SERRA DA MANTIQUEIRA


Lareira, fondue e vinho são uma tríade irresistível no inverno. A partir de julho, em Monte Verde, não é diferente. Mas o distrito de Camanducaia, a 480 km de Belo Horizonte, antes alvo de casais, está também se firmando como destino de ecoturismo e turismo de aventura. Cerca de 40 agências de receptivo já oferecem passeios a parques e fazendas e esportes de aventura, como tirolesa, cavalgada e arvorismo, para os adeptos da prática. 

O distrito de Camanducaia, quase na divisa com São Paulo, também foi eleito recentemente pelos usuários da plataforma de reservas Booking.com, que promove anualmente a premiação Traveller Review Award, como o segundo destino mais acolhedor do Brasil em 2021, perdendo apenas para Penedo, no Estado do Rio. Um dos principais quesitos avaliados é a hospitalidade, ou seja, a maneira como os moradores acolhem os turistas. 


“Monte Verde vive 100% de turismo, dependemos diretamente deles”, afirma Bruno Rosa, secretário de Turismo de Camanducaia. Nos últimos anos, a administração municipal tem fomentado com a iniciativa privada treinamentos com recepcionistas, garçons, prestadores de serviços, e isso, segundo Rosa, tem-se refletido na qualidade do atendimento. Há, ainda, o fato de a hospitalidade ter um pouco a ver com o jeito do mineiro. 

Hotelaria


A estrutura também é um dos fatores que colaboram para uma boa avaliação. No último inventário da prefeitura, realizado em 2014, Monte Verde tinha cerca de 220 meios de hospedagem, entre hotéis, pousadas e hotéis-fazenda. “Somos o segundo destino mineiro com o maior número de meios de hospedagens”, informa Rosa, perdendo apenas para a capital mineira. Não se contabiliza nos dados a locação de casas pela plataforma Airbnb.

A estrutura hoteleira é charmosa e aconchegante. Os hotéis e pousadas podem estar localizados no centro da vila, em áreas rurais ou nos arredores da avenida Sol Nascente. Os preços variam entre R$ 150 e R$ 2.000 a diária. Uma boa dica é a Fazenda Hotel Itapuá, próxima da área urbana, com chalés privativos espalhados pelo amplo terreno. Na diária estão inclusos café da manhã, trilha, cavalgada, ofurô, sauna, piscina e academia. 

A gastronomia é outro foco de quem visita o distrito. A cena gastronômica local mistura a típica cozinha mineira, com seu leitão à pururuca e feijão tropeiro, com pratos de origem europeia, como o marreco recheado e o famoso fondue, e com as receitas à base de truta –- o Paulo das Trutas (paulodastrutas.com.br) é o único trutário da localidade. Em um espaço em meio à floresta e que já virou ponto turístico, criam-se trutas que vão frescas à mesa.

Nos últimos anos, quem retorna a Monte Verde tem percebido a diversificação nas atrações turísticas. Os empreendimentos que oferecem esportes de aventura têm se multiplicado – a Fazenda Radical é um dos destaques. Outras novidades são o Ice Bar, um dos cinco existentes no Brasil, e o Parque Oschin, criado pelo imigrante Vilson Oschin, originário da Letônia, que transformou uma propriedade particular em uma atração para toda a família. 

Fazenda Radical


A Fazenda Radical oferece atividades de aventura, como megatirolesa, arvorismo, arco e flecha e parede de escaladas, e passeios de UTV e quadriciclo, tudo com acompanhamento de instrutores e guias. Segundo Nilson de Camargo, o Pezão, um dos sócios da atração, este é um dos poucos parques temáticos da região com sistema de gestão de segurança. Os preços variam de R$ 30 (arco e flecha e escalada) a R$ 150 (quadriciclo com pôr do sol). 

O destaque do parque é uma megatirolesa de 925 m ida e volta, que proporciona um circuito de emoção e adrenalina. A 70 m de altura do solo e paramentado com os acessórios de segurança obrigatórios, o praticante cruza primeiro uma mata virgem e uma floresta de eucaliptos, deslizando por cabos de aço e contemplando o visual da serra da Mantiqueira. Outros parques como esse, revela Bruno Rosa, já estão em implantação na região. 

Monte Verde também é famosa por ter uma das maiores frotas de quadriciclo do país – a maioria das empresas oferece o passeio restrito a quatro circuitos: Fazenda Radical, Fazenda Hotel Itapuá, Fazenda das Samambaias e Quadriventure. O veículo, que era de uso militar na década de 1950, vence facilmente qualquer terreno e vai de 200 a 400 cilindradas. Mas é preciso portar a Carteira Nacional de Habilitação para poder pilotar. 
Porém, a moda no distrito no momento são os passeios de UTV (Utility Task Vehicle),  meio-termo entre o jipe e o quadriciclo, hoje muito utilizado em ralis. Há uma versão adaptável para as trilhas. O passeio precisa de agendamento prévio e custa, em média, R$ 300 por uma hora. Considerado mais seguro, o UTV conta com uma proteção tubular em volta da carroceria do veículo para “blindar” passageiros em casos de capotagens e acidentes. 

Turistas


O casal alagoano Diego Cabral, 25, e Marilia Sarmento, 22, de Maceió, viajaram pela primeira vez a Monte Verde por indicação de amigos. Eles escolheram o destino mineiro exatamente por conta dos esportes de aventura. Cabral ficou encantado com a potencialidade da região. “É nossa primeira vez em Minas Gerais e pretendemos conhecer outros destinos do Estado nas próximas viagens”, afirmou o oficial da Marinha brasileira. 

Segundo o secretário de Turismo de Camanducaia, Bruno Rosa, Monte Verde precisa acabar com a sazonalidade para não ficar dependendo apenas dos meses de frio. “Se houvesse uma distribuição dos turistas ao longo do ano, os prestadores de serviço poderiam ter mais tranquilidade”, reconhece. Até 2019, o destino do Sul de Minas recebia, em média, 700 mil visitantes por ano e trabalhava para atingir a marca de 1 milhão no pós-pandemia. 

Pandemia


A pandemia do novo coronavírus, por sinal, impôs restrições ao distrito: ocupação de 60% da hotelaria e uma série de cuidados, que começam em uma barreira sanitária no portal de entrada. Monte Verde virou um case (relato de experiência) bem-sucedido na implementação de protocolos de higiene e segurança. O distrito permaneceu cem dias fechado e reabriu junho passado, com um sistema de controle muito rigoroso de turistas. 

No dia 18 de janeiro, a administração municipal voltou a fechar o acesso ao distrito por uma semana. “Quando todo mundo fechava, Monte Verde estava aberta, e quando todos abriram, fechamos”, comenta Rosa. Hoje, o foco é controlar o acesso do turista de um dia. Na semana passada, depois de cinco semanas de queda, Itajubá, Pouso Alegre e Varginha puxaram a alta de casos da Covid. A taxa de ocupação de leitos chegou a 85% na região. 

De olho nos números, Bruno Rosa acredita que o monitoramento rigoroso manterá Monte Verde aberta. Depois de um Natal com média de 50% de ocupação, a Secretaria de Turismo confirma a realização do Festival de Inverno em julho. “Ele será itinerante, com apresentações pela avenida, mas nada de palco para evitar aglomerações”, salienta. O formato também é pensado para o Amor nas Montanhas em junho para atrair namorados. 

Criada em 8 de março do ano passado, às vésperas do início da pandemia, a Move é uma agência de desenvolvimento que reúne empresários de vários segmentos da vila. Em dezembro, a agência, em parceria com a prefeitura, promoveu o Natal. “Para se ter uma ideia, a captação de recursos para o Natal Luz (Gramado) foi de R$ 3 milhões, e o de Monte Verde, R$ 1,3 milhão”, compara Rebbeca Cerello Wagner Ciscato, presidente da entidade. 

Eventos


Neste ano, o calendário de eventos, segundo Rebbeca, foi novamente prejudicado pela pandemia. Os três eventos mais tradicionais, o Festival Gastronômico, o Amor nas Montanhas e o Festival de Inverno, não acontecerão respectivamente em março, junho e julho, mas serão reunidos em um único projeto, tematizando gastronomia, romance e frio. “Se der certo, esse novo evento acabará entrando para o calendário oficial”, sinaliza Rebbeca. 

O ano passado não foi propriamente ruim para o distrito. Monte Verde teve, nos cálculos da Move, o melhor período de abril a dezembro de sua história, com aumento de 50% da atividade turística mesmo durante a pandemia. O crescimento é comprovado pela administração municipal devido ao aumento significativo do Imposto Sobre Serviços (ISS). Pela primeira vez, reconhece Rebecca, cresceu também o número de mineiros no distrito. 

Até então, boa parte dos visitantes em Monte Verde era oriunda de São Paulo. “Eles estão em larga vantagem”, enfatiza Bruno Rosa. Para manter o crescimento do número de visitantes de Minas, a secretaria estuda a elaboração de um plano de marketing. Camanducaia também pleiteia entrar na rota da Viação Itapemirim – recentemente, a empresa divulgou os municípios que pretende ligar a partir do terminal em Confins. 
Imigração

Distante 140 km de Campos do Jordão – são quatro horas de carro por conta da estrada sinuosa –,  Monte Verde divide com a cidade paulista o título de “Suíça brasileira”, muito por conta da baixa temperatura e da arquitetura europeia. No inverno, o distrito chegou a registrar -2,1°C em 2019. As casas de madeira lembram chalés. Parte da influência vem dos imigrantes da Letônia, que se refugiaram no Brasil durante a Primeira Guerra Mundial. 

É o caso de Vilson Oschin, do Parque Oschin, e do casal Arnist Renats Lucas e Donátila Mathilde de Abolin Lucas, apelidados carinhosamente pela população local de Tio Nato e Tia Nata, que produzem geleias na Villa Amarela. No quesito doces, a dica certeira é a Geleia Artesanal Edelweiss, do espanhol naturalizado brasileiro Edmundo Garcia Agudo, que criou sua própria fábrica com 16 sabores, mas a campeã de vendas é a de morango. 

Numa cidade de estilo europeu, o chocolate é exigência gastronômica. A visita à primeira fábrica de chocolates da cidade, a Gressoney, é tradição do turista. A gerente Sônia Godoy apresenta 90 tipos de chocolates preparados com ingredientes especiais, com destaque para a Prímula, com recheio de doce de leite e coberta de chocolate, que lembra o alfajor, o marzipã, uma massa de amêndoas coberta de chocolate, e a inusitada “sopa de morango”. 

Falcoaria


Da Europa também vem uma tradição milenar, a falcoaria. Do fascínio do biólogo, ornitólogo e educador ambiental Riuvânio Rodrigues Ferreira pelas aves de rapina nasceu um atrativo turístico. Na Esco Falco – Escola de Falcoaria, Rodrigues explica a arte milenar, apresenta as espécies, conta curiosidades, desmistifica crenças e desperta para a preservação da fauna. A apresentação dura 45 minutos, antes da aula prática. 

No plantel, são apenas quatro gaviões e três corujas. Muitas dessas aves foram recuperadas depois de apreendidas pela Polícia Militar e Ministério Público. A escola também desenvolve um trabalho de educação ambiental. Entre as espécies estão o gavião-de-asa-telha, muito utilizado na falcoaria por ser sociável, a coruja-suindara, associada erroneamente a agouros, e a coruja bubo-virginianus, conhecida como “jucurutu”. 

Nas redondezas


Não se sai de Monte Verde sem conhecer seu cartão-postal, a Pedra Redonda, atrativo natural que oferece as melhores vistas da região. A dica é o receptivo Irmãos Aventura. A trilha tem cerca de 900 m e dura cerca de 40 minutos. Após os primeiros 600 m, surge a recompensa de um mirante. Depois sobe-se uma escada de madeira até o topo. O acesso é limitado a quatro horários diários, com 120 por vez. A subida só é permitida com um guia. 

Outros atrativos naturais, como Pedra Batida, Platô, Chapéu do Bispo e pico do Selado, estão temporariamente fechados à visitação. Próximas do distrito, algumas atrações podem ser visitadas por conta própria, a pé ou de bike, como a trilha do Pinheiro Velho, que leva a um pinheiro de 500 anos, e às corredeiras do Itapuá, o Parque do Gato de Botas e as quedas d’água Gato de Botas, Siriema e da Pedreira, todas no percurso da avenida da Fazenda.

Serviço 


Como chegar


Pegue a BR–381 (Fernão Dias), no sentido SP, e, 450 km depois, entre em Camanducaia e percorra 30 km até Monte Verde.

Onde hospedar-se 


Fazenda Hotel Itapuá: Estrada de Monte Verde, KM 3, (35) 3438-1177. São 22 chalés nas categorias Pinus (R$ 535 a R$ 786), Pátula (R$ 630 a 885), com hidromassagem, e Refúgio (R$ 720 a R$ 1.050), com hidromassagem. Criança de até 5 anos não paga. itapuamonteverde.com.br  

Onde comer 


Bistrô Villa Donna: Rua Rolinha. Especializado em massas e risotos. Funciona todos os dias. Preço médio entre R$ 68 e R$ 107. Experimente o ravióli da Vó Maria, uma delicada massa fresca recheada com calabresa e queijo, com molho de ragu de calabresa, ao preço de R$ 72. Média dos pratos é de R$ 70 por pessoa. villadonna.com.br 

Confraria Paulistânia: Av. Monte Verde, 858, Galeria Suíça. Aberto todos os dias, mas fechado na terça-feira. Deguste a truta ou o salmão defumado, no cardápio há mais de 30 anos. Preço médio de R$ 62 por pessoa. 

Gressoney Chocolate Factory: Av. Monte Verde, 636. Aberto todos os dias, das 10h às 18h. O carro-chefe é a prímula com recheio de doce de leite, ao custo de R$ 7 a unidade, o marzipã (doce europeu) a R$ 7 a unidade, e a sopa de morango a R$ 25 (taça). Os preços dos chocolates estão a R$ 149 o quilo. facebook.com/gressoney.chocolates 

Ice Bar: Av. Monte Verde, s/nº. A uma temperatura de 10°C a 20°C negativos, o bar existe há dois anos. No ambiente, esculturas, poltronas, tronos, lustres, balcão, copo, tudo de gelo. Entrada a R$ 70 por 40 minutos, com direito a uma bebida alcoólica no copo de gelo. icebarmonteverde.com.br

La Pimpollina Forneria: Av. Monte Verde, 845. Especialidade de massas e trutas. Aberto todos os dias, almoço e jantar. Fecha às terças-feiras. Pratos entre R$ 35 e 45, e pizzas entre R$ 58 e 86. Experimente a pizza do Júlio, feita de muçarela, provolone, friarielli, linguiça fresca artesanal e tomatinho amarelo. pimpollina.com.br 

Geleia Artesanal Edelweiss: Fabricação própria. São 16 sabores, sendo que a campeã de vendas é a de morango. Potes de 270 g a R$ 22, e a de morango a R$ 24; pote de 50 g a R$ 9, e kits a R$ 20, R$ 40 e R$ 60. Tem ainda cinco sabores diet. geleiasedelweiss.com.br 

Paulo das Trutas: Aberto de segunda a sexta-feira, das 10h30 às 18h, sábado, das 10h30 às 19h. São duas unidades: rua da Floresta, 810, e avenida das Montanhas, 120. Especializado em trutas, serve exclusivamente os peixes que criam. Preço médio do cardápio entre R$ 56 e R$ 66. paulodastrutas.com.br 

Wine Not Mistral: Av. Monte Verde, 693. Aberto de quarta a sábado (almoço e jantar). Cardápio sazonal. Especialidades: carnes, peixes e massas, além de vinhos nacionais e estrangeiros. Preço médio de R$ 45 por pessoa. 


Agência de Receptivo


Quem leva: Irmãos Aventuras


Passeio: City tour (Pedra Redonda, Pousada do Castelo, Pousada Viviê, aeroporto, Fábrica de Chocolate, Fábrica de Sabonete Artesanal e Destilaria Monte Verde), com duração de três horas e com guia. R$ 300/R$ 350 na baixa temporada e  R$ 380 na lata temporada o casal. Informações pelo telefone (35) 99196-1720.

Passeios 


Escola de Falcoaria: Rodovia Agostinho Patrus, KM 4. Visita por meio de agendamento prévio pelo WhatsApp (35) 98851-5333. R$ 90 por participante e R$ 30 o acompanhante. escoladefalcoaria.com.br 

Fazenda Radical: Aberta todos os dias, das 9h às 16h, só fechando no dia de Natal. Atividades de megtirolesa (R$ 80), arvorismo (R$ 55), parede de escaladas (R$ 30), passeio de UTV (R$ 300 por uma hora), passeio de quadriciclo (R$ 120 por 13 km) e R$ 150 (para ver o pôr do sol), arco e flecha (R$ 30) e tirolesa kids (R$ 30). WhatsApp: (35) 98817-2645 ou fazendaradical.com.br 

Monte Verde Skating: Patinação no gelo. Av. Monte Verde, 1.463. Aberto de todos os dias, das 10h às 22h (de janeiro a julho), e de quinta a domingo nos outros meses do ano. R$ 70 por 30 minutos. facebook.com/patinacaomonteverde 

Parque Oschin: Rua Mantiqueira, 1.460. Aberto todos os dias, das 10h às 18h. Preços: criança de até 2 anos, cortesia; de 3 a 11 anos, R$ 20; e acima de 12 anos, R$ 30. No restaurante do atrativo pode-se degustar o marreco recheado ao preço médio de R$ 160 para duas pessoas. (35) 99753-4333 ou parqueoschin.com.br

 

Fonte:otempo.com.br

PAULO.CAMPOS@OTEMPO.COM.BR