Em 2017, o Brasil registrou 2,4 mil casos de infectados pelo HIV, 6% a mais que no ano anterior. Aumento da incidência se deu em Rondônia, Acre, Ceará, Rio Grande do Norte e Mato Grosso do Sul

Apesar de avanços no tratamento, a redução de mortes por HIV ainda é um desafio. Em cinco estados: Rondônia, Acre, Ceará, Rio Grande do Norte e Mato Grosso do Sul; os óbitos aumentaram no último ano. O número de infectados pelo vírus cresceu 6%. No ano passado, o Ministério da Saúde identificou 42,4 mil novos casos da doença, contra 40 mil de 2016. Em 30 anos, as autoridades registraram 926.742 ocorrências de HIV.
Amanhã se celebra o Dia Nacional de Luta contra a Aids. Estima-se que haja 36,9 milhões de pessoas vivendo com HIV no mundo. No ano passado, foram registradas 940 mil mortes por doenças relacionadas à Aids. A UNAids, programa da Organização das Nações Unidas dedicado ao combate da doença, faz um alerta: as estatísticas representam apenas 25% dos soropositivos. No mundo, cerca 9,4 milhões de pessoas não sabem que contraíram o vírus.
Para diminuir o tempo de diagnóstico e início do tratamento, o Ministério da Saúde pretende, a partir de janeiro, distribuir na rede pública o autoteste de HIV para populações-chave e pessoas/parceiros em uso de medicamento de pré-exposição ao vírus. Serão distribuídas 400 mil unidades, inicialmente como projeto-piloto nos estados de São Paulo, do Rio de Janeiro, do Paraná, de Santa Catarina, da Bahia, do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais e do Amazonas. Este ano, mais de 12,5 milhões de unidades foram disponibilizadas.
O coordenador do Polo de Prevenção das DSTs da Universidade de Brasília (UnB), Mário Ângelo Silva, defende que há uma banalização da doença. “As pessoas deixam de usar o preservativo, que é o método mais eficaz, por confiarem no fato de ter medicamentos eficazes. Basta uma relação sem camisinha para a transmissão do vírus. O HIV continua sendo um fator de preocupação para a saúde pública”, explicou.
Uma parcela de doentes sequer sabe que tem uma DST, alerta o infectologista Eduardo Espíndola. “Esse aspecto faz com que a infecção seja em progressão geométrica, ou seja, a pessoa infectada que não sabe do diagnóstico transmite o vírus ou a bactéria para outras, que também ficam no ostracismo”, afirmou.
Espíndola chama a atenção para outro aspecto: o da confiança. “No começo dos relacionamentos, o uso do preservativo é natural. Mas, quando a relação está estabilizada há mais tempo, isso se perde. Com os jovens, é ainda mais arriscado por eles estarem numa fase de descobertas, nas quais a vida sexual é mais ativa. Transam mais e com um número maior de pessoas”, destaca o especialista.
Investimentos
Apesar do aumento de casos, em quatro anos, a taxa de mortalidade passou de 5,7 por 100 mil habitantes em 2014 para 4,8 óbitos no ano passado. “A garantia do tratamento para todos, lançada em 2013, e a melhoria do diagnóstico contribuíram para a queda, além da ampliação do acesso à testagem e redução do tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento”, explica o Ministério da Saúde, em nota.
Desde 2013, os medicamentos antirretrovirais podem ser acessados nas unidades de saúde pelos soropositivos independentemente da quantidade de vírus que eles apresentarem no corpo. Desde a introdução do tratamento para todos, até setembro deste ano, 585 mil pessoas com HIV/aids estavam em tratamento no país.
“Estão sendo feitos avanços importantes. Novas tecnologias de testagem em postos de atendimento, que acontecem em um ambiente mais próximo das pessoas, mostraram que o tempo necessário para receber os resultados dos testes das crianças diminuiu de meses para minutos, o que está salvando vidas”, afirma a UNAids, por meio de comunicado.
No lançamento dos novos dados, o ministro da Saúde, Gilberto Occhi comentou a banalização da doença. “O Brasil tem dado a sua contribuição no combate à doença, com a garantia de tratamento e oferta de testes para identificar o vírus, mas é preciso conscientização da população, principalmente dos jovens, sobre a necessidade da prevenção”, avaliou.
"O Brasil tem dado a sua contribuição no combate à doença, com a garantia de tratamento e oferta de testes para identificar o vírus, mas é preciso conscientização da população, principalmente dos jovens, sobre a necessidade da prevenção”
Gilberto Occhi, ministro da Saúde