Pesquisa indica que 96% dos executivos brasileiros consideram essas práticas corriqueiras no ambiente de negócios. Preocupação é maior com jovens gestores, mais tolerantes a elas
São Paulo – Frases como “se eu não pagar por fora alguém vai pagar” são mais comuns no ambiente corporativo nacional do que se pode imaginar. Pesquisa global feita pela empresa de consultoria e auditoria Ernst & Young (EY), que ouviu 2.550 executivos de 55 países, mostrou que para 96% dos profissionais brasileiros entrevistados as práticas de suborno ou corrupção ocorrem amplamente nos negócios. Para efeito de comparação, em 2014, quando a Operação Lava-Jato, iniciada em 2009, prendeu Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras – naquele momento, as investigações saíam do ambiente de lavagem de dinheiro e chegavam aos primeiros indícios de corrupção –, esse número era de 70%.
Com esse percentual, o Brasil ficou em primeiro lugar de um total de 53 países e regiões participantes da pesquisa, que está em sua 15ª edição. No outro extremo do ranking, ficou a Alemanha, onde apenas 2% disseram ter essa percepção sobre o ambiente de negócios. Os Estados Unidos, que são referência no combate à corrupção empresarial, graças a uma lei aprovada pelo Congresso americano em 1977, ficaram na 39ª posição. Na América do Sul, a média é de 74% e a melhor posição é a do Chile, no 27º lugar. Já a pior, depois do Brasil, é a da Colômbia, a vice-campeã da lista.Segundo Compagno, a propensão maior dos mais jovens a pagar propina pode ter relação com a pressão por resultados e a dificuldade de compreensão de que a corrupção pode ser decisiva para interromper o desempenho e a perenidade de um negócio. “Há uma massa de jovens executivos mais tolerante a esse tipo de comportamento e isso preocupa”, completa Meister.
Ainda segundo o levantamento da EY, 18% dos executivos brasileiros dizem que determinadas práticas são justificáveis se o objetivo for conquistar negócios, por exemplo, oferecer presentes e viagens, pagamentos em dinheiro ou até mesmo manipular demonstrações financeiras. Se serve de consolo, em 2014 20% afirmaram concordar com alguma dessas ações.
Ao todo, 10% dos executivos brasileiros admitem que oferecer pagamentos em dinheiro pode ser justificado se eles ajudarem na sobrevivência de um negócio durante uma crise econômica. Nos países desenvolvidos, esse número é de 6%. Já entre os emergentes sobe para 19%.
Outro dado alarmante se refere à trivialidade com que a prática de suborno é tratada. A cada cinco executivos brasileiros, um diz ser comum no setor em que atua o ato de subornar alguém para ganhar contratos. A média mundial é de 11% e nos países desenvolvidos esse número é de 5%.
Integridade
Do total de executivos ouvidos no Brasil, 10% dizem que suas companhias sofreram algum tipo significativo de fraude nos últimos dois anos, mesmo número constatado nos países desenvolvidos. No entanto, na América do Sul, esse número sobe para 14%. Para 96% dos brasileiros, é muito importante ser capaz de demonstrar que a organização onde trabalha opera com integridade. Na América do Sul a média é de 99%.