As plantas foram um remédio."
NEGÓCIO
Se por um lado muitas pessoas começaram na atividade como passatempo, para algumas isso virou o ganha-pão. O professor de jardinagem Randall Fidencio, 49, tem um canal no YouTube com mais de 600 mil inscritos no qual dá dicas sobre o cultivo de plantas.
Depois de morar 18 anos na capital paulista, onde trabalhava como ator e produtor de TV, ele voltou para Salto (a cerca de 90 km de São Paulo) para tocar a loja de plantas que era da irmã, a Vila Nina. "Sempre convivi muito com a natureza, a casa dos meus pais tinha pé de manga, parreiras, tatu, pato...", lembra.
"Meu avô colecionava orquídeas, minha avó tinha hortas e fazia compostagem, os pais do meu pai morava em sítio. A gente é muito desse universo."
Atualmente, além das plantas da loja, ele tem em casa cerca de 75 vasos. Ele afirma que o interesse pelo tema, de fato, cresceu no último ano. "Vejo pelos comentários nos vídeos que publico, nas mensagens que chegam e também pelas pessoas que chegam na loja", diz.
"Ou a pessoa não tinha nenhuma planta, ganhou uma e foi comprando, ou estava trancada e encheu a casa de plantas", comenta. "Vejo muitas pessoas de nichos diferentes, o que chegou por hobby, o que gosta para decoração, o que foi na modinha, o que quer se alimentar de forma mais saudável... É um mercado gigante, a gente que trabalha com isso agradece e acha bom."
Randall diz que não tem plantas mais ou menos difíceis para quem está começando. "Todas são fáceis se você souber como deve cuidar", ensina. "Agora, convivência com a planta não é só regar de vez em quando. Se a planta muda, ela está te dando sinais. Quando ela fica murcha ou com mancha nas folhas, ela está falando. Você tem que saber escutar."
Ele diz que a falta de informação é a principal responsável por fazer com que algumas pessoas achem que têm "dedo podre", ou seja, que sempre matam as plantinhas que cultivam. "Tem muita gente que compra aqueles vasos com sete ervas, mas não tem com as sete ficarem bem por muito tempo no mesmo vaso", explica. "Umas são de sol pleno, outras de meia sombra. Aí a pessoa acha que foi a cunhada invejosa que colocou mau-olhado e matou a planta [risos]."
LIVE SERTANEJA
Carol Costa, 42, escritora e professora de jardinagem, concorda que não tem pessoas menos aptas para o cuidado com as plantas. "É só ter a informação correta", garante. "A gente costuma dizer que alguém tem 'dedo verde' ou 'mão boa' para planta, mas são pessoas que já experimentaram muita coisa. 'Ah, minha mãe qualquer coisa que plantar, pega'. É que ela já fez um monte de besteira, matou um monte de planta [risos]."
"Você acha que Burle Marx não matou um monte de planta?", brinca. "Faz parte do processo. A gente precisa desmistificar. Não existem seres superiores que nasceram para cuidar de planta. Você tem que olhar para o erro de maneira curiosa e tentar mudar. Se colocou a planta no sol e ela morreu, pode ser que ela goste mais de sombra. Agora se você continuar fazendo tudo igual, o resultado vai ser sempre o mesmo."
Carol é uma celebridade no segmento. Ela tem mais de 1,1 milhão de inscritos no canal do YouTube em que tenta passar técnicas de jardinagem de forma descomplicada.
Em 2012, ela largou uma bem-sucedida carreira no jornalismo para investir no que até então era apenas um hobby. "Vim para a jardinagem porque eu achava que era um mercado que ia crescer muito no país", explica. "Eu viajava para fora e via muito esse movimento de entusiastas por plantas, jardineiros de final de semana... E nosso país tem um clima muito favorável. Se um inglês conseguia ter plantas dentro do apartamento com aquele tempo cinza, aqui ia funcionar também."
Inicialmente, ela pretendia fazer uma revista digital sobre o tema, mas com o tempo acabou migrando para a frente das câmeras por ter facilidade para explicar as técnicas de forma simples. "Ninguém falava numa linguagem que a minha mãe entendesse", lembra ela, que hoje tem um estúdio em Holambra (a 134 km de São Paulo), de onde faz suas gravações.
Ela diz que esse interesse pela atividade durante a pandemia realmente foi maior. "Converso muito com produtores de sementes, de vasos, fabricantes de adubos... Não é só a plantinha, a gente está falando do reflexo de as pessoas estarem trazendo mais plantas para dentro de casa."
Na empresa dela, esse reflexo também foi bem positivo. Um curso online com 40 aulas de jardinagem, lançado por ela de forma gratuita, teve 25 mil alunos em abril. Na edição de agosto, foram mais 310 mil interessados.
"Eu fiz live com 48 mil pessoas assistindo simultaneamente, tipo show cantor sertanejo", ri. "Quando que eu ia imaginar que tanta gente ia se interessar por uma piracicabana baixinha falando de casa sobre muda de batata doce."
Além disso, o livro "Minhas Plantas - Jardinagem Para Todos" (ed. Paralela), que ela lançou em 2017, vendeu mais em 2020 do que nos dois anos anteriores somados. A editora aproveitou o sucesso para lançar em novembro um novo livro, "Minhas Plantas - Paisagismo Para Todos", que já está caminhando para a segunda edição.
"Esse mercado explodiu, as pessoas começaram a lembrar que existem plantas", resume. "E o melhor é que está ao alcance de qualquer pessoa. É para criança e para avós, para quem mora em casa e para quem mora em apartamento, para quem tem sol o dia inteiro ou para quem tem só um pouquinho, para quem tem pet e para quem não tem. Quantos hobbies você consegue começar com tão pouco? Você precisa de muito pouco para fazer coisas incríveis."
"Mas principalmente é para quem precisa de uma atividade curativa, algo que funciona dependendo só da sua dedicação", resume. "Não sei como a gente vai sair desse momento da humanidade, mas tenho certeza de que esse olhar generoso para a jardinagem vai fazer de nós pessoas melhores."
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É o caso da secretária executiva Aline Rodrigues, 31. Ao F5, da Folha de S.Paulo, ela contou que mora sozinha desde os 25 anos. Logo que se mudou para o apartamento de dois quartos no bairro do Butantã (zona oeste de São Paulo), tinha apenas um cactus na janela, presente da mãe. Hoje, tem mais de 100 plantas espalhadas pela casa.
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"Eu já gostava muito de natureza, mas o que descobri foi uma forma de me distrair", explica. "Sou muito sensível, no começo da pandemia eu não podia nem ver telejornal porque começava a chorar. Cuidar das minhas plantas me trouxe uma paz, foi como se eu estivesse fazendo uma terapia."
Hoje, além da sala, as plantas também dão o tom de um quarto em que Aline colocou uma rede e pufes. Ela diz que usa a "varanda indoor" para ler e pensar na vida, em meio a espécies como jiboias, marantas, costelas de adão e espadas de são jorge.
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E mesmo dando um pouco de trabalho, ela diz que a satisfação é maior. "Eu aprendo muito com elas, principalmente sobre o tempo das coisas, só de observar o crescimento, quando nasce uma folha nova ou quando vejo elas desabrochando", compartilha.
EM FAMÍLIA
A servidora municipal Mariana Dias Novaes, 37, também passou a se interessar mais pelo assunto nos últimos tempos. Trabalhando de casa por causa da pandemia, ela diz que não tinha uma experiência positiva com o cultivo de plantas. "Logo que casei, tive algumas e matei todas", lamentou.
Em 2019, ela reformou a casa, que fica no Burgo Paulista (zona oeste de São Paulo), e ganhou uma floreira de cimento. Foi quando a curiosidade pelo assunto começou.
Ela decidiu, então, plantar um pé de cajá-manga, fruto que a fazia lembrar-se do pai, morto em agosto daquele ano. "Contei para a vendedora que queria fazer essa homenagem e ela disse que ia me mandar a muda mais linda que tinha", lembra. "Só que a encomenda ficou 20 dias nos Correios e, quando chegou, mesmo com todo o cuidado na embalagem, só tinha uma haste. Eu cuidei e hoje está dando frutos."
"Sempre fui muito próxima do meu pai, então cuidar das plantas me ajudou a superar esse luto, a não cair na depressão", garante. Hoje, ela tem outras frutíferas, como manga e limão. "Depois que você começa, não para mais", afirma. "Se torna um vício."
Ela também tem uma horta com cenoura e alho plantados em caixas de isopor e vasos com couve-flor e morangos. Estes últimos, são os preferidos de Domênica, 10, filha de Mariana. "Ela participa de todo o processo", conta a mãe. "Eu acho importante porque ela não tem uma alimentação tão saudável quanto eu gostaria. A minha intenção é ir despertando essa curiosidade."
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Mariana diz que aprendeu tudo o que sabe em cursos e tutoriais na internet. "Não é difícil, mas tem que ter disposição e paciência, porque cada planta tem uma especificidade", avalia.
O resultado ela diz ser compensador. "Sempre fui uma pessoa ansiosa, e com as plantas não se pode ser, elas têm que ter o tempo dela", explica. "Há muito tempo não tenho mais crises de ansiedade. As plantas foram um remédio."
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