ELEIÇÕES 2022
 
 O Tempo Brasília


O Alto-Comando do Exército Brasildeiro decidiu que quem vencer a eleição presidencial será empossado sem qualquer interferência por parte dos seus militares. A força também não vai se associar a auditoria de urnas pedida pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), um capitão reformado do Exército.

A decisão foi sacramentada por 16 oficiais-generais em reunião no Quartel-General do Exército, em Brasília. “Quem ganhar leva”, enfatizaram os militares. A frase é disseminada na tropa desde a primeira semana de agosto. As informações são do jornal O Estado de Estado e foram divulgadas nesta sexta-feira (30).

Reportagem publicada no site do Estadão relata que o assunto foi abordado em uma das reuniões do Alto-Comando do Exército (RACE), mas até então vinha sendo mantido de forma discreta. Oficialmente, esses encontros foram divulgados em notas formais. Foram cinco encontros, realizados entre 1º e 5 de agosto. 


“Como de praxe, o comunicado informava apenas que foram discutidos assuntos ‘de interesse da Força. O Estadão apurou que, ao passo que a decisão dos generais se espalhava pelos quartéis do país, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica começaram a evitar exposição política e a dar sinais de distanciamento da inédita auditoria das eleições, que vai checar parcialmente a soma dos votos no domingo e monitorar testes de funcionamento das urnas eletrônicas. A auditoria foi um pedido do presidente Jair Bolsonaro”, diz trecho da reportagem.


Na prática, ressalta o jornal, a posição do Alto Comando do Exército pode reduzir o impacto da auditoria das urnas de votação. “Fontes militares com conhecimento do assunto disseram à reportagem que o documento com o resultado dessa auditoria não vai adentrar na seara de atestar ou reprovar a confiança das eleições. O texto deve se restringir a reportar o trabalho de fiscalização nas suas duas últimas fases: os testes de integridade das urnas e a checagem amostral do somatório por meio de boletins de votação. Um general enfatizou que o trabalho será ‘técnico’”, diz o texto.

A auditoria será centralizada em uma sala do Ministério da Defesa. “O roteiro traçado é emitir, na própria noite de domingo (dia da votação), um documento contendo os achados técnicos da fiscalização. A pasta pretende concluir o trabalho em quatro horas e enviar por volta de 21 horas a auditoria ao TSE”, diz a reportagem. 


Ainda segundo o Estadão, o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, que assinará sozinho o relatório, informará ao presidente Jair Bolsonaro sobre o conteúdo. O propósito do documento, segundo militares, é relatar o que foi verificado. 


“Uma ressalva que costuma ser feita pelos oficiais envolvidos é que um sistema informatizado nunca está 100% blindado e precisa sempre de aprimoramento. Bolsonaro explora essa informação politicamente, dizendo que o risco de fraude é ‘quase zero, mas não é zero’”, diz outro trecho da reportagem.

“Diante de um cenário de desgaste para o setor, o Alto Comando do Exército, formado na maioria por oficiais da ativa promovidos ao topo da carreira nos últimos quatro anos, considera que a contestação do resultado das eleições e o questionamento da legitimidade das urnas eletrônicas devem ficar circunscritos a Bolsonaro e aos militares da reserva da campanha da reeleição ou que ocupam cargos políticos no governo”, observa o jornal. 

Estão na lista antigos generais quatro estrelas, como Walter Souza Braga Netto (candidato a vice na chapa de Bolsonaro), Augusto Heleno (ministro do Gabinete de Segurança Institucional) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral da Presidência).


Diante dos indicativos de que Bolsonaro questionará o resultado da Corte, os militares afirmam que o presidente terá de fazê-lo por meios legais e jurídicos de sua campanha, de acordo com o O Estado de Estado. 

Como já vem sendo sinalizado, o general Freire Gomes, comandante do Exército, o almirante Almir Garnier, da Marinha, e o brigadeiro Baptista Junior, da Aeronáutica, não pretendem se pronunciar após a declaração do resultado pelo TSE. “No meio militar, isso é visto como uma forma de blindar as tropas da ativa de ações políticas do governo. O ministro da Defesa é o interlocutor político entre o presidente e os comandantes, também cargos de confiança. E quer fugir dos holofotes para baixar a temperatura”, destaca o Estadão.


O jornal lembra a vigilância e a pressão pública exercida por outros países, em especial os Estados Unidos, para o Brasil respeitar os resultados das urnas.


Por canais diplomáticos, militares dos Estados Unidos têm mantido contatos diários com os brasileiros. Um representante de Washington confirmou que, em todas as ocasiões, é um mandamento lembrar que as Forças Armadas resguardem seu papel numa democracia. 

“O governo Joe Biden reiterou a confiança no processo eleitoral por meio de enviados ao Brasil e comunicados oficiais da Casa Branca. O próprio Biden se prepara para reconhecer o resultado tão logo seja conhecido, conforme aconselhado por diplomatas. A forma está sendo preparada”, lembra o Estadão.

O Senado norte-americano aprovou na quarta-feira (28) uma resolução pedindo imediato reconhecimento do vitorioso. A recomendação é que Biden reveja a relação com o Brasil se houver atos antidemocráticos, sobretudo com envolvimento de militares. 

Em linha similar, o Parlamento Europeu cobrou monitoramento da situação no Brasil e punição com sanções comerciais. Adidos militares europeus em Brasília ouviram de colegas brasileiros que terão postura democrática e profissional.