(FOLHAPRESS) - Dois dos nomes mais cotados para uma eventual disputa contra Lula (PT) no ano que vem, os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), optaram por cautela diante da nova crise de violência no Rio de Janeiro.

Na contramão, os demais presidenciáveis do grupo político, Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e Ronaldo Caiado (União), de Goiás, logo nas primeiras horas endossaram a ação do colega Cláudio Castro (PL).

Tarcísio também prestou solidariedade e apoio ao governador fluminense pela operação que deixou 121 mortos no Complexo da Penha, mas apenas o fez publicamente na noite de quarta-feira (29). Já Ratinho falou reservadamente com Castro, mas não se manifestou em redes sociais.

Pré-candidato declarado ao Planalto, Ratinho é tratado como principal nome por alas do empresariado e do mundo político caso Tarcísio não seja candidato. 

O governador de São Paulo, por sua vez, afirma que buscará a reeleição em 2026, enquanto auxiliares aguardam uma indicação explícita de Bolsonaro para que ele entre na disputa presidencial.

Conforme a Folha publicou, governadores de direita veem a pauta como uma oportunidade para se contrapor a Lula e se desvencilhar da agenda da anistia a Jair Bolsonaro (PL).

Circulou entre auxiliares dos governos estaduais, ao longo da quarta-feira, monitoramento de redes que apontaram maior apoio da população ao tema.

No final da tarde desta quinta, os governadores de direita se reuniram no Palácio de Laranjeiras, num encontro articulado por Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina, para discutir a segurança pública. A participação de Ratinho Jr. teve idas e vindas: ele não iria inicialmente, depois decidiu ir, mas, por fim, não foi, por causa de um atraso em um leilão na B3.

Tarcísio, por sua vez, foi convidado para a segunda reunião, presencial, no Rio, nesta quarta (30), mas, no fim da tarde de terça, quando a letalidade da operação se tornou mais evidente, avisou que não iria presencialmente, mas participaria virtualmente. Ele marcou uma cerimônia sobre saúde no Palácio dos Bandeirantes, com a presença de prefeitos.

Segundo relatos de interlocutores, o governador de São Paulo recebeu conselhos de toda sorte. Alguns auxiliares sugeriram que se posicionasse ao lado de Castro, por ser um tema caro ao seu eleitorado e em relação ao qual não caberia ficar isento. De outros, o conselho foi para adotar cautela: o caso é complexo e é possível que a visão sobre ele mude caso apareça algo ainda mais grave.

Tarcísio publicou uma longa postagem nas redes sociais, de oito parágrafos, em que cita o teórico militar Carl von Clausewitz ao falar da conquista de territórios. No texto, ele se solidariza com Castro, estendendo a solidariedade "às famílias dos policiais que tombaram heroicamente em combate e à população que sofre as consequências dessa violência desmedida".

Aliados do governador reafirmaram seu apoio a Castro e dizem que ele optou por se posicionar por nota, ao final do dia, porque o tema é complexo e queria ponderar todos os pontos, num texto consistente.

O governador já enfrentou críticas pela atuação da PM paulista, sobretudo após a Operação Escudo, na Baixada Santista, que deixou 28 mortos, e pela declaração sobre não estar "nem aí" para queixas de abusos apresentadas por entidades à ONU (Organização das Nações Unidas).

Na manhã de terça (29), ele participou de reunião virtual junto com outros governadores de oposição sobre a crise no Rio, num momento em que ainda surgiam as notícias de que moradores levavam corpos à praça São Lucas, na Penha. Ratinho Jr. foi convidado, mas não participou dessa primeira conversa.

O paranaense disse aos colegas que estaria em evento externo e não participou da reunião virtual. Também alegou, inicialmente, falta de espaço na agenda para o encontro presencial no Rio. Já tinha até mesmo escalado o secretário Hudson Leôncio Teixeira para conversar com a equipe fluminense ainda na segunda para oferecer ajuda. Depois, na noite de quarta, mudou de ideia e foi ao encontro nesta quinta.

A equipe de Ratinho tenta construir uma imagem mais moderada dele e avalia que houve derrapadas de Tarcísio, como os ataques ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), que reforçaram a possibilidade de ele tentar se diferenciar.

Os posicionamentos dos governadores do Paraná e de São Paulo destoam dos de Zema e Caiado, que foram mais diretos e buscam se cacifar como candidatos ao Palácio do Planalto mais à direita.

O governador de Minas Gerais afirmou que o Rio não poderia "ficar abandonado". Defendeu prisões em massa, como em El Salvador, e criticou Lula, que quatro dias antes havia dito que traficantes eram vítimas de usuários de drogas –o petista depois se retratou.

Caiado disse à Folha que a operação de Castro representava um "resgate do Estado democrático de Direito" e também atacou o governo Lula, que seria "complacente com o crime".

Foram convidados para o encontro no Rio de Janeiro apenas gestores alinhados à direita -de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, São Paulo e Paraná.

Na avaliação de um governador de centro ouvido pela reportagem, esse recorte contaminaria o encontro, reforçando caráter político. Para ele, Ratinho e Tarcísio querem evitar se vincular ao que é, no mínimo, uma polêmica. Essa leitura é compartilhada por um auxiliar de um dos governadores de direita que estará no encontro.

Tanto aliados de Lula quanto os de Castro criticaram o que chamam de politização da operação no Rio. No primeiro dia, os dois lados trocaram acusações e críticas.

O governador se queixou da falta de ajuda da União, mas não fez solicitação formal. Depois, recuou e, em reunião com integrantes da gestão Lula, anunciou na quarta (29) um gabinete conjunto com integrantes dos dois governos.