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As três maiores companhias aéreas do país –Gol, Latam e Azul– retomaram voos neste mês a oito cidades que haviam deixado de fazer parte da malha aérea desde o início da pandemia. Seis delas ainda estão com a curva ascendente no número de casos de coronavírus.
O retorno dos voos no atual estágio da pandemia divide a opinião de epidemiologistas consultados pela Folha e ocorre antes de o país atingir o pico da curva epidemiológica.
Ilhéus (BA), Londrina (PR), Maringá (PR), Porto Seguro (BA), Ribeirão Preto (SP) e Rondonópolis (MT) registram tendência de crescimento no número de casos do vírus, segundo dados do Ministério da Saúde analisados pela Folha.
Jaguaruna (SC) e Joinville (SC), também na lista de cidades que voltam à malha aérea em junho, apresentam estabilidade no contágio da doença. A reportagem usou como critério de avaliação a média móvel de sete dias de novos casos registrados nas cidades.
A redução do número de voos chegou a 95% no início da pandemia. As aéreas tiveram queda drástica de caixa, entraram no vermelho e passaram a negociar um pacote de socorro ao setor com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
A holding da Latam, que no Brasil disputa a liderança doméstica com a Gol, pediu recuperação judicial nos Estados Unidos em maio. Para evitar ter de recorrer à recuperação judicial no Brasil, Azul e Gol têm buscado renegociar dívidas com as arrendadoras de aeronaves e o pagamento de empréstimos com bancos.
A retomada gradual dos voos anunciada pelas companhias aéreas teve início neste mês e deverá ser ampliada até o fim do ano. A projeção das empresas é que em dezembro a operação chegue a algo entre 40% e 80% dos níveis pré-pandemia.
Neste mês, a Latam foi a empresa que ampliou a malha a mais cidades. Foram 14 novos destinos (alguns deles seguiam atendidos pelos concorrentes), contra 8 da Gol e 4 da Azul. A empresa opera hoje com 9% de sua capacidade.
Das cidades que voltaram a ser atendidas pela Latam, cinco haviam deixado de ter voos durante a pandemia: Londrina, Porto Seguro, Ribeirão Preto, Jaguaruna e Joinville. As três primeiras registram aumento do número de casos de coronavírus. Ao todo, a aérea voa agora para 39 destinos domésticos.
Na Gol, 3 das 8 cidades em que a empresa voltou a operar não eram mais rotas de voos: Ilhéus, Maringá e Porto Seguro. As três têm curva ascendente nos casos de coronavírus. A companhia opera agora em 35 cidades brasileiras.
Já na Azul, que voa a 44 municípios do país neste mês, são três novos destinos: Natal, Ribeirão Preto e Rondonópolis. Os últimos dois haviam parado de receber voos e ainda têm aumento de casos.
Para o epidemiologista Paulo Lotufo, professor da Faculdade de Medicina da USP, a retomada dos voos nas cidades em que ainda há aumento de casos é problemática.
"Ter as pessoas saindo de um lugar para outro de avião é realmente pedir para que os casos do vírus se espalhem. A experiência dos outros países foi esperar a redução dos casos, curvas descendentes."
Lotufo afirma que não há justificativa técnica do ponto de vista da saúde que embase a decisão de retomar os voos em meio à curva ascendente de infecções pelo coronavírus.
"Do ponto de vista epidemiológico, quem vai pegar o voo em Ribeirão Preto pode ter contatos com o vírus no caminho e ir para sua cidade, que não necessariamente é a do aeroporto. Duas dessas pessoas podem se contaminar no voo e uma pode ir para Uberlândia e outra para Batatais. Isso espalha o vírus."
Já Marcio Bittencourt, médico do Hospital Universitário da USP, afirma que o número de voos entre cidades com curva ascendente não necessariamente colabora para o aumento do número de casos, desde que sejam tomados cuidados para minimizar a exposição das pessoas a aglomerações.
"Se por um lado a gente quer evitar o trânsito de pessoas contaminadas, deixar regiões sem voos pode gerar problemas de desabastecimento e dificultar a chegada de profissionais da saúde ou insumos médicos, por exemplo. O transporte em si não é necessariamente um problema", diz.
"A restrição de voos tem o objetivo de evitar levar o vírus para onde ele ainda não está. Por isso, preocupa mais ter voos para onde não há casos. Entre duas cidades com descontrole da epidemia é ruim, mas o impacto não é muito grande", afirma o especialista.
Bittencourt diz que o ideal é que não haja fluxo de turistas nas rotas, pelo menos por enquanto, e que haja um mínimo de distanciamento de um metro entre os passageiros no interior das aeronaves. Ele recomenda, ainda, o uso de máscaras e a higienização das mãos.
"Tudo o que tem que funcionar durante a pandemia deve funcionar de modo planejado e preparado para minimizar riscos de infecção. No setor aéreo, é preciso ter um protocolo de atendimento do passageiro no aeroporto, no avião, no assento. Não pode embarcar passageiro com sintomas como febre, perda de olfato e paladar, não pode transportar alguém que esteve próximo de casos suspeitos ou confirmados nos últimos dez dias."
Procurada pela reportagem, a Latam disse que "avalia constantemente a sua malha aérea mínima essencial para enfrentar os impactos causados pela Covid-19, sempre com base na demanda de passageiros."
"A Latam reforça ainda que, desde o início da pandemia, agiu proativamente para assegurar o cuidado com as pessoas. Além de filas transversais, alternadas e espaçadas nos balcões de check-in, distribuição de álcool em gel, obrigatoriedade do uso de máscaras a bordo, adotou novos processos de limpeza e desinfecção profunda das aeronaves", disse a empresa em nota.
A Gol afirmou que o transporte aéreo é serviço essencial e que a demanda por voos "é parte da importante decisão de oferecer" as rotas.
"Todos os procedimentos regulares foram reforçados, além dos já rígidos padrões de sanitização da aviação civil estabelecidos pelos órgãos responsáveis", afirmou a empresa também em nota.
Entre as novas exigências de segurança, está o uso obrigatório de máscaras por clientes e tripulação.
"Também foram implementadas avançadas medidas adicionais de limpeza e higienização dos aviões durante as paradas em solo e pernoites, com atenção redobrada aos assentos e os braços das poltronas, cintos de segurança, bandejas, piso e paredes. Além disso, foi aprimorado o processo de limpeza noturna com o uso de um desinfetante de grau hospitalar para as galerias de serviço e todas as áreas de uso interno na cabine, incluindo a dos pilotos", diz a nota.
Já a Azul também afirmou que o presta "um serviço importantíssimo para o transporte de cargas, médicos, equipamentos para combate ao vírus" durante a pandemia, que segue os protocolos de higiene e segurança e que reforçou a limpeza de suas aeronaves a cada voo.
"A Azul também foi a primeira aérea do país a tornar obrigatório o uso de máscaras por tripulantes e clientes, tanto a bordo quanto em solo. Em outra iniciativa pioneira, a Azul passou a medir a temperatura dos tripulantes a cada início de turno, aumentando a confiança em solo e a bordo e preservando a vida e a segurança de todos", afirma em nota.
A empresa distribui kits com luvas, álcool em gel e lenço umedecido nos aviões a cada novo voo.
"A companhia também tem utilizado descontaminantes bactericidas que contam com um princípio ativo que elimina o vírus da Covid-19 em 99,99% dos casos. Com o produto e a limpeza dupla nos assentos, mesinhas, bolsão, banheiros, encosto de cabeça, cinto de segurança, janela, paredes e compartimentos superiores."
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O retorno dos voos no atual estágio da pandemia divide a opinião de epidemiologistas consultados pela Folha e ocorre antes de o país atingir o pico da curva epidemiológica.
Ilhéus (BA), Londrina (PR), Maringá (PR), Porto Seguro (BA), Ribeirão Preto (SP) e Rondonópolis (MT) registram tendência de crescimento no número de casos do vírus, segundo dados do Ministério da Saúde analisados pela Folha.
Jaguaruna (SC) e Joinville (SC), também na lista de cidades que voltam à malha aérea em junho, apresentam estabilidade no contágio da doença. A reportagem usou como critério de avaliação a média móvel de sete dias de novos casos registrados nas cidades.
A redução do número de voos chegou a 95% no início da pandemia. As aéreas tiveram queda drástica de caixa, entraram no vermelho e passaram a negociar um pacote de socorro ao setor com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
A holding da Latam, que no Brasil disputa a liderança doméstica com a Gol, pediu recuperação judicial nos Estados Unidos em maio. Para evitar ter de recorrer à recuperação judicial no Brasil, Azul e Gol têm buscado renegociar dívidas com as arrendadoras de aeronaves e o pagamento de empréstimos com bancos.
A retomada gradual dos voos anunciada pelas companhias aéreas teve início neste mês e deverá ser ampliada até o fim do ano. A projeção das empresas é que em dezembro a operação chegue a algo entre 40% e 80% dos níveis pré-pandemia.
Neste mês, a Latam foi a empresa que ampliou a malha a mais cidades. Foram 14 novos destinos (alguns deles seguiam atendidos pelos concorrentes), contra 8 da Gol e 4 da Azul. A empresa opera hoje com 9% de sua capacidade.
Das cidades que voltaram a ser atendidas pela Latam, cinco haviam deixado de ter voos durante a pandemia: Londrina, Porto Seguro, Ribeirão Preto, Jaguaruna e Joinville. As três primeiras registram aumento do número de casos de coronavírus. Ao todo, a aérea voa agora para 39 destinos domésticos.
Na Gol, 3 das 8 cidades em que a empresa voltou a operar não eram mais rotas de voos: Ilhéus, Maringá e Porto Seguro. As três têm curva ascendente nos casos de coronavírus. A companhia opera agora em 35 cidades brasileiras.
Já na Azul, que voa a 44 municípios do país neste mês, são três novos destinos: Natal, Ribeirão Preto e Rondonópolis. Os últimos dois haviam parado de receber voos e ainda têm aumento de casos.
Para o epidemiologista Paulo Lotufo, professor da Faculdade de Medicina da USP, a retomada dos voos nas cidades em que ainda há aumento de casos é problemática.
"Ter as pessoas saindo de um lugar para outro de avião é realmente pedir para que os casos do vírus se espalhem. A experiência dos outros países foi esperar a redução dos casos, curvas descendentes."
Lotufo afirma que não há justificativa técnica do ponto de vista da saúde que embase a decisão de retomar os voos em meio à curva ascendente de infecções pelo coronavírus.
"Do ponto de vista epidemiológico, quem vai pegar o voo em Ribeirão Preto pode ter contatos com o vírus no caminho e ir para sua cidade, que não necessariamente é a do aeroporto. Duas dessas pessoas podem se contaminar no voo e uma pode ir para Uberlândia e outra para Batatais. Isso espalha o vírus."
Já Marcio Bittencourt, médico do Hospital Universitário da USP, afirma que o número de voos entre cidades com curva ascendente não necessariamente colabora para o aumento do número de casos, desde que sejam tomados cuidados para minimizar a exposição das pessoas a aglomerações.
"Se por um lado a gente quer evitar o trânsito de pessoas contaminadas, deixar regiões sem voos pode gerar problemas de desabastecimento e dificultar a chegada de profissionais da saúde ou insumos médicos, por exemplo. O transporte em si não é necessariamente um problema", diz.
"A restrição de voos tem o objetivo de evitar levar o vírus para onde ele ainda não está. Por isso, preocupa mais ter voos para onde não há casos. Entre duas cidades com descontrole da epidemia é ruim, mas o impacto não é muito grande", afirma o especialista.
Bittencourt diz que o ideal é que não haja fluxo de turistas nas rotas, pelo menos por enquanto, e que haja um mínimo de distanciamento de um metro entre os passageiros no interior das aeronaves. Ele recomenda, ainda, o uso de máscaras e a higienização das mãos.
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Entre as novas exigências de segurança, está o uso obrigatório de máscaras por clientes e tripulação.
"Também foram implementadas avançadas medidas adicionais de limpeza e higienização dos aviões durante as paradas em solo e pernoites, com atenção redobrada aos assentos e os braços das poltronas, cintos de segurança, bandejas, piso e paredes. Além disso, foi aprimorado o processo de limpeza noturna com o uso de um desinfetante de grau hospitalar para as galerias de serviço e todas as áreas de uso interno na cabine, incluindo a dos pilotos", diz a nota.
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