O Ministério da Saúde usou a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para produzir quatro milhões de comprimidos de cloroquina com dinheiro destinado ao combate emergencial da pandemia de Covid-19. A informação consta em documentos enviados pela pasta ao Ministério Público Federal (MPF) e obtidos pela Folha de S. Paulo. 

Segundo o jornal, além de cloroquina, a verba também foi usada para a produção de fosfato de oseltamivir (Tamiflu). Os dois medicamentos não têm eficácia comprovada contra a Covid-19. No caso da cloroquina, estudos já comprovaram que o remédio não funciona contra a infecção pelo novo coronavírus. Ao todo, segundo os documentos, foram gastos R$ 70,4 milhões com a produção dos dois medicamentos. 

O dinheiro usado faz parte do recurso aprovado em abril, por meio de uma Medida Provisória para o enfrentamento da pandemia. Ao todo, o Ministério da Saúde teve direito a usar R$ 9,44 bilhões como crédito extraordinário. Dessa verba, a Fiocruz recebeu R$ 457,3 milhões para ações de combate à Covid-19.


A Fiocruz afirmou que não produziu cloroquina com destinação a pacientes com covid-19. Segundo a instituição, a produção feita em Farmanguinhos, laboratório da Fundação, foi para profilaxia e tratamento de ataque agudo de malária e no tratamento de amebíase hepática, artrite, lúpus, sarcoidose e doenças de fotossensibilidade, que é o que é especificado na bula do remédio. A verba emergencial questionada, no entanto, seria para o enfrentamento da doença do novo coronavírus.

Procurado pelo Correio, o Ministério da Saúde não se manifestou. 

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, é investigado pelo MPF e pela Procuradoria Geral da República (PGR) pela distribuição de cloroquina para pacientes da Covid-19. Em janeiro, o Tribunal de Contas da União (TCU) emitiu parecer que apontou ilegalidade no uso de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) para o fornecimento de cloroquina para o tratamento de pacientes com coronavírus.