(FOLHAPRESS) - O fotógrafo de natureza e vida selvagem Rafael Mesquita subiu um drone para ajudar no resgate de uma baleia-jubarte presa em um rede de pesca no ano passado. Mas uma imagem captada sem querer do alto surpreendeu. Pela primeira vez ele avistava um tubarão-baleia nas águas entre Ilhabela e São Sebastião, no litoral norte de São Paulo.

De lá para cá, a aparição do animal apontado como maior peixe vivo do mundo -adulto se aproxima de 20 metros de comprimento-, não parou mais de crescer nas lentes do fotógrafo e nos olhares atentos de outros mergulhadores e capitães de embarcações.

Apesar da falta de números oficiais, o avistamento de tubarões-baleia vem batendo recordes em Ilhabela, segundo pessoas que passam o dia no mar em busca deles. Somente na última segunda-feira (30), ao menos 11 foram flagrados entre as regiões da pontas Grossa e da Cabçuda, no norte da ilha.

Em um dos flagrantes, dois tubarões-baleia cruzaram com uma baleia-jubarte, que estava em período migratório pela região rumo a Abrolhos, na Bahia.

"Já tinha ouvido falar de tubarões-baleia vistos por pescadores, mas para mim era algo inédito". afirma Mesquita, coordenador do Mantas de Ilhabela. Criado em 2018 em parceria com o mergulhador e capitão de embarcações Guilherme Kodja, o projeto tem como objetivo registrar e estudar mantas oceânicas, as raias gigantes -que podem chegar a 8 metros de envergadura.

Em comum, os dois peixes cartilaginosos são filtradores que e se alimentam de plâncton microscópico.

Kodja diz avistar tubarões-baleia entre Santa Catarina e Rio de Janeiro desde 2012, quando registrou uma fêmea grávida na Laje de Santos, parque marinho próximo à Baixada Santista. A partir de 2020 o crescimento no avistamento começou a ganhar corpo.

"No ano passado tivemos uma uma ocorrência muito grande de mantas e um salto no registros de tubarões-baleia em Ilhabela. Em 2025, houve uma explosão de raias-manta ainda maior e, principalmente em junho, dos tubarões". diz Kodja.

A utilização de tecnologias, principalmente a de aérea, como drones, facilitou esse tipo de registro.

A temporada de passagem desses dois peixes vai de abril a agosto. É quando ela terminar que dados que vêm sendo cadastrados a partir de anotações de avistamentos, que a bióloga Bianca Rangel, pós-doutoranda no IB USP (Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo) e coordenadora do Projeto Tubarões e Raias de Noronha (que faz estudos em Fernando de Noronha, no Nordeste), pretende produzir uma nota científica sobre a presença de tubarões-baleia nessa faixa do litoral norte de São Paulo.

A ideia é rascunhar o texto em agosto e enviar para uma publicação científica ainda este ano.

O trabalho está sendo desenvolvido em parceria com o projeto Mantas de Ilhabela e terá participação do documentarista Fábio Borges.

A proposta, afirma Bianca, tenta entender porque a cada inverno vem crescendo o número desses tubarões naquela região.

O primeiro trabalho terá foco em fêmeas que aparentemente passam por ali grávidas. "Provavelmente elas deixam os filhotes depois que nascem em algum lugar que nem é no Brasil", diz ela.

Os pesquisadores que estão fazendo o estudo ainda não sabem qual a rota de migração desses tubarões, mas a bióloga diz que há chance, inclusive, de ser transoceânica até a África.

"Pode ter relação com as baleias-jubarte e seguem suas rotas, ou por causa das alterações ambientais globais que podem ter mudado correntes marinhas", afirma.

Estão sendo anotadas informações sobre quantidade de animais vistos, horário e tempo de monitoramento, entre outros.

Mergulhadores também tentam fazer o registro do peixe, com imagens de suas laterais, das manchas e pintas logo acima da nadadeira dorsal -é ali que fica a "digital" de cada um. Os dados são cadastrados em um banco mundial e separados por software.

"É mergulhando ao lado deles que fazemos sua identificação e descobrimos o sexo", diz Mesquita.

Esses tubarões foram avistadas em praticamente todo o arquipélago, inclusive no canal de São Sebastião, por onde passam petroleiros e navios de carga. "A partir desses estudos podemos cobrar políticas públicas, inclusive, contra riscos de atropelamentos", diz Guilherme Kodja.

Como mostrou a Folha, além de jubarte, tem crescido o avistamento de orcas e tubarões entre Ilhabela e São Sebastião, graças a fatura de alimentos por causa de equilíbrio ambiental.

Pelo menos sete espécies de tubarões foram registradas na região do Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes, em Ilhabela, uma unidade de conservação federal administrada pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).

"A presença cada vez mais frequente de espécies como tubarão-baleia e raias-mantas em nossas águas reforça a importância da conservação entre turistas e moradores, além de impulsionarem o turismo sustentável e a economia local," diz Toninho Colucci (PL), prefeito de Ilhabela.