Ator lança nesta segunda-feira (3), em Belo Horizonte, livro que conta sua trajetória pelos palcos do país

O telefone da redação toca na hora combinada. Do outro lado da linha, um notório defensor da pontualidade britânica: Antonio Fagundes. Como se sabe, em suas peças, quem chegar atrasado não entra. O curioso é que ele confessa certa displicência para organizar o acervo sobre sua trajetória artística. Por isso, a escritora Rosangela Patriota teve trabalho para repassar os 52 anos de carreira do ator – trabalho que deságua no livro “Antonio Fagundes – No Palco da História: Um Ator” (ed. Perspectiva), que será lançado nesta segunda-feira (3) em Belo Horizonte.

Registre-se: o livro em questão, com suas 488 páginas, não é uma biografia, mas um percurso pelos últimos 50 anos do teatro brasileiro sob a perspectiva do ator, que é um dos grandes nomes das artes cênicas, em constante trânsito entre o tablado, a televisão e o cinema.

Foi, aliás, por perceber que não tratava-se de uma “cilada” – para citar o hit de Pedro, personagem encarnado por Fagundes no seriado “Carga Pesada” (Globo) – que ele confiou a Rosangela não só uma longa entrevista, como tudo aquilo que possuía em matéria de acervo pessoal. Confiança construída pelo reconhecimento intelectual que nutrem um pelo outro. Ele leu um dos livros da autora, e ela viu nele uma história que era capaz de dizer muito do último meio século do teatro no Brasil.

“A gente conversava sobre (o escritor, ator e diretor) Fernando Peixoto (1937-2012) e Antonio questionou se eu não tinha interesse também no teatro dos anos 80”, comenta a autora. Foi o momento em que Rosangela iniciou o hiato do livro que preparava sobre Peixoto e passou a se debruçar sobre a trajetória de Fagundes. Entrevistou-o, assistiu a ensaios (o ator costuma convidar o público a assistir à construção das peças) e se aprofundou em pesquisas. “Ele nunca perguntou sobre o que eu ia escrever. Quando tinha a estrutura do livro, quis mostrar, e ele preferiu não ver. Só leu depois do ponto final”, indica.

Influências. No livro, Rosangela investiga de maneira particular a atuação de Fagundes junto à Companhia Estável de Repertório durante a década de 80, em São Paulo. “Uma época em que a gente lotava o Teatro de Cultura Artística de quarta a domingo. Nesses dez anos, foram mais de 3 milhões de espectadores”, lembra o ator, destacando que, mesmo tratando-se de uma “companhia vitoriosa”, quase não havia registro do fenômeno.

Mas o projeto vai para antes e para além. A pesquisadora precisou se deslocar para o início de sua carreira, passeando pelo tempo que conviveu com pessoas que Fagundes reconhece como mestres, entre eles Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006) e Renato Consorte (1924-2009). “Eu era um moleque com meus 16 anos, e havia, ali, outra geração. Então meu trabalho foi influenciado por essas pessoas”, conta o artista.

Pela convivência com esse círculo, Fagundes passou a se ver como um “outsider”. Entre os veteranos, era muito jovem; entre os que tinham sua idade, possuía formação outra. A impressão se manteve com o passar do tempo. “Quando fui fazer televisão, já fazia teatro havia dez anos. Então, na TV, sempre fui visto como ator de teatro”, situa. A continuidade e o sucesso de seus papéis na TV, algo presente no livro, fez com que fosse visto no palco como ator de novela.

Trabalho. Antonio Fagundes produz, de maneira independente, peças como “Baixa Terapia” – que circula pelo país há mais de um ano –, e filmes como “Contra a Parede”, que estreou em 11 de agosto. Na TV, seu próximo trabalho será na série “Se Eu Fechar os Olhos Agora” (Globo), que estreia em 2019.

Agenda

O quê. Lançamento do livro “Antonio Fagundes - No Palco da História: Um Ator”, com Rosangela Patriota e Antonio Fagundes, no projeto Sempre um Papo.

Onde. Auditório da Cemig (rua Alvarenga Peixoto, 1.200, Santo Agostinho).

Quando. Nesta segunda-feira (3), às 19h30.

Quanto. Entrada gratuita. O livro será vendido a R$ 84.