O ano seria de celebração pelos 45 anos de fundação do Grupo Corpo. Porém, impedida de ensaiar e com turnês incertas por causa da pandemia do novo coronavírus, a companhia de dança belo-horizontina procura seus caminhos para se manter em movimento e oferece um presente a quem tanto se esforça para combater a doença. O projeto Grupo Corpo de Plantão promoverá aulas de dança on-line especialmente desenvolvidas para os profissionais de saúde, a partir da próxima sexta-feira.

O objetivo é “oferecer exercícios que aliviem as dores e tensões e proporcionar momentos de descontração e alegria com os passos do Grupo Corpo”. Idealizadora da ação, a diretora de programação, Cláudia Ribeiro, explica que o conteúdo foi desenvolvido por bailarinos e pela direção de ensaios, incluindo “alongamentos e descontração para quem trabalha muito tempo em pé e ainda algumas sequências de movimentos de coreografias do Corpo”. Segundo ela, não é preciso ter intimidade com a dança contemporânea para participar.

“Tudo foi cuidadosamente preparado para fazer um 'Corpo para todos'. Então, vamos traduzir um pouco dos movimentos das coreografias para movimentos mais simples, possíveis para todos. Não é uma aula para bailarinos, é para profissionais de saúde, com o barato de dançar cada um na sua casa, para se soltar, como se fosse cantar no chuveiro”, afirma Cláudia Ribeiro, que diz acreditar “que a dança tem o poder de tratar o corpo e a alma.”

As aulas virtuais serão ministradas por bailarinos da companhia, que se revezarão ao longo do mês. Os encontros serão semanais, com duas opções de horário – na sexta-feira, às 18h, e no sábado, às 9h. Quem tiver interesse em participar deve se inscrever por meio de um formulário virtual disponível no endereço www.grupocorpo.com.br/blogplantao para receber o link de transmissão. O documento também está disponível nas páginas do Grupo Corpo nas principais redes sociais.

CARINHO
Com atividades suspensas durante toda a quarentena, o Plantão foi a forma que a companhia encontrou de se inserir nas demandas sociais originadas pela pandemia. “É um ano de celebração, mas os planos foram por água abaixo e agora buscamos soluções, dentro de atividades virtuais que sejam possíveis. Estamos fazendo uma série comemorativa, com pequenos documentários, de menos de cinco minutos, publicados nas redes sociais, contando a história do grupo desde 1975. Depois de cada vídeo, um bailarino do elenco atual dança um trecho do espetáculo em questão, cada um de sua casa”, comenta Cláudia Ribeiro.

“Mas chegou um momento em que apenas isso nos pareceu descolado da realidade, como se estivéssemos na nossa celebração, ignorando a gravidade do que está acontecendo. Então, surgiu a ideia de fazer essa demonstração de carinho e gratidão aos profissionais de saúde através da aula de dança”, diz.

O aniversário de 45 anos da companhia seria marcado com uma turnê pelo Brasil, apresentando seis remontagens do repertório, e a estreia de uma coreografia feita sob encomenda da Filarmônica de Los Angeles. O maestro Gustavo Dudamel planejou reger sua orquestra na execução da peça Estancia, do argentino Alberto Ginastera (1916-1983), com a coreografia do Corpo sendo executada simultaneamente.

Marcadas para outubro, na sede da Filarmônica de Los Angeles, as apresentações seguem agendadas, mas a diretora de programação trabalha com a possibilidade de alteração do calendário. “Está no limbo. Segue marcada, mas é muito incerto. Nada foi definido ainda e pode ser remarcado.”

Segundo Cláudia, o momento é de muitas incertezas em relação à sequência da temporada. “Estamos vivendo um dia de cada vez. Não há nenhum tipo de previsão concreta para a normalidade dos espetáculos. Estamos todos em casa e aguardando. É prematuro dizer qualquer coisa além disso. Temos um calendário nacional no segundo semestre mantido, mas sem nenhuma certeza, e apresentações internacionais já canceladas, como uma turnê pela França, em novembro. Fora isso, não podemos fazer previsões.”

Além de Gil (2019), mais recente espetáculo da companhia, as montagens previstas para a turnê comemorativa pelo Brasil são Lecuona (2004), Gira (2017), O corpo (2000), Oncotô (2005) e Bach (1996). As apresentações estavam previstas para os meses de agosto e setembro.

Os bailarinos seguem com atividades de preparação individuais em casa, mas sob um clima de incerteza quanto às apresentações. “A preocupação é grande, até porque não sabemos quais serão as condições para o público voltar aos teatros no futuro, mas não perdemos o otimismo”, afirma a diretora de programação.