Maldição do 'ouro negro'

 

Muitos países são submetidos a horrores, sem ninguém se importar; o que mobiliza potências e amplia o risco bélico no caso venezuelano são as maiores reservas de petróleo do planeta

 

Não há como prever o desfecho da crise na Venezuela. Isso, porque não se tem informações suficientes para a avaliação segura das forças de cada lado da disputa. A oposição liderada por Guiadó colocou em marcha nesta terça-feira (30/04) a sua maior ofensiva contra o regime chavista. No início da operação, durante a manhã, oposicionistas comemoraram adesões militares e populares; um site financeiro no Brasil chegou a especular sobre a renúncia do presidente Maduro. Mas, em questão de horas, o chavismo reagiu e mostrou que ainda possui os meios e apoios para resistir.

Agora, há três possíveis cenários para a Venezuela: se o governo Maduro não cair nas próximas horas ou dias (1), o regime chavista irá endurecer a repressão aos seus opositores, numa escalada do terror e da arbitrariedade (2), o que pode levar os seguidores de Guaidó à radicalização e desespero, transformando a disputa política em confronto bélico (3).

Dos cenários, o que parece hoje menos provável é o de  nº 1. O governo ainda conta com amplo apoio nas Forças Armadas e com milícias populares armadas, além dos homens e aviões russos que o presidente Putin enviou recentemente a Caracas para reforçar as defesas do aliado chavista. Por outro lado, o cenário aparentemente mais provável, o nº 2, é meio caminho andado para o de nº 3, em que o país explode em algum tipo de guerra ou guerrilha, enfim, uma situação de conflito com derramamento de sangue.

Se a Venezuela caminhar para disputas armadas, a internacionalização do conflito será inevitável. Donald Trump terá argumento para defender junto ao Congresso uma ação militar ostensiva dos EUA; é tudo o que ele quer. Mas a Rússia já está lá, com tropas. E a China também, com dinheiro. Uma eventual guerra ou enfrentamento pode se prolongar no tempo, transbordar pelas fronteiras para outros países e ter consequências inimagináveis para todo o nosso continente.

Vai ter guerra? Impossível prever. Mas, a Venezuela possui um fator de risco que torna o país propício à explosão de conflitos armados: petróleo. As reservas venezuelanas são as maiores conhecidas no mundo. E o ‘ouro negro’ tem sido a motivação real de várias guerras travadas nas últimas décadas, especialmente aquelas envolvendo diretamente os EUA. Não à toa, o ataque da oposição em Caracas ocorreu apenas dois dias depois da entrada em vigor, no domingo, do embargo do governo dos EUA ao petróleo venezuelano. O boicote às exportações da única fonte de receita do país preparou o ambiente para o movimento de Guaidó.

No frigir dos ovos, é o petróleo que mobiliza tantas nações em torno da Venezuela, e não o apreço à liberdade alegado pelos apoiadores de Guaidó ou a defesa da soberania venezuelana alegada pelos apoiadores de Maduro. Muitos países são submetidos a regimes autoritários ou passam por grandes  crises humanitárias sob a indiferença global. O regime na Nicarágua é mais repressivo e nas Filipinas mais mortífero. Mas ninguém se importa com esses países: não existe um mar de petróleo debaixo deles.

 

Fonte:osnovosinconfidentes.com.br