Entorpecentes derivados do ecstasy, com efeito potencializado, têm tomado o lugar de drogas, como cocaína e maconha entre jovens de classe média e alta, que também comercializam as substâncias. Ao menos 20 foram presos apenas este ano
Por:AE
Tradicionais em grandes centros urbanos, novos entorpecentes começam a chegar ao Brasil pelo Distrito Federal. As substâncias, geralmente sintéticas, são modificadas para ter efeito potencializado e podem levar o usuário à morte. O consumo geralmente ocorre em festas de música eletrônica. Grandes fornecedores, nacionais e internacionais, alimentam o mercado. Jovens de classes média e alta estão entre os principais
Levantamento feito pelo Correio mostra que, apenas este ano, a Polícia Civil do Distrito Federal deflagrou ao menos 10 operações para combater o tráfico desses entorpecentes em Brasília e prendeu 20 jovens, entre 18 e 23 anos, acusados de vender as drogas. O perfil dos suspeitos é quase sempre o mesmo: moradores de partes nobres da cidade, universitários. Já as substâncias apreendidas, a maioria sintéticas, são comercializadas em universidades, festas eletrônicas e pela internet.
Em apenas uma operação, deflagrada em junho deste ano, os agentes da 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul) cumpriram 17 mandados de prisão. O delegado à frente do caso, Ataliba Neto, explica que os suspeitos eram usuários que viram no tráfico uma oportunidade de manter o vício e ainda lucrar. “O principal produto deles são ‘drogas gourmet’, que são mais caras e têm um potencializador maior. A venda, na maioria dos casos, acontecia por meio de grupos do WhatsApp”, comenta.
Na Bahia, um universitário de 19 anos conseguia lucrar mais de R$ 8 mil por semana. Sem passagens pela polícia, o jovem, com conhecimento em Tecnologia da Informação (TI), fornecia drogas ao DF e a outras unidades da Federação. Por meio da internet, ele aumentava a clientela e enviava os entorpecentes sintéticos pelos Correios. Ele foi preso em 30 de novembro, em Jequié (BA). Os investigadores encontraram com o acusado drogas sintéticas derivadas do MDMA, usado para desenvolver essas substâncias sofisticadas.
O delegado-chefe da Coordenação de Repressão às Drogas (Cord) da Polícia Civil do DF, Luiz Henrique Dourado, acredita que o consumo dessas novas substâncias está relacionado com o estilo de vida dos jovens. “Estamos em uma fase em que as festas eletrônicas estão em alta. Culturalmente, alguns frequentadores desse tipo de evento costumam ser usuários”, diz. De acordo com ele, por serem sintéticas, essas drogas aumentam a sensibilidade à luz e mudam a percepção da música.
On-line
O comércio ilegal dessas drogas é feito, principalmente, pela internet, por meio de redes, como Facebook e WhatsApp. Geralmente, quem adquire os produtos são revendedores de menor alcance, que atuam em festas de Brasília. Os grandes traficantes criam alguma rede on-line para divulgá-los. Como essas novas drogas não emitem cheiro e são compactas, o transporte, na maioria das vezes, é feito pelos Correios.
Luiz Henrique Dourado, delegado da Cord, explica que, como são produtos novos no mercado do tráfico, até mesmo os cães farejadores têm dificuldade para localizar os entorpecentes dentro de compartimentos. “Os traficantes e os usuários criam uma espécie de convivência nesses grupos de comunicação. Eles debatem preços e tratam questões relacionadas a efeitos e desenvolvimento”, descreve.
O delegado considera que, além da influência dos traficantes, os jovens têm a sensação de que não há consequências da prática criminosa. “Existe aquela ilusão de que a internet é um território em que você está imune de consequências. Por isso, eles enxergam nisso uma oportunidade para complementar a renda, já que a maioria é estudante e, muitas vezes, ainda não trabalham.”
Outro impacto do desenvolvimento do tráfico de drogas sintéticas é a redução do consumo de entorpecentes, como maconha, cocaína e crack. “Hoje, as pessoas que querem comprar essas substâncias sintéticas não precisam ir até um traficante na rua, como acontece com outras drogas”, comenta Dourado.
O poder aquisitivo dos moradores do Distrito Federal faz com que a capital se torne um dos destinos preferidos desses traficantes. Os entorpecentes chegam à cidade de diferentes formas. “Há produção no Brasil, mas sabemos que esse material também vem de fora. Não podemos revelar muitos detalhes para não comprometer as investigações”, pontua o delegado.
Para saber mais
Em março de 2017, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) incluiu 12 novas substâncias na lista de entorpecentes e psicotrópicos: ANPP, NPP, U-47700, 4-MEAPP, 3-MMC, 25I-NBF, 30C-, ALFA-EAPP, Dimetilona, Pentilona, Butirfentanil, NBOMe e N-Etilpentilona. Há confirmação da Polícia Civil de que essas duas últimas drogas já foram apreendidas no Distrito Federal.