*Fernando Rosa, jornalista, editor do blog Senhor X, especializado em geopolítica.

O atentado contra o candidato do PSL deixou perplexa a Nação brasileira que, passado o feriado, será exposta a todo tipo de exploração política do fato. A reação imediata e justificável em um primeiro momento foi de cautela e solidariedade com o atingido pela agressão, mas é fundamental ir além da ideia de que se tratou apenas de ação de um "lobo solitário".

É preciso, principalmente, investigar o estranho personagem que esfaqueou o candidato, além da inicial caracterização de "maluco". O que levou o cidadão a investir contra um candidato em meio aos seus fanáticos seguidores? Quais foram seus movimentos nos últimos dias, semanas, meses antes de chegar a Juiz de Fora? Qual a razão de escolher Juiz de Fora, Minas Gerais, para executar a "missão" – divina, segundo ele?

Neste sábado, a juíza Patrícia Alencar Teixeira de Carvalho, da 2ª Vara Federal de Juiz de Fora, autorizou a quebra do sigilo de celulares e de um notebook usados por Adélio. Nada usual, para uma pessoa como ele, sem recursos, surgem hoje na tela do Jornal Nacional da Rede Globo quatro (4) celulares, todos aparentemente de boa qualidade e novos. Os aparelhos foram apreendidos pela Polícia Federal na pensão em que estava hospedado, após o atentado.

Ainda devem ser explicadas a visita do esfaqueador a um clube de tiro em Florianópolis, frequentado pela família do candidato, e sua defesa – a qual tem direito! – por advogados ligados ao caso do goleiro Bruno. Advogados, inicialmente contratados pela igreja Testemunha de Jeová, segundo a imprensa, agora por um misterioso homem do interior de Minas. Quanto ao clube de tiro, é importante esclarecer não apenas o que Adélio foi fazer lá, mas também qual a relação da família do candidato com a instituição.

As respostas a essas perguntas podem explicar cabalmente a quem interessaria o atentado cometido contra o candidato do PSL? O amplo esclarecimento também mostraria quem se beneficiaria com o evento e seus desdobramentos junto à opinião pública?

Ao PT que foi ameaçado pelo candidato do PSL de ter sua militância metralhada, em ato de campanha no Acre, e que havia pedido a intervenção da Procuradoria Geral da República para coibir tal tipo de manifestação? Ou que, como demonstram todas as pesquisas, estando no segundo turno, pode ser prejudicado por esse tipo de ação? O PT aliás, já deve ser recordista em passar por situações como essa, desde a armação do sequestro do empresário Abílio Diniz.

Ao candidato do PSL claramente marcado por uma postura eleitoral agressiva, que na percepção do povo "fala besteiras demais", precisando reverter a rejeição flagrada na última pesquisa do Ibope, divulgada na véspera do atentado? A quem, certamente, também interessaria mudar sua imagem pública de agressor para vítima? O capitão-candidato tem história nesse terreno, a exemplo dos atentados planejados contra quartéis, quando ainda era militar da ativa.

Aos interesses externos que operam contra o Brasil, em intensa atividade desde as escutas telefônicas da NSA, a quem não interessam eleições? A quem, frustradas suas apostas eleitorais, sequer Bolsonaro, ou uma futura ameaça de golpe militar, como sugeriu seu vice, atenderia suas expectativas? Como já provamos em nossa história, a lógica desse submundo da política internacional é o caos, a desordem institucional e a violência.

O país não pode aceitar ter sua vontade manipulada por fatos ou pela versão de fatos, situação que vem se agravando a cada eleição. É bom lembrar que ao atentado em Juiz de Fora soma-se a uma série de eventos como os tiros contra as caravanas de Lula, o assassinato da vereadora Marielle, além de outros no passado recente. A PF, o GSI da Presidência e as autoridades regionais devem um esclarecimento imediato à sociedade.