O motivo é a rapidez e a agressividade com que o vírus da febre amarela age no organismo, afirmam especialistas. Em muitos casos, quatro dias podem ser suficientes para que o paciente chegue a um quadro de inflamação aguda no fígado e se torne vítima de uma hepatite fulminante.
O virologista Pedro Vasconcelos, diretor do Instituto Evandro Chagas, órgão referência em pesquisas sobre o tema no país e vinculado ao Ministério da Saúde, explica que o agente infeccioso pode desestabilizar totalmente o funcionamento do organismo, levando o paciente à morte em pouco tempo.
“A destruição do tecido hepático (fígado), que é o alvo principal, se dá de forma muito profunda. Esse é um órgão essencial para a metabolização do que é ingerido e mexe com toda dinâmica do organismo”, destaca o especialista.
Para que o tratamento do paciente tenha sucesso, a agilidade da intervenção médica faz toda a diferença. “É agindo rápido que se protege a mucosa do estômago, que também começa a sangrar. Se o atendimento demora, a pessoa acaba chegando à falência renal”, acrescenta Vasconcelos.
O último boletim divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde indicava 16 mortes por febre amarela em Minas. No entanto, outras cidades como Brumadinho, na Grande BH, e Juiz de Fora, na Zona da Mata, confirmaram novos óbitos. Um balanço oficial do Estado deve ser divulgado hoje
Gravidade
Pesquisadores de arboviroses – patologias transmitidas por insetos – desconfiam que o vírus da febre amarela possa estar mais forte em relação aos primeiros registros da doença no Brasil, em 1932.
O professor do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, Flávio Guimarães da Fonseca, explica que alguns institutos nacionais já sequenciaram o genoma do agente infeccioso e suspeitam de mutações que podem ser responsáveis pelo aumento das taxas de letalidade. “Mas isso ainda está em fase de pesquisa”, pondera Flávio da Fonseca.
Os estragos, no entanto, assustam. O vírus é tão violento que uma pessoa infectada pode ter falência renal até três anos após se tratar contra a doença. “Geralmente, é necessário um acompanhamento do paciente mesmo depois da alta médica”, afirma o pesquisador.
Diferenças
A principal diferença da febre amarela em relação a dengue, zika e chikungunya são os órgãos mais afetados pelos vírus após a infecção. Quem afirma é o professor de medicina da Universidade de Franca (Unifran), no interior de São Paulo, Homero Antonio Rosa Junior.
Ele esclarece que a febre amarela ataca diretamente o fígado e os rins, enquanto a dengue atinge o sistema circulatório, em que o tratamento mais precoce pode diminuir as incidências de mortes. “Já a chikungunya mira as articulações e, por fim, a zika tem um acometimento quase que exclusivo no sistema nervoso central e periférico”.