array(31) {
["id"]=>
int(125052)
["title"]=>
string(77) "Segunda onda apresenta mesmos problemas: alta de casos e colapso em hospitais"
["content"]=>
string(8882) "Os números de casos e mortes do novo coronavírus da última semana epidemiológica concluída trazem a sensação de que o país revive o pico da pandemia, visto em julho. No entanto, a semana marcada por recordes negativos do novo coronavírus e pela volta do registro de mortes diárias no patamar dos milhares expõe o cenário de caos em que a segunda onda da doença ameaça jogar o país. Especialistas acreditam que esse movimento pode ser mais dramático do que a fase vivenciada entre abril e agosto, já que os brasileiros ainda se preparam para festas de final de ano, que, normalmente, são focos de aglomeração de famílias e de pessoas.
Para o médico Adriano Massuda, sanitarista pela Universidade Federal do Paraná e professor na Fundação Getulio Vargas (FGV), o país não está preparado para uma nova explosão dos contágios. “Hoje, nós vamos enfrentar um sistema de saúde sobrecarregado e com profissionais cansados. Isso implica uma capacidade de resposta que pode ser pior do que na primeira onda”, ressalta o Ph.D em saúde coletiva.
Massuda lembra que o país também enfrenta as consequências de outras doenças que não foram tratadas da forma adequada devido à pandemia. “Já há registro na redução de tratamentos de doenças crônicas, como hipertensão, diabetes e cânceres, que vão aparecer em quadros mais complexos e, assim, demandando atenção hospitalar”, observa.
A epidemiologista Ethel Maciel, pós-doutora pela Universidade Johns Hopkins e professora da Universidade Federal do Espírito Santo, ressalta o problema abordado por Massuda. “No início, nós tivemos o cancelamento de todos os procedimentos que não eram emergenciais e quase todos os hospitais ficaram exclusivos para covid-19, mas, agora, não temos esse cenário”, afirma a especialista.
Para ela, a maior preocupação é a velocidade com que a rede de saúde dos estados precisará se preparar para atender à nova alta de infecções “A gente não tem leitos exclusivos para a covid, e é uma preocupação muito grande, porque não sei com qual velocidade os estados vão poder reabrir aqueles que estavam desativados. Então, acho que a gente corre um risco de um colapso iminente”, alerta.
De acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), o Brasil tem 17.637 leitos habilitados para pacientes com COVID-19, mas apenas 4.262 destes estão em operação. O Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde estima que um a cada três leitos do país é perdido.
Recordes negativos
A nova alta de casos e mortes do Brasil fez o país bater recordes negativos na última semana, na qual o Ministério da Saúde registrou o maior número de infecções pelo novo coronavírus em um só dia, ao atingir pela primeira vez mais de 70 mil casos. Sem os números de São Paulo, o Brasil confirmou, na última quarta-feira, 70.574 diagnósticos positivos. Ethel explica que esse salto ocorre porque o vírus já circulava dentro do país.
“O vírus estava circulando entre nós, a única diferença é que ele tinha desacelerado e não estava em crescimento exponencial. O que acontece é que, nessas doenças causadas por contato, toda vez que se aumenta a interação, você acelera a transmissão”, avalia.
O movimento de volta ao trabalho presencial, que ocorre desde setembro, foi uma das fontes da propagação do novo coronavírus. “Com isso, houve um aumento da circulação de pessoas, principalmente em transportes coletivos, nos quais a gente não teve melhoria nenhuma durante a pandemia”, indica Ethel. Além disso, a epidemiologista destaca que, no meio do caminho, o país teve eleições municipais. “Um vírus que, teoricamente, estava devagar, começou a ser transmitido de forma mais rápida”, observa.
Falta de controle
Para o Ph.D em microbiologia na área de Genética de Bactérias pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e colaborador do Instituto Questão de Ciência (IQC), Luiz Almeida, o Brasil, infelizmente, não conseguiu controlar a onda de contaminação pelo novo coronavírus desde o começo da pandemia.
“O país não estava em uma onda de covid-19, e, sim, em um tsunami. Estamos com um alto índice de mortes diárias e contaminação desde o início da doença, e não conseguimos baixar os números de forma eficaz. E, agora, mesmo com os casos em ascensão, as pessoas estão se descuidando”, alerta.
O especialista explica que o conceito de onda é dado pelo desenho feito pelo gráfico de contaminação e óbitos, e diz que o atual aumento de casos ocorre devido ao grande número de pessoas que ainda não foram contaminadas, que estavam isoladas no começo da pandemia e voltaram a sair e a realizar viagens, principalmente por causa do fim de ano.
Cuidados redobrados
A sensação de estar no “finalzinho da pandemia” é equivocada. O sanitarista Adriano Massuda pontua que o vírus não segue nosso calendário nem uma ordem cronológica. “Parece irrelevante falar isso, mas, o fim do ano não implica o fim do vírus. Muito pelo contrário. As coisas não vão acontecer do dia para noite. É uma boa notícia termos a vacina em fase de testes e algumas populações estarem sendo imunizadas, mas o vírus se mostrou altamente transmissível e o cuidado precisa ser contínuo. O final do ano precisa ser aproveitado com cautela para evitarmos maiores casos de transmissão. O ano de 2021 precisa ser o de derrotar o vírus”, disse.
A falta de medidas mais restritivas para forçar uma diminuição no fluxo de pessoas pode resultar em um cenário ainda mais caótico no início de 2021. "Culturalmente, temos essa tradição de fim de ano em que as pessoas se encontram e celebram, mas, neste momento, é preciso dizer que este Natal e o ano-novo vão ser diferentes. A gente tem que entender que, para termos outras celebrações e outras festas, temos que comemorar estas de forma especial”, indica o epidemiologista Ethel Maciel.
O cuidado é ainda mais necessário, já que a maioria das famílias tem pessoas mais velhas e com comorbidades, que integram grupos de risco. “Precisamos proteger essas pessoas, e o ideal é que reúna apenas aquelas que moram na mesma casa”, indica.
As recomendações do microbiologista Luiz Almeida vão na mesma linha. O especialista aconselha reuniões familiares reduzidas, com preferência em locais abertos, com o uso de máscaras em todos os momentos possíveis, além da distância social e da higienização das mãos. Almeida faz uma comparação entre não usar medidas preventivas e a chamada roleta-russa. “A cada descuido ou medida que o cidadão deixa de adotar é como se ele colocasse mais uma bala no cartucho e girasse esse tambor para apertar o gatilho. Às vezes, ele não sofre dano algum, mas, à medida que o tempo passa, o risco aumenta”, reitera.
"
["author"]=>
string(42) "Correio Braziliense/ Diàrio de Pernambuco"
["user"]=>
NULL
["image"]=>
array(6) {
["id"]=>
int(573934)
["filename"]=>
string(18) "paciecovidhosp.jpg"
["size"]=>
string(6) "335037"
["mime_type"]=>
string(10) "image/jpeg"
["anchor"]=>
NULL
["path"]=>
string(5) "site/"
}
["image_caption"]=>
string(30) "Foto: Silvio Avila/Arquivo/AFP"
["categories_posts"]=>
NULL
["tags_posts"]=>
array(0) {
}
["active"]=>
bool(true)
["description"]=>
string(0) ""
["author_slug"]=>
string(40) "correio-braziliense-diario-de-pernambuco"
["views"]=>
int(98)
["images"]=>
NULL
["alternative_title"]=>
string(0) ""
["featured"]=>
bool(false)
["position"]=>
int(0)
["featured_position"]=>
int(0)
["users"]=>
NULL
["groups"]=>
NULL
["author_image"]=>
NULL
["thumbnail"]=>
NULL
["slug"]=>
string(76) "segunda-onda-apresenta-mesmos-problemas-alta-de-casos-e-colapso-em-hospitais"
["categories"]=>
array(1) {
[0]=>
array(9) {
["id"]=>
int(436)
["name"]=>
string(6) "Saúde"
["description"]=>
NULL
["image"]=>
NULL
["color"]=>
string(7) "#a80000"
["active"]=>
bool(true)
["category_modules"]=>
NULL
["category_models"]=>
NULL
["slug"]=>
string(5) "saude"
}
}
["category"]=>
array(9) {
["id"]=>
int(436)
["name"]=>
string(6) "Saúde"
["description"]=>
NULL
["image"]=>
NULL
["color"]=>
string(7) "#a80000"
["active"]=>
bool(true)
["category_modules"]=>
NULL
["category_models"]=>
NULL
["slug"]=>
string(5) "saude"
}
["tags"]=>
NULL
["created_at"]=>
object(DateTime)#539 (3) {
["date"]=>
string(26) "2020-12-20 14:15:03.000000"
["timezone_type"]=>
int(3)
["timezone"]=>
string(13) "America/Bahia"
}
["updated_at"]=>
object(DateTime)#546 (3) {
["date"]=>
string(26) "2020-12-20 14:15:03.000000"
["timezone_type"]=>
int(3)
["timezone"]=>
string(13) "America/Bahia"
}
["published_at"]=>
string(25) "2020-12-20T14:10:00-03:00"
["group_permissions"]=>
array(4) {
[0]=>
int(1)
[1]=>
int(4)
[2]=>
int(2)
[3]=>
int(3)
}
["image_path"]=>
string(23) "site/paciecovidhosp.jpg"
}
Os números de casos e mortes do novo coronavírus da última semana epidemiológica concluída trazem a sensação de que o país revive o pico da pandemia, visto em julho. No entanto, a semana marcada por recordes negativos do novo coronavírus e pela volta do registro de mortes diárias no patamar dos milhares expõe o cenário de caos em que a segunda onda da doença ameaça jogar o país. Especialistas acreditam que esse movimento pode ser mais dramático do que a fase vivenciada entre abril e agosto, já que os brasileiros ainda se preparam para festas de final de ano, que, normalmente, são focos de aglomeração de famílias e de pessoas.
Para o médico Adriano Massuda, sanitarista pela Universidade Federal do Paraná e professor na Fundação Getulio Vargas (FGV), o país não está preparado para uma nova explosão dos contágios. “Hoje, nós vamos enfrentar um sistema de saúde sobrecarregado e com profissionais cansados. Isso implica uma capacidade de resposta que pode ser pior do que na primeira onda”, ressalta o Ph.D em saúde coletiva.
Massuda lembra que o país também enfrenta as consequências de outras doenças que não foram tratadas da forma adequada devido à pandemia. “Já há registro na redução de tratamentos de doenças crônicas, como hipertensão, diabetes e cânceres, que vão aparecer em quadros mais complexos e, assim, demandando atenção hospitalar”, observa.
A epidemiologista Ethel Maciel, pós-doutora pela Universidade Johns Hopkins e professora da Universidade Federal do Espírito Santo, ressalta o problema abordado por Massuda. “No início, nós tivemos o cancelamento de todos os procedimentos que não eram emergenciais e quase todos os hospitais ficaram exclusivos para covid-19, mas, agora, não temos esse cenário”, afirma a especialista.
Para ela, a maior preocupação é a velocidade com que a rede de saúde dos estados precisará se preparar para atender à nova alta de infecções “A gente não tem leitos exclusivos para a covid, e é uma preocupação muito grande, porque não sei com qual velocidade os estados vão poder reabrir aqueles que estavam desativados. Então, acho que a gente corre um risco de um colapso iminente”, alerta.
De acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), o Brasil tem 17.637 leitos habilitados para pacientes com COVID-19, mas apenas 4.262 destes estão em operação. O Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde estima que um a cada três leitos do país é perdido.
Recordes negativos
A nova alta de casos e mortes do Brasil fez o país bater recordes negativos na última semana, na qual o Ministério da Saúde registrou o maior número de infecções pelo novo coronavírus em um só dia, ao atingir pela primeira vez mais de 70 mil casos. Sem os números de São Paulo, o Brasil confirmou, na última quarta-feira, 70.574 diagnósticos positivos. Ethel explica que esse salto ocorre porque o vírus já circulava dentro do país.
“O vírus estava circulando entre nós, a única diferença é que ele tinha desacelerado e não estava em crescimento exponencial. O que acontece é que, nessas doenças causadas por contato, toda vez que se aumenta a interação, você acelera a transmissão”, avalia.
O movimento de volta ao trabalho presencial, que ocorre desde setembro, foi uma das fontes da propagação do novo coronavírus. “Com isso, houve um aumento da circulação de pessoas, principalmente em transportes coletivos, nos quais a gente não teve melhoria nenhuma durante a pandemia”, indica Ethel. Além disso, a epidemiologista destaca que, no meio do caminho, o país teve eleições municipais. “Um vírus que, teoricamente, estava devagar, começou a ser transmitido de forma mais rápida”, observa.
Falta de controle
Para o Ph.D em microbiologia na área de Genética de Bactérias pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e colaborador do Instituto Questão de Ciência (IQC), Luiz Almeida, o Brasil, infelizmente, não conseguiu controlar a onda de contaminação pelo novo coronavírus desde o começo da pandemia.
“O país não estava em uma onda de covid-19, e, sim, em um tsunami. Estamos com um alto índice de mortes diárias e contaminação desde o início da doença, e não conseguimos baixar os números de forma eficaz. E, agora, mesmo com os casos em ascensão, as pessoas estão se descuidando”, alerta.
O especialista explica que o conceito de onda é dado pelo desenho feito pelo gráfico de contaminação e óbitos, e diz que o atual aumento de casos ocorre devido ao grande número de pessoas que ainda não foram contaminadas, que estavam isoladas no começo da pandemia e voltaram a sair e a realizar viagens, principalmente por causa do fim de ano.
Cuidados redobrados
A sensação de estar no “finalzinho da pandemia” é equivocada. O sanitarista Adriano Massuda pontua que o vírus não segue nosso calendário nem uma ordem cronológica. “Parece irrelevante falar isso, mas, o fim do ano não implica o fim do vírus. Muito pelo contrário. As coisas não vão acontecer do dia para noite. É uma boa notícia termos a vacina em fase de testes e algumas populações estarem sendo imunizadas, mas o vírus se mostrou altamente transmissível e o cuidado precisa ser contínuo. O final do ano precisa ser aproveitado com cautela para evitarmos maiores casos de transmissão. O ano de 2021 precisa ser o de derrotar o vírus”, disse.
A falta de medidas mais restritivas para forçar uma diminuição no fluxo de pessoas pode resultar em um cenário ainda mais caótico no início de 2021. "Culturalmente, temos essa tradição de fim de ano em que as pessoas se encontram e celebram, mas, neste momento, é preciso dizer que este Natal e o ano-novo vão ser diferentes. A gente tem que entender que, para termos outras celebrações e outras festas, temos que comemorar estas de forma especial”, indica o epidemiologista Ethel Maciel.
O cuidado é ainda mais necessário, já que a maioria das famílias tem pessoas mais velhas e com comorbidades, que integram grupos de risco. “Precisamos proteger essas pessoas, e o ideal é que reúna apenas aquelas que moram na mesma casa”, indica.
As recomendações do microbiologista Luiz Almeida vão na mesma linha. O especialista aconselha reuniões familiares reduzidas, com preferência em locais abertos, com o uso de máscaras em todos os momentos possíveis, além da distância social e da higienização das mãos. Almeida faz uma comparação entre não usar medidas preventivas e a chamada roleta-russa. “A cada descuido ou medida que o cidadão deixa de adotar é como se ele colocasse mais uma bala no cartucho e girasse esse tambor para apertar o gatilho. Às vezes, ele não sofre dano algum, mas, à medida que o tempo passa, o risco aumenta”, reitera.