Após ter sido preso sábado (24) em Mairiporã por furtar desodorantes de um supermercado, o jovem de 18 anos, que teve a testa tatuada à força em 2017 com a frase “eu sou ladrão e vacilão”, foi solto mediante pagamento de fiança de R$ 1 mil e voltou a ser internado na clínica da mesma cidade, onde faz tratamento contra dependência química e realiza sessões para remoção da tatuagem.
De acordo com a assessoria de imprensa da Clínica Grand House, na Grande São Paulo, o rapaz teve uma recaída durante o processo de ressocialização, que previa saídas acompanhadas, e, por esse motivo, não poderá mais deixar o local até um novo diagnóstico garantir que ele tenha condições de convívio social. Era a primeira vez que o interno teve autorização para sair sozinho.
O valor da fiança foi pago por Sérgio Castillo, dono da clínica, segundo informou a comunicação do espaço ao G1 no domingo (25).
A reportagem conseguiu conversar nesta segunda-feira (26) com o proprietário, que declarou que o jovem “está estabilizado com medicação”.
Segundo Castillo, o jovem havia sido autorizado a deixar a clínica sem acompanhamento como parte do tratamento de ressocialização e depois retornar. "Ele estava há nove meses sem usar drogas, mas saiu, bebeu e depois foi subtrair algo", falou. "Por esse motivo, decidimos que ele não poderá mais sair até uma avaliação futura".
Lapso
Nota divulgada no domingo por Castillo na página da Grand House no Facebook informa que o jovem estava em tratamento há nove meses e em fase de ressocialização, quando “se ausentou” do lugar. A postagem continua, informando que o jovem “teve um lapso” e “foi resgatado novamente e se encontra de volta ao tratamento, dando continuidade ao seu processo de recuperação”.
Nos post feito pelo dono da clínica, ele escreve que “é importante que todos saibam que a dependência química é uma doença crônica e incurável, porém com possibilidades de recuperação”.
“Vamos nos abster de julgamentos”, pede Castillo, que conseguiu o direito de tratar gratuitamente do rapaz após autorização judicial. O processo de remoção da tatuagem é feito na própria clínica por uma outra empresa, que também não está cobrando pelas sessões.
Desodorantes furtados
De acordo com a Polícia Civil, o jovem foi preso em flagrante pela Polícia Militar (PM) após furtar cinco frascos de desodorante do mercado, na Estrada Arão Sahm, no Jardim Nipon. Ele havia escondido os produtos dentro da roupa.
Segundo o boletim de ocorrência, o dono do estabelecimento viu o rapaz colocando objetos dentro da calça. Ao sair do local, o comerciante abordou o jovem e descobriu que ele estava com frascos de desodorante escondidos.
A Polícia Militar foi chamada e levou os envolvidos para a delegacia de Mairiporã, onde o caso foi registrado. Página do Facebook atribuída a Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (Rocam) da PM publicou fotos do rapaz preso com desodorantes com um texto informando que ele fugiu da clínica. Sobre os olhos do jovem aparece a frase #eusouladrãoevacilão.
Tatuado na testa
O rapaz ficou conhecido após um vídeo que o mostra sendo tatuado a força ter sido compartilhado pelo aplicativo de celular WhatsApp em maio do ano passado. Na época ele era menor de idade: tinha 17 anos.
Nele, aparece o tatuador Maycon Wesley Carvalho dos Reis, de 27 anos, tatuando a testa do jovem com a frase “eu sou ladrão e vacilão”, enquanto o pedreiro Ronildo Moreira de Araújo, 29 anos, filma tudo.
Os dois alegavam que estavam fazendo aquilo para punir o rapaz, que teria tentado furtar a bicicleta adaptada de um deficiente do prédio onde moram em São Bernardo do Campo, no ABC.
Após a divulgação das imagens, o tatuador e o pedreiro dele foram presos em junho de 2017. Em fevereiro deste ano, os dois foram condenados pelos crimes de lesão corporal e constrangimento ilegal. Maycon recebeu pena de três anos e quatro meses de prisão em regime semiaberto. Ronildo pegou três anos e 11 meses.
Por decisão da Justiça, o rapaz deveria ser internado em uma clínica para tratamento contra o vício do crack e álcool. A tatuagem ainda precisa de mais sessões para saber se poderá ser removida completamente. Com 18 anos de idade, o jovem pode decidir se quer continuar ou não o tratamento.
"Ele quer se tratar. Está aqui por livre e espontânea vontade. O processo é longo. Devido ao lapso, a gente deu passo para trás", falou Castillo, que disse ter medicado o jovem com calmantes. "Neste momento ele não tem condições de sair. O tratamento será intenso".